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Na Europa, nem US$ 1 tri salvariam o pior mercado de IPOs da década

Investidores e empresas continuam traumatizados com a repentina e arrepiante queda forte registrada no fim do ano passado

IPO: quem lança um IPO não quer fazê-lo em meio a incertezas (Dario Pignatelli/Bloomberg)

IPO: quem lança um IPO não quer fazê-lo em meio a incertezas (Dario Pignatelli/Bloomberg)

Karla Mamona

Karla Mamona

Publicado em 24 de março de 2019 às 08h00.

Última atualização em 24 de março de 2019 às 08h00.

(Bloomberg) -- Se você tinha dúvidas de que falta força no rali de ações no novo ano, dê uma olhada no mercado europeu de aberturas de capital.

O Stoxx Europe 600 Index somou mais de US$ 1 trilhão em valor desde as mínimas de dezembro, mas as empresas continuam relutando em levar aberturas de capital adiante nas bolsas europeias. Elas anunciaram 490 milhões de euros (US$ 554 milhões) em IPOs na Europa Ocidental em 2019, segundo dados compilados pela Bloomberg, 94 por cento menos que no mesmo período do ano passado, configurando o pior começo de ano desde a crise financeira de 2009.

Investidores e empresas continuam traumatizados com a repentina e arrepiante queda forte registrada no fim do ano passado, que paralisou os negócios com ações e deixou os investidores cambaleando. Muitos preferem ficar de fora da recuperação de 12 por cento das ações europeias neste ano por acreditarem que o bull market perderá força nos próximos meses.

O aviso mais recente partiu da Volkswagen, que nesta semana citou condições de mercado ruins ao cancelar a venda de ações da divisão de caminhões Traton, que teria sido a maior IPO da Europa neste ano. Sim, o setor automotivo enfrenta fortes ventos contrários devido à preocupação com a guerra comercial e com a queda da demanda, mas, além disso, o Brexit e a desaceleração econômica da Europa a transformam em um mercado difícil para a venda de ações na maioria dos setores.

“Quem lança um IPO não quer fazê-lo em meio a incertezas”, disse Chris Hiorns, gerente de fundos da EdenTree Investment Management, que administra cerca de US$ 3 bilhões. “Todos esperam uma resolução para as tensões geopolíticas e para o Brexit. Nós vimos um rali de ações neste ano, mas o ritmo é fraco, sem convicção.”

Um problema enfrentado pela Volkswagen, segundo Edward Park, vice-diretor de investimentos da Brooks Macdonald Asset Management em Londres, é que mesmo que EUA e China cheguem a um acordo comercial que alivie as preocupações com a demanda, os EUA podem aplicar tarifas às fabricantes de automóveis europeias.

“Este não é um problema de mercado, é mais uma questão do setor”, disse Park. “Com a ampla melhora das condições de mercado desde dezembro, as empresas europeias estão de olho em IPOs em 2019; no entanto, com as pressões atuais sobre o setor automotivo, as avaliações estão sentindo o efeito.”

É verdade que o começo de ano está mais lento também para as IPOs nos EUA por causa da paralisação do governo. Mas o tamanho das ofertas realizadas nos EUA pode deixar a Europa chorando em um canto: entre os atuais candidatos a realizar IPOs do outro lado do Atlântico estão a Lyft e a Uber Technologies, provavelmente duas das maiores ofertas do ano. A Lyft busca uma avaliação de mercado de até US$ 25 bilhões, disse uma pessoa familiarizada com o assunto no mês passado.

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