Natura: falta de desinvestimento internacional na Avon chama a atenção dos analistas (Divulgação)
Repórter de finanças
Publicado em 2 de julho de 2025 às 14h32.
Última atualização em 3 de julho de 2025 às 08h59.
Os ventos não estão a favor da Natura (NATU3) no primeiro dia de seu novo ticker, que marca também a reestruturação da companhia. A Natura Cosméticos incorporou a Natura &Co (NTCO3), mas o valor de mercado da empresa não mudou em razão disso — a não ser pela percepção ainda desconfiada dos investidores, que fez com que os papéis recuassem nessa estreia. O ativo fechou com queda de 5,65% a R$ 10,19.
Depois do Investor Day na companhia, na última segunda-feira, os analistas saíram com a sensação de que pouca coisa mudou na reestruturação e questões-chave que travam geração de valor não foram resolvidas.
“Embora tenha sido positivo ouvir o foco na marca core Natura, em suas capacidades de inovação e oportunidades de ganho de market share — além da ênfase da equipe em margens e geração de caixa — não consideramos o evento materialmente diferente das comunicações anteriores”, escreveu o Goldman Sachs.
Para o Citi, a falta de definição sobre o futuro da Avon Internacional continua sendo um dos principais obstáculos para o destravamento de valor. A operação da marca fora da América Latina saiu do chapter 11 em dezembro do ano passado e a Natura está em tratativas para vendê-las. Porém, não houve mudanças no status desse tema, de acordo com os executivos da companhia.
A expectativa é de que a Avon Internacional consuma menos caixa em 2025 do que em 2024, com a companhia executando um plano de reestruturação para alcançar neutralidade de caixa, aponta o BTG Pactual em relatório, citando o que foi falado no encontro com investidores. “Embora não tenha sido fornecido guidance sobre o cronograma de desinvestimento da Avon Internacional”, ressalva.
O S&P Global Ratings reafirmou. nesta quarta-feira, 2, a nota de crédito da Natura em “BB” e “brAAA” nas escalas mundial e local, respectivamente. A agência de classificação de risco mencionou a conclusão do processo de unificação societária, no qual a Natura &Co foi incorporada pela Natura Cosméticos, mas destacou que isso não teve impacto em sua avaliação da empresa.
A perspectiva estável, segundo a S&P, reflete a expectativa de uma recuperação gradual da rentabilidade, com a alavancagem permanecendo abaixo de duas vezes.
Não é de agora que o BTG Pactual tem mantido uma visão mais cautelosa sobre o caso de investimento da Natura. “De fato, a trajetória recente da companhia foi marcada por fortes oscilações, com mudanças relevantes em sua estrutura de capital e estratégia de expansão”, afirma.
Desde o rebaixamento da ação, o banco tem apontado de forma consistente, ao longo dos últimos três anos, que a empresa enfrentava dois grandes desafios: [grifar](i) alta alavancagem em um ambiente de juros elevados — questão que foi endereçada com os desinvestimentos da Aesop e da TBS — e (ii) dificuldades na virada da Avon (na América Latina).
Nos últimos trimestres, a companhia tem feito avanços relevantes no sentido de simplificar sua estrutura, e o BTG Pactual vê com bons olhos o potencial desinvestimento da Avon Internacional, que pode funcionar como um gatilho positivo para as ações.
Ainda assim, como a reestruturação segue em curso em várias frentes — com a segunda fase do programa Wave ainda sendo implementada nos principais mercados da América Latina —, o banco prefere manter uma postura cautelosa por ora, mesmo diante da expressiva queda acumulada pela NTCO3 no ano, de 12%.
Para o Goldman Sachs, os principais riscos de baixa para a Natura envolvem possíveis atrasos ou mudanças nas informações relacionadas à separação anunciada da Avon Internacional, além de desafios na implementação do Wave 2 nos mercados da América Latina fora do Brasil.
Também pesam no radar os riscos associados ao cenário macroeconômico da região como um todo e o aumento da concorrência no ambiente digital.
O banco americano mantém recomendação neutra para as ações com preço-alvo de 12 meses de R$ 13. Já para o BTG Pactual, a recomendação do papel é neutra, com preço-alvo de R$ 18 para os próximos 12 meses. O Citi também tem recomendação neutra e classifica o papel como de alto risco, com preço-alvo de R$ 11,80.
Já o Itaú BBA se destoa dos demais e mantém recomendação de compra para o papel, com preço-alvo de R$ 14.