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Empresa centenária já pagou R$ 20 em dividendo por ação — e agora está de saída da B3

Monteiro Aranha tem participações minoritárias na Klabin e Ultrapar; oferta de aquisição fez ação despencar quase 30%

B3: pregão em São Paulo reflete dia de liquidez reduzida com feriado nos EUA e indicadores no radar (Gustavo Scatena/B3/Divulgação)

B3: pregão em São Paulo reflete dia de liquidez reduzida com feriado nos EUA e indicadores no radar (Gustavo Scatena/B3/Divulgação)

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 3 de outubro de 2025 às 06h00.

Última atualização em 3 de outubro de 2025 às 06h25.

A centenária Monteiro Aranha (MOAR3), uma das holdings mais tradicionais do mercado brasileiro, está prestes a encerrar sua trajetória na bolsa brasileira.

Os controladores, a Sociedade Técnica Monteiro Aranha (STMA) e Newton Participações, protocolaram junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e à B3, o registro de uma oferta pública de aquisição de ações (OPA) para cancelamento de registro de companhia aberta.

O que faz a Monteiro Aranha?

A empresa é considerada uma das mais tradicionais do Rio de Janeiro.

No início de 1913, os fundadores estiveram na inauguração do Canal do Panamá, onde conheceram um dos donos da Owens Illinois, que lhes ofereceu uma máquina automática para produção de vidros. De volta ao Rio, adquiriram uma antiga fábrica de vidro por sopro no bairro do Jacarezinho, dando início a Cisper.

Com clientes como Brahma e Antarctica comprando antecipadamente a produção, o negócio foi um sucesso. Nos anos 1930, a fábrica rendia US$ 1 milhão líquidos por ano — uma fortuna para a época.

No início dos anos 1950, a Owens adquiriu 80% da Cisper, e a Monteiro Aranha iniciou um movimento ousado de diversificação, investindo na Volkswagen, a primeira montadora a se instalar no Brasil.

A presença no setor de papel e celulose se consolidou nos anos 1930, quando a holding se associou à família Klabin para criar as Indústrias Klabin de Papel e Celulose (KLBN11). Já na petroquímica, a entrada ocorreu nos anos 1970, com a fundação da Petroquímica União (PQU-SP). Posteriormente, o grupo vendeu essa posição para ingressar na Oxiteno (BA), companhia que seria incorporada pela Ultrapar (UGPA3) em 2002.

Atualmente, a holding ainda mantém participações minoritárias na Klabin e na Ultrapar, além de grandes investimentos imobiliários e de infraestrutura.

Apesar da relevância histórica, a companhia tem baixa liquidez em Bolsa e presença restrita a investidores de longo prazo, características comuns em holdings de controle familiar.

Caminho para fechamento de capital

O debate sobre um possível fechamento de capital da Monteiro Aranha não é novo e vem se desenhando ao longo dos anos.

Em 2020, a Bradesco Seguros vendeu sua participação de 12,7% na holding — avaliada em cerca de R$ 2 bilhões, mas com liquidez mínima na B3.

Para viabilizar a transação, o grupo de controle, formado por membros das famílias fundadoras, comprou imóveis da própria holding por R$ 132 milhões e os utilizou na permuta pela fatia da seguradora. Com o movimento, o bloco controlador passou a deter 87% da Monteiro Aranha, reforçando o caminho para um futuro fechamento de capital.

A operação foi contestada por minoritários à época. A Associação Brasileira de Investidores (Abradin) questionou a negociação tanto na CVM quanto na Susep, alegando que os imóveis recebidos pela Bradesco Seguros valeriam menos do que a participação na companhia, o que teria prejudicado segurados e demais acionistas.

Dividendos gordos

A OPA chega pouco tempo depois ter realizado uma distribuição relevante aos acionistas. No início do ano, a Monteiro Aranha chamou a atenção dos investidores ao pagar dividendos no valor de R$ 20,40 por ação, totalizando uma distribuição de proventos de R$ 250 milhões.

Vale lembrar, no entanto, que à época do pagamento os papéis da empresa eram negociados a cerca de R$ 420, patamar muito superior tanto ao preço de mercado atual quanto ao valor proposto na OPA — R$ 75. Na sessão desta quinta-feira, 2, o papel sofreu uma queda de 28,33%, com o anúncio da operação, a R$ 86.

Condições controversas

A oferta prevê a aquisição de até 1,8 milhão de ações ordinárias de emissão da Monteiro Aranha, que correspondem a totalidade dos papéis em circulação, ao preço de R$ 75,00, o que representa um deságio de 60% frente a cotação de fechamento da última terça-feira (30) de R$ 120,00.

No entanto, a avaliação que embasa a operação traz uma leitura distinta. Segundo laudo da Apsis Consultoria, contratada pelos ofertantes, o preço justo para ação da Monteiro Aranha seria de R$ 40,97. Ou seja, em relação a esse parâmetro, a OPA embute, na verdade, um prêmio de 83%.

Essa discrepância entre o valor de tela e o laudo pode gerar discussões intensas com os poucos investidores minoritários que a empresa tem e órgãos reguladores.

O que esperar daqui para frente

O processo de OPA ainda depende de análise e aprovação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Caso seja aprovado, abre-se a janela para que minoritários aceitem ou recusem a oferta.

Para investidores, a saída da Monteiro Aranha da B3 representa o fim de uma das histórias mais tradicionais da Bolsa brasileira — e reforça o debate sobre a governança em operações de fechamento de capital no país.

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