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Um mês depois do pânico: estamos protegidos?

Enquanto os EUA ainda tentam criar mecanismos para evitar a repetição da derrocada do dia 6 de maio, BM&FBovespa e CVM garantem ter o melhor sistema de proteção do mundo

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Da Redação

Publicado em 8 de junho de 2010 às 15h11.

São Paulo - Mas o que diabos aconteceu? Um mês depois do pânico financeiro ter aterrorizado mesas de operações e investidores ao redor do mundo, ninguém ainda encontrou uma resposta satisfatória para esta pergunta. Há quem diga que a derrocada dos mercados do dia 6 de maio (Flash Crash) teria ocorrido por um erro de digitação (fat finger). Outros tantos passaram a jogar pedras nos investidores de alta frequência, que poderiam ter enviado ordens de uma forma descontrolada por conta de problemas com os programas de computador que operam diretamente no mercado, conhecidos como "robotraders".

Entretanto, apesar da polêmica, as bolsas e reguladores americanos debatem uma ampla revisão dos mecanismos que são acionados quando o mercado entra em parafuso. Naquele dia, durante vinte minutos, as telas de negociações revelavam um cenário inacreditável. Os principais índices de ações passaram a despencar de um segundo para o outro. No Brasil não foi diferente. Por aqui, o índice Bovespa chegou a cair 6,38%. Sem entrar na questão de quem disparou o gatilho, os reguladores se debruçaram sobre os efeitos de um "erro" no desempenho de cada ação.

Nos EUA, o sistema de "circuit breaker" - que paralisa os negócios - só é ativado quando os índices Dow Jones (DJI) e Nasdaq 100, por exemplo, atingem um determinado nível preestabelecido. O DJI para quando cai 1.050 pontos, o que equivale a uma queda de 10,6% em relação ao nível atual. O problema está no desempenho de cada ação dentro do índice. Os papéis da Procter & Gamble chegaram a cair mais de 23% naquele dia. Atualmente, não há nenhuma trava individual, como no Brasil.

Por aqui, a Bovespa trabalha com o sistema de leilão. Nesse mecanismo, a bolsa compara o preço de fechamentos de cada negócio com o último. Caso um percentual preestabelecido seja atingido, as negociações são interrompidas e submetidas a leilão por um período de cinco minutos. "É o mecanismo mais claro e eficiente. Hoje na BM&FBovespa fazemos 350 leilões por dia", explica André Demarco, diretor de operações da bolsa. "A profundidade da queda no Brasil foi inferior. Aqui vai para leilão e o mercado pode realizar a descoberta de preço", destaca o executivo.

A ideia americana, contudo, não é a de replicar o sistema brasileiro de leilão, mas a de criar novos circuit breakers individuais. A Nasdaq saiu na frente e anunciou na semana passada o seu próprio sistema de travas para papéis. Enquanto isso, a SEC (Securities and Exchange Comission) trabalha na criação de um mecanismo passível de abranger todos os mercados do país. Lá, diferentemente do Brasil, uma mesma empresa é negociada em ambientes distintos. Assim, a negociação pode parar em uma bolsa, mas continuar em outra.

"A SEC entrou em contato conosco e todas as discussões são comunicadas para nós", revela Waldir Nobre, superintendente de Relações com o Mercado e Intermediários da CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Para ele, caso o sistema seja criado nos EUA, é possível que ocorra uma distorção dos preços entre os ADRs, que são os certificados de ações brasileiras negociados em Nova York, e os papéis no Brasil. "Se houver um descompasso, o mecanismo de arbitragem resolve isso rapidinho", explica Nobre.

Demarco explica também que os mecanismos de proteção também serão aplicados aos BDRs não patrocinados, que devem estrear nos próximos meses na bolsa brasileira. Esses ativos irão, em breve, representar grandes empresas americanas na bolsa brasileira. "Poderemos seguir o circuit breaker, mas é mais provável que seja com o sistema de leilão", aponta. Com isso, bolsa e regulador de mercado garantem ter um sistema que dá mais tranqüilidade para o mercado brasileiro.
 

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