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Métodos de investimento sofisticados complicam mercados

Especialistas reclamam que operações como o "flash trading" não têm regras claras e tornam mais difícil entender o que acontece nas bolsas

As operações permitem movimentar grandes somas com rapidez (Spencer Platt/ Getty Images)

As operações permitem movimentar grandes somas com rapidez (Spencer Platt/ Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 18 de agosto de 2011 às 19h20.

Paris - As bolsas estão vivendo um agosto de altas e baixas bruscas e desconcertantes em poucos minutos, provocadas por operações como o "flash trading" (transações relâmpago) que jogam com somas colossais de dinheiro e diferenças de valor em milésimos de segundo.

Esta situação difícil, que lembra a crise financeira de 2008, é consequência das incertezas sobre a economia mundial, mas foi exacerbada por fatores puramente técnicos e financeiros.

"Vivemos fases no início de agosto com movimentos bruscos, que não davam lugar à reflexão", resume Jean-Louis Mourier, economista da Aurel BGC.

O volume de transações subiu, devido ao uso de novas técnicas de investimento como o "trading de alta frequência" ou o "flash trading", que controlam enormes somas de dinheiro.

O "trading de alta frequência" permite comprar ou vender títulos em massa em tempo recorde, aproveitando as decisões do mercado graças a complexos processos de informática.

Segundo várias fontes, essa técnica representa mais da metade das trocas nos mercados americanos e um terço na Europa.

O "flash trading", por sua vez, permite a certos operadores ter acesso a ordens de compra e venda de ações alguns milésimos de segundo antes que outros investidores.

Por definição, explica Mourier, estas técnicas "não correspondem aos fundamentos" da economia: são muito obscuras e permitem obter ganhos com muita rapidez, o que torna muito difícil saber quem atua.

Estes métodos ainda não foram legalmente regulados, apesar de os reguladores dos mercados de ações os terem na mira, existindo também maneiras de interferir nessas operações.

As práticas se somam a outras que já existiam, muito apreciadas pelos investidores, como a venda a descoberto, que vários países europeus acabam de limitar.


A venda a descoberto é um mecanismo financeiro no qual um operador pede emprestado uma ação e a vende com a esperança de que o preço caia. Se isso ocorrer, ele a compra de volta para pagar sua dívida e embolsa o lucro.

Em uma variação dessa técnica, a "naked short selling", o operador vende um título inclusive antes de tomá-lo emprestado. Mais adiante, o adquire no mercado a um preço muito baixo e o entrega a seu comprador inicial, ficando com a diferença caso o título tenha se desvalorizado.

Essas técnicas agravaram a situação nos mercados em agosto, pois muitos investidores estão de férias pelo verão no Hemisfério Norte e as decisões de compra ou venda que são tomadas pelos escassos atores nas bolsas têm um impacto maior.

Além disso, é possível utilizar programas de informática que ativem de forma automática ordens de compra e de venda caso um índice de ações superar ou cair acima ou abaixo de algum patamar pré-estabelecido.

Um operador parisiense que pede para não ser identificado assegura que nenhuma das técnicas é totalmente autônoma, porque "os computadores atuam em relação ao cenário econômico criado pelo homem".

Mourier sustenta que "o exagero é inerente ao movimento do mercado", e afirma que a pronunciada alta das bolsas entre 2002 e 2007 foi muito mais forte que o crescimento da economia mundial durante esse período.

As praças são, portanto, um reflexo que deforma a realidade no curto prazo; mas não estão de todo desvinculadas da economia, já que a cotação das ações continua sendo um indicador do valor de uma empresa.

"É como um termômetro, apesar de ter todos os defeitos do mundo", afirma Jean-Paul Pierret, diretor estratégico da Dexia Securities.

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