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'Mesmo idiotas, nunca é tarde para mudar': as lições da última carta de Buffett

Buffett encerra seis décadas de cartas com reflexões sobre liderança, tempo e humanidade; veja os principais pontos

Warren Buffett: megainvestidor deixa cargo na Berkshire no final do ano (Steve Pope / Correspondente autônomo/Getty Images)

Warren Buffett: megainvestidor deixa cargo na Berkshire no final do ano (Steve Pope / Correspondente autônomo/Getty Images)

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 11 de novembro de 2025 às 07h17.

O megainvestidor Warren Buffett acabou na segunda-feira, 10, com uma tradição que já durava mais de seis décadas. Em sua última carta endereçada aos acionistas da Berkshire Hathaway (BRK/A), o bilionário, que deixa o comando da empresa no final deste ano, afirmou que ficará em silêncio a partir de agora. "Como diriam os britânicos, vou ficar quieto", escreveu.

Mas, antes de mergulhar no silêncio, o Oráculo de Omaha compartilhou uma série de reflexões sobre legado, liderança, ética, envelhecimento e humildade.

Veja os principais pontos:

Sobre a sucessão

Confirmando a sucessão na liderança da Berkshire Hathaway, Buffett afirmou que Greg Abel está totalmente preparado para assumir o comando da empresa. “Greg Abel será o chefe no fim do ano. Ele é um ótimo gestor, um trabalhador incansável e um comunicador honesto”, escreveu.

Buffett destacou que Abel conquistou a confiança dos acionistas, da diretoria e de sua própria família ao longo dos anos. Segundo ele, essa transição representa uma continuidade da cultura da Berkshire, baseada em ética, eficiência operacional e visão de longo prazo. “Desejo a ele um longo mandato. Com um pouco de sorte, a Berkshire precisará de apenas cinco ou seis CEOs ao longo do próximo século”, completou.

Ainda por ali

Mesmo aos 95 anos, Warren Buffett fez questão de mostrar que continua ativo no cotidiano da Berkshire Hathaway. Ele reconheceu os efeitos do envelhecimento — como a perda gradual de equilíbrio, visão, audição e memória —, mas afirmou que isso não o impediu de seguir com sua rotina de trabalho.

“Embora eu me mova devagar e leia com dificuldade crescente, estou no escritório cinco dias por semana onde trabalho com pessoas maravilhosas”, escreveu.

Um ode à sorte

Ao refletir sobre sua trajetória, Buffett destacou o papel da sorte em seu sucesso. “Nasci em 1930 saudável, razoavelmente inteligente, branco, homem e nos Estados Unidos. Uau! Obrigado, Lady Luck [senhora sorte, em inglês]”, escreveu.

Ele reconheceu que, além de talento e trabalho, sua vida foi moldada por circunstâncias iniciais extremamente favoráveis — fatores que milhões de pessoas no mundo não compartilham. Segundo Buffett, ter nascido em um país próspero, em um período de crescimento econômico, com acesso à educação e oportunidades, fez toda a diferença.

Mas, mesmo assim, o bilionário ressalta que "o pai tempo" chegou — até mesmo para ele. "E ele é invicto; para ele, todos acabam marcados em sua ficha como 'vitórias'. Quando equilíbrio, visão, audição e memória estão todos em declínio constante, você sabe que o Pai Tempo está por perto", disse.

Em tempo de doação

Sobre as doações em vida, Buffett explicou por que decidiu antecipar a transferência de grande parte de sua fortuna para as fundações administradas por seus filhos. “Governar depois de morto não tem um bom histórico, e eu nunca tive vontade de fazer isso”, afirmou.

Buffett destacou na carta que é comum que bilionários deixem instruções rígidas em testamentos ou fundações para que seu patrimônio seja usado de forma específica após a morte. No entanto, ele considera essa abordagem ineficiente e contraproducente. Em vez disso, prefere confiar diretamente nas pessoas que escolheu, enquanto ainda pode orientá-las em vida.

Ele afirmou que seus três filhos — hoje com 72, 70 e 67 anos — têm “maturidade, energia e instinto” para distribuir grandes fortunas de maneira responsável e com impacto.

Pense no obituário

“Decida o que você gostaria que seu obituário dissesse e viva a vida que mereça isso”. Essa foi outra das frases escritas por Buffet em sua última carta.

Para o bilionário, é essencial pensar sobre o sentido da própria trajetória — e não deixar para mais tarde as decisões que definem quem de fato as pessoas são. Para ilustrar o ponto, Buffett citou a história de Alfred Nobel, criador do Prêmio Nobel, que mudou de vida após ler por engano seu próprio obituário, publicado enquanto ainda estava vivo. A manchete dizia: “O mercador da morte está morto”, referindo-se à fortuna de Nobel obtida com a invenção da dinamite.

Segundo Buffett, essa experiência forçou Nobel a reavaliar o impacto de sua vida no mundo — e o levou a criar um dos prêmios mais importantes da história.

“A regra de ouro”

Em um dos trechos mais simbólicos de sua última carta, Buffett defendeu que o valor de uma vida não se mede por fortuna, fama ou poder, mas pela capacidade de fazer o bem. “A verdadeira grandeza não vem de acumular grandes quantias de dinheiro, grande exposição pública ou grande poder no governo. Quando você ajuda alguém — de qualquer uma das milhares de maneiras possíveis — você ajuda o mundo. A gentileza não custa nada, mas também não tem preço”, escreveu. “Seja você religioso ou não, é difícil superar a Regra de Ouro como guia de conduta.”

Buffett conclui o trecho com uma confissão de humildade e um lembrete sobre empatia. Diz ter sido “insensato inúmeras vezes”, mas grato por ter aprendido com amigos a “se comportar melhor”. “Lembre-se: a senhora da limpeza é tão humana quanto o presidente do conselho.”

“Até mesmo os idiotas”

Em tom de conselho, Buffett incentivou os leitores a não viverem presos ao que já aconteceu. “Não se martirize pelos erros do passado. Aprenda pelo menos um pouco com eles e siga em frente. Nunca é tarde para melhorar”, disse. "Sim, até mesmo aos idiotas; nunca é tarde para mudar."

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