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Minerva: abatida com 'tarifaço' de Trump, ação chegou a cair 10%, mas se recuperou

Marfrig e BRF também caem forte, enquanto JBS, menos exposta à guerra comercial, sobe em Nova York

A Minerva tem 16% de suas vendas direcionadas ao mercado americano, é uma das mais expostas ao impacto dessa medida. (Getty Images)

A Minerva tem 16% de suas vendas direcionadas ao mercado americano, é uma das mais expostas ao impacto dessa medida. (Getty Images)

Juliana Alves
Juliana Alves

Repórter de mercados

Publicado em 10 de julho de 2025 às 17h46.

Última atualização em 10 de julho de 2025 às 17h59.

As ações da Minerva (BEEF3) ficaram entre as maiores baixas do Ibovespa durante um bom tempo nesta quinta-feira, 10. Os papéis chegaram a recuar quase 10% ao longo do dia, mas reduziu perdas e fechou em queda de 1,28%. A companhia foi objeto de análise dos bancos e analistas de ações, que a apontam como a mais afetada do setor frigorífico pela recente tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

A Minerva informou nesta quinta-feira, 10, que 16% de suas vendas são direcionadas ao mercado americano e que a tarifa de Trump deve ter um impacto máximo de 5% na sua receita.

A tarifa, prevista para entrar em vigor no dia 1º de agosto, foi oficializada ontem à noite em um carta do republicado direcionada ao presidente Lula, citando decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) relacionadas a empresas de mídia dos EUA no Brasil. A nova medida eleva significativamente a tarifa inicial de 10% sobre o Brasil, anunciada em abril, no chamado "Liberation Day".

Impacto no setor de carne bovina

Embora o impacto sobre o setor de carne bovina brasileira seja moderado — já que apenas 8% das exportações brasileiras de carne vão para os Estados Unidos —, a Minerva tem forte presença nesse mercado e deve sentir mais os efeitos da medida. A carne bovina brasileira acessa o mercado americano por meio de quotas tarifárias, com uma tarifa fixa de 4,4 centavos por quilo dentro da quota de 65.005 toneladas. Volumes acima desse limite estão sujeitos a uma tarifa de frete de 26,4%. O Brasil já preencheu integralmente a quota de 2025 nas primeiras semanas do ano.

De acordo com analistas da XP, a Minerva gerou aproximadamente 15% de suas receitas brutas dos últimos 12 meses com exportações para os EUA. Apesar de o impacto real na receita de exportação estar previsto entre 8% e 15%, a empresa, como alternativa, poderá redirecionar volumes para outros mercados, mas isso deve ocorrer a um custo maior nas margens. A diferença de preços entre os mercados importadores é moderada, com o preço médio de exportação do Brasil para os EUA em junho sendo de US$ 5,6 mil por tonelada, ante US$ 5.494 por tonelada para a China e US$ 5.357 por tonelada para outros mercados. Os Estados Unidos, por sua vez, importam cortes de menor valor, como beef trimmings, com preços geralmente inferiores e que podem vir a ficar mais altos com as tarifas.

No entanto, isso provavelmente não seria suficiente para compensar integralmente a possível queda de volumes, segundo os analistas da corretora.

Riscos cambiais e de juros

A depreciação do real, que chegou a ultrapassar a marca de R$ 5,60, pode ajudar a mitigar os impactos das tarifas para algumas empresas, como a Minerva, segundo analistas do Goldman Sachs, que estimam que 18% das vendas da companhia são voltadas para o mercado dos Estados Unidos. Sua estrutura de custos e origem das vendas são mais sensíveis às variações cambiais, e a desvalorização da moeda pode, de certa forma, compensar a perda de volume de vendas. No entanto, a alta das taxas de juro no Brasil, com a Selic elevada por mais tempo, pode representar um risco adicional para empresas como a Minerva e a Marfrig (MRFG3), que têm uma estrutura de capital mais alavancada e dependem de uma gestão eficaz das dívidas para garantir fluxo de caixa.

Por outro lado, empresas como a JBS (JBSS32), que têm apenas 4% de suas vendas direcionadas aos EUA, estão mais protegidas. Com uma plataforma de operação diversificada, a JBS cobre uma ampla gama de produtos, marcas e destinos, tornando-se menos vulnerável aos efeitos de políticas comerciais específicas.

As ações da JBS, listadas em Nova York, fecharam em alta de 2,78%. De volta ao Brasil, os papéis dos outros frigoríficos tiveram um viés, com BRF (BRFS3) fechando em alta de 2,22% e Marfrig (MRFG), que chegou a cair mais de 3%, foi das maiores baixas à principal alta do Ibovespa, fechando com ganhos de 6,38%.

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