Banco é o maior de capital aberto de Portugal (Marcel Salim/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 24 de fevereiro de 2012 às 09h20.
Nova York - Os papéis de dívida do BES Investimento do Brasil SA acumulam a maior alta entre as emissões externas de empresas brasileiras. O abrandamento da crise da dívida europeia vem reduzindo o receio que a subsidiária brasileira do maior banco de capital aberto de Portugal precise remeter lucros para a matriz.
O rendimento dos títulos denominados em dólar do BES Investimento com vencimento em 2015 caiu 287 pontos-base nos últimos seis meses, a maior queda entre papéis de empresas brasileiras, para 7,76 por cento, segundo dados compilados pela Bloomberg. O custo médio da dívida dos bancos de economias emergentes caiu 32 pontos-base, ou 0,32 ponto percentual, no mesmo período, para 5,34 por cento, segundo dados do JPMorgan Chase & Co.
O custo do seguro contra calote dos papéis do Banco Espírito Santo SA, sediado em Lisboa, caiu 176 pontos-base no mercado dos chamados swaps de crédito neste ano, com a oferta pelo Banco Central Europeu de recursos ilimitados por três anos para as instituições financeiras da região. O BES Investimento, cuja nota de crédito foi cortada cinco vezes desde abril, depois de rebaixamentos da matriz, respondeu por mais de 13 por cento do lucro de 137,8 milhões de euros do Banco Espírito Santo no terceiro trimestre de 2011, disse Ricardo Espírito Santo, presidente do BES Investimento, em entrevista no mês passado.
“Se os investidores finalmente dissociarem a subsidiária brasileira da matriz portuguesa, será positivo da perspectiva dos detentores de bônus”, disse Jansen Moura, analista de dívida corporativa da BCP Securities no Rio de Janeiro, em entrevista por telefone. “O BES Investimento continua a operar normalmente e não teve nenhuma diminuição do ritmo ou pagamento excessivos de dividendos, e isso é uma coisa boa para os credores.”
‘Muito Positiva’
Os bônus do BES Investimento pagam 653 pontos-base mais que os títulos do governo brasileiro de prazo similar. A diferença recorde, registrada em agosto, foi de 958 pontos, segundo dados compilados pela Bloomberg.
O BES Investimento teve sua classificação de risco reduzida por três vezes pela Standard & Poor’s e duas pela Moody’s Investors Service desde abril. Em 16 de fevereiro, a Standard & Poor’s rebaixou para BB- a nota de crédito do banco, três níveis abaixo do grau de investimento e quatro abaixo da classificação do governo brasileiro. O corte ocorreu após a S&P rebaixar as notas da matriz e do governo português. Na escala da Moody’s, o BES Investimento tem nota Ba2.
Um assessor de imprensa externo do BES Investimento em São Paulo se recusou a fazer comentários para esta reportagem. Em Lisboa, os porta-vozes do Banco Espírito Santo, Paulo Tomé e Paulo Padrão, não responderam e-mails solicitando comentários.
“O Brasil tem sido uma aposta muito positiva para nós”, disse Ricardo Espírito Santo em entrevista em 24 de janeiro. “Os resultados do banco em Portugal não foram brilhantes e, aqui no Brasil, conseguimos manter nossos lucros em 2011 ao redor do mesmo nível do ano anterior.”
Lucro global
O lucro global do Banco Espírito Santo caiu 66 por cento nos primeiros nove meses de 2011, em comparação com o mesmo período de 2010, diante do aumento de 88 por cento das provisões contra calotes.
A economia brasileira cresceu 2,7 por cento no ano passado, segundo o índice de atividade econômica do Banco Central. Em Portugal, a economia encolheu 1,5 por cento.
‘Bastante claras’
“As regras são bastante claras e todo mundo tem bastante certeza que as autoridades reguladoras vão dificultar a repatriação de capital, então não chega a ser uma preocupação” para os detentores dos títulos do BES Investimento, disse Bevan Rosenbloom, analista de dívida corporativa do Citigroup Inc., em entrevista por telefone de Nova York.
Vitor Garcia, analista de crédito da Standard & Poor’s em São Paulo, disse que os laços do BES Investimento com o Banco Espírito Santo podem prejudicar sua capacidade de captar recursos.
“Houve uma inversão do suporte e as matrizes mais fracas estão afetando as subsidiárias fortes”, disse Garcia em entrevista por telefone. “Nossas preocupações a respeito de financiamento e liquidez são contínuas.”
Os cortes nos ratings, que ajudaram no ano passado a elevar as taxas italianas e espanholas para os recordes de alta desde a introdução do euro, agora passaram a ter menos importância para os investidores. A mudança ocorreu após o BCE informar, em dezembro, operações de refinanciamento de prazo mais longo. Os papéis italianos deram o maior retorno do mundo desde o rebaixamento de sua nota em dois níveis.