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Natura chega a cair mais de 7% na bolsa após balanço: entenda o motivo

Empresa está na etapa final de combinação dos negócios entre Natura e Avon, mas ativos colocados à venda ainda pesam no balanço

Ação da Natura despenca após balanço (Imagem gerada por IA)

Ação da Natura despenca após balanço (Imagem gerada por IA)

Mitchel Diniz
Mitchel Diniz

Repórter de negócios e finanças

Publicado em 12 de agosto de 2025 às 13h28.

As ações da Natura (NATU3) operam na contramão do principal índice da bolsa brasileira. Enquanto o Ibovespa subia forte ao longo da manhã e início de tarde, os papéis da empresa de cosméticos chegaram a tombar mais de 7%, por volta das 12h30 (horário de Brasília). Na noite de ontem, a companhia divulgou seu primeiro balanço após a reestruturação, na qual a operação brasileira incorporou a holding, num movimento de simplificação de negócio com foco em mercados mais estratégicos, como México e Argentina. E apesar de ter revertido prejuízo na comparação com o ano passado, a linha final do balanço não foi o que mais chamou a atenção do investidor.

O resultado da empresa foi impactado pela reclassificação de um ativo considerado problemático pelo mercado. A Avon Internacional, assim como as operações com a marca na América Central e Republicana (CARD), apareceram nos resultados como operações descontinuadas à venda. Essa reclassificação, por sua, teve um efeito negativo de R$ 750 milhões na posição de caixa da Natura, contribuiu com consumo de caixa, que foi de R$ 1 bilhão no semestre e com o aumento da alavancagem para 2,18 vezes.

"O destaque negativo do trimestre, em nossa opinião, foi o consumo de caixa, novamente explicado pela Avon Internacional", diz relatório do Bradesco BBI/ Ágora. O ponto positivo, na visão dos analistas, é que a Natura parece ter um plano mais claro para venda do ativo. 

Em coletiva sobre os resultados, o CEO João Paulo Ferreira, afirmou que a reclassificação da Avon Internacional implica em “alta probabilidade desses ativos serem vendidos dentro dos próximos 12 meses”. "É uma absoluta prioridade para nós", disse o executivo.  

Silvia Vilas Boa, CFO da Natura, afirmou que a companhia "avalia toda as alternativas para o processo de venda, que pode ter formatos variados", ao ser questionada se os ativos seriam vendidos juntos ou separados.

A Avon que continua dentro da Natura também teve um desempenho que deixou a desejar. A receita da marca no Brasil caiu 13% ano a ano e a da Avon Hispana recuou 13,6%. A combinação de negócios  entre Natura e Avon, a chamada Onda 2, também cobrou seu preço nas linhas de despesas da companhia, como observou o Safra.

"As chamadas despesas não-recorrentes, relacionadas à reestruturação, impactaram os resultados por 23 trimestres seguidos e continuam pesado sobre os resultados", diz relatório do banco, apontando para impacto R$ 98,7 milhões no balanço (ante R$ 67,6 milhões no segundo trimestre de 2024).

De acordo com a Natura, a integração foi totalmente implementada no México em maio e em julho, na Argentina. A CFO que os custos de transformação, como é chamada essa despesa não recorrente, serão menores em 2025 do que foram em 2024."A gente encerra esta jornada este ano".

Os resultados da Natura no 2º trimestre

A Natura reportou lucro líquido consolidado de R$ 195,1 milhões no segundo trimestre de 2025. Assim, a companhia reverteu o prejuízo de R$ 122,7 milhões, registrado no mesmo período do ano passado. O número considera as operações da Avon fora da América Latina, classificados no balanço como "mantida para a venda".

Contando somente as operações continuadas na América Latina, o lucro foi de R$ 445 milhões, contra um prejuízo de R$ 872,8 milhões um ano antes.

O EBITDA reportado foi de R$ 675,1 milhões ante a cifra negativa de R$ 6,9 milhões de um ano antes. O recorrente, que desconsidera efeitos pontuais do período, fechou em R$ 795,6 bilhões.

A receita líquida da companhia foi de R$ 5,7 bilhões, o que representa uma queda anual de 1,7%. De acordo com a companhia, a estabilidade reflete o crescimento de dois dígitos da Natura Brasil (10,3%)  e o avanço da receita da marca Natura na Hispana (17,8%). Os avanços compensaram o  desempenho ainda fraco da marca Avon no Brasil (-12,9%) e a volatilidade prevista das operações da Avon e de Casa & Estilo na Hispana, em função da Onda 2 da integração das operações no México e dos preparativos na Argentina.

"Ainda há muito a fazer nesse segundo semestre do ano. O projeto Onda 2 se aproxima de sua conclusão, restando apenas as simplificações finais de sistemas para migrar a marca Avon para a estrutura de TI da Natura e finalizar a transferência da fábrica de Interlagos para Cajamar", diz mensagem da administração, que acompanha os resultados.

A margem bruta ficou levemente acima da registrada no segundo trimestre do ano passado, indo a 66,4% - menor, porém, que os 67,4% do primeiro trimestre deste ano. A linha foi impactada por um aumento de mais de 4% no custo de mercadoria vendida, que totalizou R$ 3,6 bilhões. O total de despesas operacionais da Natura, por sua vez, ficou praticamente estável (+0,2%) no segundo trimestre de 2025.

A dívida líquida foi de R$ 4 bilhões no trimestre e a alavancagem (medida pela relação dívida líquida e Ebitda) ficou em 2,18 vezes.

O fluxo de caixa livre das operações continuadas ficou negativo em  R$ 9 milhões no primeiro semestre do ano, em comparação com a cifra no vermelho de R$ 1,2 bilhão registrada um ano antes.

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