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Na JBS, os medos se confirmam?

Operação Greenfield mira JBS e expõe risco de governança na empresa

Wesley Batista: à frente das negociações para vender empresas e reestruturar dívidas do grupo J&F (Divulgação/Exame)

Wesley Batista: à frente das negociações para vender empresas e reestruturar dívidas do grupo J&F (Divulgação/Exame)

GK

Gian Kojikovski

Publicado em 5 de setembro de 2016 às 17h23.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 17h56.

A Operação Greenfield, deflagrada nesta segunda-feira pela Polícia Federal, atingiu como um direto o grupo J&F, dono do frigorífico JBS. A PF expediu mandado de condução coercitiva contra os irmãos e sócios da empresa Wesley e Joesley Batista, para prestar esclarecimentos sobre uma participação em desvios que podem chegar a 50 bilhões de reais dos quatro maiores fundos de pensão do Brasil. A parte que implica a J&F vem por meio da Eldorado Brasil, controlada pelos irmãos, e que tem no quadro de sócios os fundos Petros e Funcef. Outras 38 pessoas foram envolvidas na operação, entre elas o empresário Walter Torre Jr., dono da construtora WTorre, e ex-dirigentes dos fundos de pensão.

O efeito sobre as ações da JBS foi imediato. Os papeis caíram 8,3% até as 17h desta segunda-feira, o equivalente a mais de 2,5 bilhões de reais. A fuga dos investidores tem dois motivos. Primeiro, o impacto direto nas operações. Os dois principais sócios da companhia, os irmãos Joesley e Wesley, foram afastados de seus cargos por ordem do juiz Vallisney de Souza Oliveira. Numa medida mais extrema, poderiam até ter sido presos. Com a notícia de seu afastamento, às 16h, a queda das ações se intensificou até o fechamento do pregão.

O outro motivo tem a ver com a psique do mercado. A condução de Wesley parece concretizar um dos maiores receios dos investidores da companhia. A JBS tem um longo histórico de relacionamento com o governo que, de dois anos para cá, vem originando polêmicas. O frigorífico recebeu 4,7 bilhões de reais do BNDES entre 2008 e 2013, segundo levantamento feito pela ONG Contas Abertas. A JBS ainda foi citada na Lava-Jato em dezembro de 2014, acusada de depósitos de 400.000 reais para empresas ligadas ao doleiro Carlos Habib Chater e outros 200.000 reais na conta de uma empresa do ex-deputado federal André Vargas, do PT, por serviços de consultoria de marketing. Vargas está preso por envolvimento com a Lava-Jato.

A JBS aparece ainda entre as possíveis beneficiadas no esquema de venda de sentenças do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) para abater 277 milhões de reais em multas e a própria Eldorado é acusada de se beneficiar de recursos do FI-FGTS após influência do ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal, Fábio Cleto, a pedido de Eduardo Cunha. A propina teria sido dividida entre eles e Lúcio Funaro — Cleto diz em delação premiada que a empresa pagou somente a ele 680.000 reais em propinas, autorizadas por Joesley Batista.

As confusões com dinheiro federal criaram também certa associação de desconfiança com a relação dos Batista com governos do PT. No dia em que Michel Temer assumiu a presidência interinamente, em maio, as ações da JBS, que até então tinham queda de 28% no ano, subiram 21%. Acompanhou a alta o fato de a companhia anunciar, na noite anterior, que vai transferir seus negócios no exterior e a Seara Alimentos, que no ano passado foram responsáveis por cerca de 80% do faturamento do grupo, para uma nova empresa com sede na Irlanda e capital aberto na Bolsa de Valores de Nova York.

Um medo que se confirma 

Essa desconfiança com a família que administra a J&F e possíveis brechas na governança corporativa fazem com que, na bolsa, a empresa valha muito menos do que concorrentes de porte menor, como a BRF, dona de Perdigão e Sadia. A JBS tem resultados invejáveis. Em 2015, a receita foi de 162 bilhões de reais e o lucro líquido de 4,6 bilhões. O valor de mercado, por sua vez, é de 34 bilhões. A concorrente BRF teve receita de 32 bilhões de reais e lucro líquido de 3,1 bilhões. Sua capitalização no mercado é de 44 bilhões, 10 bilhões a mais (veja gráfico).

“Os resultados operacionais foram satisfatórios, mas, por outro lado, há a um risco de governança que deixa o ativo mais barato”, afirma Roberto Indech, analista de mercado da consultoria Rico. “Esse problema tem relação direta no preço. Assim como acontece com estatais, caso do Banco do Brasil e da Petrobras, o emprego de risco faz com que os múltiplos sejam bem mais baratos que os de concorrentes com ação em bolsa”. Com a queda de 8% nesta segunda-feira, a discrepância ficou ainda maior.

Em nota, a J&F disse que “os investimentos feitos pela Petros e Funcef na Eldorado foram de 550 milhões de reais no ano de 2009. De acordo com último laudo independente (Deloitte) emitido em dezembro de 2015, a participação dos fundos atualizada é de 3 bilhões de reais, ou seja 6 vezes o valor investido inicialmente. A J&F e seus executivos esclarecem que colaboram com as investigações e estão à disposição das autoridades para prestar todos os esclarecimentos necessários”. Novos capítulos não devem demorar.

http://infogr.am/5836d3f0-8c24-49db-b80c-52fa23d0a590

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