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Montanha-russa? Por que as ações são mais voláteis após o IPO?

Movimentos bruscos não estão presentes apenas nas estreias e guardam relação com menor volume de negociação; analistas alertam para riscos envolvidos

ClearSale: ações estrearam em forte alta na sexta-feira, 30 | Foto: Cauê Diniz/B3/Divulgação (Cauê Diniz/Divulgação)

ClearSale: ações estrearam em forte alta na sexta-feira, 30 | Foto: Cauê Diniz/B3/Divulgação (Cauê Diniz/Divulgação)

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Guilherme Guilherme

Publicado em 31 de julho de 2021 às 10h23.

Última atualização em 1 de agosto de 2021 às 18h46.

O investidor brasileiro ganhou sete novas ações para investir apenas nesta semana que passou. Em comum, todas elas tiveram estreias de alta volatilidade, ou seja, de fortes oscilações nas cotações. As ações de TC (TRAD3), Armac (ARML3) e ClearSale (CLSA3) chegaram a superar 20% de alta, enquanto a AgroGalaxy (AGXY3) caiu mais de 30%. A Brisanet (BRIT3), que encerrou o pregão de estreia praticamente estável, chegou a cair mais de 9% na negociação intradiária. 

Parte da alta volatilidade do primeiro dia de negociação pode se dar por causa de uma demanda mais forte do que na oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) em si. Nesses casos, os investidores ficam com apenas uma parcela das ações que gostariam de comprar e só conseguem aumentar a sua exposição quando começam a ser negociadas.

Isso foi o que ocorreu com as ações da Smart Fit (SMFT3) há duas semanas. Com demanda equivalente a 20 vezes a oferta no IPO, as ações da rede de academias dispararam 35% na estreia. Apesar da tentação em aproveitar o movimento de alta, Fernando Ferrer, analista da Empiricus, pontua que entrar logo depois da estreia pode ser arriscado devido a possíveis movimentos exagerados no primeiro dia de negociação. 

“Quem comprou Smart Fit na estreia pagou 30% mais caro do que quem entrou antes. E quem comprou no IPO não conseguiu grandes ganhos porque só conseguiram alocar uma parte pequena do capital [em relação à ordem cheia]”, comenta. Desde então, os papéis acumulam 11% de queda.

Mas os movimentos bruscos não se restringem ao primeiro dia de negociação. Mesmo dois meses após abrir capital na bolsa, as ações da GetNinjas (NINJ3) ainda apresentam ampla volatilidade, que, guardadas as necessárias ressalvas de serem situações completamente diferentes, lembram o sobe-e-desce de empresas em recuperação judicial. 

De acordo com dados da B3, em julho, os papéis da companhia que tem uma plataforma digital de serviços tiveram volatilidade histórica anualizada de 81,35%. As ações da Fertilizantes Heringer (FHER3), que chegaram a subir 1.000% no ano antes de caírem 50% em meio a movimentos especulativos, tiveram volatilidade de 81,74%. A volatilidade das ações da Dotz (DOTZ3), que começaram a ser negociadas em maio, foi um pouco menor, de 79,94%. 

Como base de comparação, as ações das companhias aéreas GOL (GOLL4) e Azul (AZUL4), conhecidas por estarem entre as mais voláteis do Ibovespa, tiveram volatilidade de cerca de 35%, enquanto a do Ibovespa ficou em 16,19%.

Henrique Castro, professor e pesquisador de finanças da FGV, explica que ações de empresas que recentemente abriram capital tendem a ser ainda mais voláteis quando a janela de IPOs está quente. 

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“Isso acontece porque, como várias empresas tentam surfar a onda de otimismo, fica mais difícil para o mercado fazer a precificação correta. Por essa razão, os IPOs tendem a sair a preços um pouco mais altos. Só que depois tem o ajuste, que acaba fazendo com que a volatilidade aumente”, explica. 

  • Com liquidez abundante e novos investidores chegando à bolsa, o tempo se torna o recurso mais escasso. “O maior número de IPOs não foi acompanhado de uma capacidade de cobertura dessas empresas”, diz o analista Ferrer.

O baixo conhecimento sobre as empresas, afirma o analista, pode acarretar menores volumes de negociação, fazendo com que operações relativamente pequenas proporcionem grandes variações de preços. 

No pregão da última sexta-feira, 30, a Vale (VALE3), empresa com maior volume de negociação da B3, movimentou quase 4,5 bilhões de reais, enquanto ações de empresas que entraram na bolsa neste ano, como Mobly (MBLY3), Westwing (WEST3), AgroGalaxy, GetNinjas e Dotz, tiveram volume de negociação inferior a 10 milhões de reais. No mês, os papéis dessas cinco companhias tiveram volatilidade anualizada superior a 45%, ante volatilidade de 21,5% da Vale.

Por outro lado, empresas que fizeram IPOs com maior volume movimentado tendem a ser mais negociadas e, consequentemente, ter menor volatilidade. Com a maior oferta pública inicial do ano passado, a Rede D'Or (RDOR3), por exemplo, movimentou 230 milhões de reais no último pregão. Sua volatilidade anualizada de julho foi de 30%. 

Mas volatilidade nem sempre significa algo negativo. As ações da Méliuz (CASH3), por exemplo, terminaram julho com volatilidade anualizada de 61%, mas com valorização de 37%. Desde seu IPO, em novembro do ano passado, as ações da companhia acumulam alta de 670%, mesmo fechando em queda no seu mês de estreia.

“A ação não tinha cobertura. Ninguém conseguia acompanhar de fato o que ela fazia. Hoje, com os primeiros resultados surpreendendo as estimativas, o mercado já dá o benefício da dúvida para a Méliuz”, diz Ferrer.

“Mas empresas que apresentam planos de crescimento muito forte e não entregam são penalizadas.” Esse, por exemplo, seria o caso da Mobly, segundo o analista. Desde o IPO em fevereiro, as ações acumulam perdas de 33,8%.

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