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Novo superciclo? Ganho de commodities não deve repetir boom dos anos 2000

Um exame mais minucioso mostra que as perspectivas para cada commodity são divergentes; petróleo pode ser mais prejudicado

Extração de Petróleo (Daniel Acker/Bloomberg)

Extração de Petróleo (Daniel Acker/Bloomberg)

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Beatriz Quesada

Publicado em 23 de fevereiro de 2021 às 14h57.

(Bloomberg) Com o salto dos preços das commodities, bancos de Wall Street se preparam para a chegada de um novo superciclo, mas a dinâmica sugere que não será uma repetição do boom liderado pela China no início do século.

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O cobre perto de novas máximas históricas, os mercados agrícolas em alta e os preços do petróleo nos níveis anteriores à Covid-19 alimentam o otimismo, enquanto as economias, impulsionadas por enormes estímulos, se recuperam após os lockdowns da oandemia. A teoria é que isso poderia ser apenas o início de um rali de vários anos alimentado pela demanda por matérias-primas em diversos setores.

Existem, porém, enigmas no centro das previsões de longo prazo. Por exemplo, a transição energética que anuncia uma nova era para metais verdes, como o cobre, seria apoiada no declínio de outra commodity importante: o petróleo.

E, à medida que investidores retornam para mercados como o cobre, antecipando um avanço da inflação puxado pelo crescimento econômico, autoridades de política monetária e economistas estão cada vez mais alertas às consequências do aumento dos preços dos alimentos e dos combustíveis.

Embora as definições variem, um superciclo é geralmente visto como um período sustentado de crescimento da demanda atipicamente forte e difícil de ser atendido por produtores, o que provoca uma alta dos preços que pode durar anos ou, em alguns casos, uma década ou mais.

Para alguns analistas, o amplo rali atual lembra o superciclo visto durante a ascensão da China no início dos anos 2000. Mas, em um exame mais minucioso, as perspectivas para cada commodity são divergentes. Embora possa levar uma década para mineradoras de cobre acessarem novos depósitos para atender à demanda, produtores de petróleo da Bacia Permiana ao Golfo Pérsico podem se mostrar mais ágeis, colocando em risco um rali de preços no longo prazo.

Já as commodities agrícolas são guiadas por sua própria dinâmica. A soja e o milho subiram para os maiores níveis dos últimos anos, impulsionadas pelas incessantes compras da China que recompõe o plantel de suínos após o surto de peste suína africana. Mas muito depende de quando as compras da China diminuirão.

Assim como no petróleo, a resposta da oferta agora é mais rápida. Com o desenvolvimento de sementes, agricultores melhoram a produtividade e as safras não são tão vulneráveis ao clima como antes.

O Departamento de Agricultura dos EUA já espera recorde da área plantada combinada de milho e soja neste ano, e executivos de algumas das maiores tradings de commodities agrícolas do mundo esperam que os ganhos durem mais um ou dois anos.

Mesmo os que estão universalmente otimistas em relação às commodities podem estar certos por enquanto, mesmo que este não seja um superciclo. Em última análise, a discussão de longo prazo pode ser apenas acadêmica, pois muitos investidores buscam oportunidades que existem aqui e agora.

Com a colaboração de Agnieszka de Sousa, Grant Smith e Isis Almeida

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