(Germano Lüders/Exame)
Redação Exame
Publicado em 24 de setembro de 2025 às 06h00.
Cinco anos após o impacto da Covid-19 nas economias e nos mercados globais, o Ibovespa, principal índice acionário da bolsa brasileira, segue renovando recordes quase que diariamente. Mas ainda há muitas empresas listadas na B3 que ainda não se recuperaram do baque da pandemia.
De acordo com levantamento da Elos Ayta Consultoria, até o fechamento da última setxa-feira (19), metade das 234 empresas negociadas na B3 são negociadas abaixo do valor que tinham em 21 de fevereiro de 2020. Ou seja, não voltaram ao patamar pré-pandêmico.
E a situação de algumas delas é pior, já que praticamente apagaram todo o valor de mercado que tinham e não conseguiram se recuperar.
A maior baixa foi da Americanas (AMER3), antigamente considerada uma fortaleza no varejo, com uma queda de 99,89% desde a pandemia, segundo o estudo. Contando com uma rede de lojas bem estabelecida, a companhia parecia ter conseguido atravessar os desafios impostos pelas medidas de isolamento social. Tinha um dos portais mais acessados, concorria com líderes nacionais do varejo e também com as chinesas.
No entanto, em janeiro de 2023 foi descoberta a maior fraude contábil da história da bolsa brasileira, com diferenças no balanço que superam R$ 20 bilhões. A varejista entrou em uma recuperação judicial, e começou uma disputa de pesos-pesados entre os bancos credores e os acionistas controladores. Não por acaso, suas ações despencaram.
Desde a pandemia, o valor de mercado de AMER3 encolheu 99,93%.
"Para entender bem o porte dessa baixa, quem tinha R$ 100 investidos em AMER3 antes da crise possui hoje um investimento que vale R$ 0,07", explica Einar Rivero, da Elos Ayta Consultoria, no estudo.
Outro caso de ação que praticamente virou pó é o da operadora de telefonia Oi (OIBR3), com queda de 99,50% desde a pandemia. A operadora de telefonia iniciou sua recuperação judicial em 2016, a maior da América Latina na época, e aprofundou seu plano de reestruturação durante a pandemia, separando e vendendo unidades de negócio.
A rede móvel, passou para um consórcio formado por Claro, TIM e Vivo por R$ 16,5 bilhões. A operação de TV por assinatura via satélite (DTH) foi vendida para a Sky e a infraestrutura de torres para a Highline. O controle da V.tal, responsável pela rede de fibra óptica, passou para o BTG Pactual (mesmo grupo controlador da EXAME), que assumiu uma posição relevante no ativo.
Segundo Rivero, as vendas reduziram a dívida, mas eliminaram fontes de receita. "A empresa ficou dependente da expansão da fibra óptica em um mercado competitivo, e voltou à recuperação judicial em 2023."
Em terceiro lugar aparece a incorporadora Gafisa (GFSA3), que já chegou a integrar o Ibovespa. Desde a pandemia, suas ações caíram 98,95%, e a empresa é negociada a cerca de R$ 300 milhões.
"Em diversos momentos de 2024 e 2025, os papéis da Gafisa estiveram entre os mais voláteis da Bolsa, com especulações sobre recuperação judicial, vendas forçadas de ativos e até uma possível saída do Novo Mercado", lembra Rivero.
O endividamento líquido da empresa ultrapassa R$ 1,1 bilhão. A Gafisa aposta em empreendimentos de média e alta renda em regiões nobres de São Paulo e do Rio de Janeiro, mas enfrenta a concorrência de incorporadoras mais capitalizadas.
Já a Casas Bahia (BHIA3), que chegou a ser uma das líderes do varejo brasileiro, registra perdas de 98,82% desde a pandemia.
A varejista passou por uma série de mudanças desde então, alterou seu nome para Via Varejo após a fusão com o Ponto Frio em 2009, mudou a denominação novamente para Via S/A em 2020 e depois retomou o nome original em 2023.
"Essas alterações ocorreram num contexto de resultados fracos e de acirramento da concorrência, especialmente de players digitais", comenta Einar Rivero.
Segundo Rivero, as perdas da Casas Bahia decorrem de um endividamento pesado, que foi fruto de decisões de investimento equivocadas e problemas gerenciais.
"A companhia queimou muito caixa desde a pandemia, tanto por ter demorado na reorientação de suas atividades quanto por investimentos que não se mostraram rentáveis, como o lançamento de uma empresa financeira, a BanQi", completa.
"Essas decisões drenaram recursos, levaram ao aumento do endividamento e destruíram valor para os acionistas", comenta.
Não por acaso, perdas sucessivas drenaram valor para os acionistas. O patrimônio líquido no fim do segundo trimestre de 2025 era de R$ 1,53 bilhão. Cinco anos antes, esse valor era de R$ 6,31 bilhões.
Na ponta do lápis, houve uma queda de 75,59% do patrimônio líquido em cinco anos, sem contar o efeito da inflação e antes da conversão. "Um caso inquestionável de destruição de valor para o investidor", diz o estudo.
Além disso, divergências entre os acionistas e conselheiros também têm provocado uma forte volatilidade dos papéis desde o início do ano. Segundo o levantamento da Elos Ayta, BHIA3 tem uma volatilidade de 100,5% desde o início de 2025. Esse percentual é muito maior do que os 44,6% de média do setor e do que os 15,% do Ibovespa.
A lista das maiores quedas desde a pandemia considera empresas com volume financeiro médio diário superior a R$ 1 milhão dia nos últimos 30 dias. Companhias de diversos setores estão no ranking, como transporte aéreo, saúde, varejo e turismo.
Entre elas estão: Gol (GOLL54), com queda de 98,63%; Dasa (DASA3), recuo de 97,95%; Azul (AZUL4), baixa de 97,56%; Recrusul (RCSL4), queda de 96,11%; IRB Re (IRBR3), recuo de 94,48%; Qualicorp (QUAL3), baixa de 93,32%; CVC (CVCB3), baixa de 92,63%; e Magazine Luiza (MGLU3), recuo de 91,82%.