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Número de empresas com grau de investimento deve cair

O já reduzido número de empresas brasileiras com grau de investimento deverá encolher ainda mais em 2016


	Fitch: após dois rebaixamentos para junk da nota de crédito soberana e mais de 200 cortes em rating corporativos ao longo de 2015, o Brasil tem atualmente apenas 14 empresas com grau de investimento
 (Matt Lloyd/Bloomberg)

Fitch: após dois rebaixamentos para junk da nota de crédito soberana e mais de 200 cortes em rating corporativos ao longo de 2015, o Brasil tem atualmente apenas 14 empresas com grau de investimento (Matt Lloyd/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 4 de janeiro de 2016 às 20h00.

O já reduzido número de empresas brasileiras com grau de investimento deverá encolher ainda mais em 2016.

Após dois rebaixamentos para junk da nota de crédito soberana e mais de 200 cortes em ratings corporativos ao longo de 2015, a maior economia da América Latina tem atualmente apenas 14 empresas com grau de investimento.

Seis delas estão no patamar mais baixo dessa categoria e têm perspectiva negativa em suas classificações de risco, sinalizando que o grupo de tomadores de empréstimos que não são considerados grau especulativo em breve poderá encolher para um dígito.

As companhias que possuem as melhores notas são, em grande parte, empresas que obtêm a maior parcela de suas receitas no exterior, o que as isola, de certa forma, da recessão mais profunda do Brasil em 25 anos e da turbulência política que tem dificultado os esforços da presidente Dilma Rousseff para reforçar as contas fiscais. Entre as empresas que podem ser cortadas para a categoria junk estão aquelas mais dependentes da economia doméstica, como a construtora Odebrecht e a empresa petroquímica Braskem, ambas classificadas no nível mais baixo do grau de investimento com perspectiva negativa pela Fitch e pela Standard & Poor’s.

“Encontrar um emissor com grau de investimento do Brasil atualmente é raro”, disse Klaus Spielkamp, chefe de renda fixa da corretora Bulltick em Miami, que negocia bonds de empresas brasileiras desde 1993. “Vimos o Brasil se transformar em uma grande aposta especulativa neste ano que acabou. Poucos investidores de longo prazo estão olhando para os bonds do país atualmente”.

O custo médio das dívidas corporativas do Brasil, incluindo as de grau junk e de investimento, subiu 3,9 pontos percentuais em 2015, para 11 por cento, enquanto a maior economia da América Latina era atingida por crise atrás de crise. O rendimento está 1,6 ponto percentual acima do yield de emissoras com classificação junk de mercados emergentes de todo o mundo e representa mais de duas vezes a média para dívidas de grau de investimento de países em desenvolvimento, segundo índices do JPMorgan.

O ano muito ruim do Brasil resultou em 289 rebaixamentos de classificação corporativa no país no ano passado, maior total desde ao menos 2002, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Nem mesmo as empresas que mantiveram seus ratings de grau de investimento se saíram bem no mercado de bonds no ano passado. Apenas três das 14 proporcionaram ganhos aos detentores.

O total de US$ 2,25 bilhões em notas da Vale para 2022 registrou perda de 22 por cento no ano passado, superando a queda média de 15 por cento das empresas de metais e mineração de mercados emergentes. A empresa, que é a maior produtora de minério de ferro do mundo e a tomadora de empréstimos de grau de investimento mais produtiva do Brasil, foi pressionada pela queda dos preços do minério de ferro e pelo desastre ambiental em Minas Gerais.

A ruptura da barragem da Samarco, que guardava rejeitos de mineração, cobriu uma cidade de lama, deixando cerca de 20 pessoas mortas ou desaparecidas, e despejou dejetos tóxicos em um rio. Foi o maior desastre natural da história do Brasil e levou a Fitch a colocar a nota BBB da empresa em perspectiva negativa.

A Odebrecht, braço de construção do grupo Odebrecht, teve sua perspectiva reduzida pela Fitch e pela S&P depois que seu presidente foi preso sob a acusação de que fazia parte de um esquema de subornos para conseguir contratos com a Petrobras. Por meio de advogados, Marcelo Odebrecht negou qualquer irregularidade.

A Braskem também está vulnerável porque tem a Petrobras e a Odebrecht como acionistas controladoras e foi envolvida pela Operação Lava Jato, disse Spielkamp. A Petrobras já é classificada como junk pelas três maiores agências de classificação.

A assessoria de imprensa da Odebrecht disse que a fragilidade econômica do Brasil será compensada em 2016 pela diversificação geográfica da empresa, sendo que mais de 80 por cento de sua receita é obtida fora do país. A assessoria de imprensa da Braskem preferiu não comentar sobre a possibilidade de um rebaixamento em sua nota de crédito.

“Como a maioria das empresas não pode ter uma classificação melhor que a do país, os rebaixamentos na nota soberana provocaram repercussões na maioria das emissoras”, disse Patrik Kauffmann, que ajuda a gerenciar US$ 11,2 bilhões em ativos na Solitaire Aquila, de Zurique.

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