Argentina: segundo Itaú BBA, ativos devem serguir voláteis até eleições de outubro (Stockbyte/Getty Images)
Repórter de finanças
Publicado em 9 de setembro de 2025 às 17h35.
O principal índice do mercado de ações da Argentina operou volátil nesta terça-feira, 9, depois de tombar 13,25% na véspera. Após alta moderada, o índice virou e fechou em queda de 0,26%. Os movimentos sucedem o resultado da eleição do último domingo na capital argentina, que deu vitória, com folga, aos opositores de Milei.
Buenos Aires concentra 38% dos eleitores do país e maioria que escolheu o partido de Axel Kicillof, do peronismo de centro-esquerda, joga dúvidas sobre uma eleição que vai ocorrer em outubro, para eleger deputados e senadores. O sobe e desce do mercado ilustra bem a previsão do Itaú BBA para o mercado argentino para a próxima votação.
“Os preços dos ativos permanecem atraentes, mas a volatilidade dominará até o final de outubro”, escreve o Itaú BBA em relatório.
A surpresa de domingo reacendeu as incertezas em torno da continuidade das políticas pró-mercado e da capacidade do governo de reverter a tendência nas eleições legislativas nacionais de 26 de outubro.
“Após os resultados muito piores do que o esperado para o partido governista, autoridades reconheceram a necessidade de ajustes. Ainda não está claro se esses ajustes envolverão uma reorganização da equipe política, a formação de novas alianças ou uma recalibração da narrativa eleitoral.”
Já a oposição tem poucos incentivos para mudar de curso.
Apesar de relevante, segundo o BBA, o voto em Buenos Aires não é tudo. “Ainda assim, o impulso político que ela gera provavelmente moldará a narrativa, o sentimento dos investidores e a precificação dos ativos até outubro”, diz.
Diante do resultado, a reação inicial do governo foi minimizar seu impacto, reconhecer erros, reafirmar o plano em andamento e defender que os 37% obtidos pela LLA representam apenas o seu “piso nacional’.
O mercado não está visualizando da mesma forma que Milei. Após a vitória inesperada do Partido Justicialista nas eleições da província de Buenos Aires, o Morgan Stanley retirou sua recomendação de compra para ativos argentinos.
Na avaliação do banco, o cenário para a Argentina torna-se agora mais desafiador, justamente por conta dos riscos à continuidade das reformas propostas pelo governo Milei e dúvidas sobre a capacidade de acesso a financiamento externo. A consequência esperada é uma queda nos retornos dos títulos soberanos.
Na outra ponta, se Milei for capaz de avançar com suas reformas em 2026, diz o Morgan Stanley em outro relatório, publicado antes das eleições de domingo, a Argentina poderia voltar a ser reconhecida como emergente pela MSCI, a gigante global de índices de mercado.
Controles de capital e acesso limitado deixam o país de fora do MSCI Emerging Market Index, que os gestores globais costumam ter como referência para tomar suas decisões.
Uma pesquisa do Bank of America (BofA) feita em julho passado, junto a 30 gestores de fundos da América Latina, com US$ 63 bilhões sob gestão, mostra os entrevistados divididos entre otimismo sobre evolução dos ativos argentinos até o final do ano e um posicionamento neutra.
Mas o levantamento, último disponibilizado pelo banco americano até então, foi realizado antes da votação em Buenos Aires.
O equilíbrio entre juros, câmbio e atividade econômica segue sob pressão. As taxas reais de curto prazo próximas de 40% e os yields dos títulos públicos atrelados à inflação em torno de 20% refletem a forte restrição monetária, e os indicadores econômicos mensais sugerem desaceleração contínua.
Arrogância política, câmbio, fadiga de reformas: a anatomia da derrota de Milei em Buenos Aires“Sem uma melhora no sentimento, o atual caminho de política será cada vez mais difícil de sustentar. As avaliações de mercado são atraentes, mas o risco político domina”, pontua o BBA.
Grandes nomes do setor financeiro, como Grupo Financiero Galicia, Banco Macro e BBVA, estão sendo negociados a apenas 0,8 vezes a 0,9 vezes preço/valor patrimonial e cerca de 3 vezes preço/lucro para 2026, níveis bastante descontados mesmo considerando possíveis revisões para baixo.
No setor de energia, YPF e Vista negociam abaixo de 3 vezes EV/EBITDA para 2025, patamares normalmente ligados a crises, e não aos fundamentos atuais.
Na prática, investidores monitoram de perto os sinais do governo — tanto políticos quanto econômicos — para tentar recuperar a confiança, os yields do leilão do Tesouro desta semana e o comportamento do câmbio, especialmente com a presença oficial no mercado futuro.
“O caminho à frente continua aberto para um desfecho pró-mercado. Em outubro, os eleitores decidirão se apoiam ou não a disciplina fiscal como âncora para a economia. No entanto, esperamos que o caminho até lá seja turbulento, com a volatilidade dominando a narrativa”, conclui o banco.
A mais recente turbulência política no país vizinho coincide com a chegada de investimentos em Argentina para pessoa física no Brasil.
*Colaborou Mitchel Diniz