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Derrocada fiscal: mercado já vê Selic de até 11% em 2022

Manobra no teto de gastos para acomodar Auxílio Brasil pode levar Brasil de volta aos juros de dois dígitos

Banco Central: mercado prevê que Copom eleve Selic para dois dígitos em 2022 | Foto: Adriano Machado/Reuters (Adriano Machado/Reuters)

Banco Central: mercado prevê que Copom eleve Selic para dois dígitos em 2022 | Foto: Adriano Machado/Reuters (Adriano Machado/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 23 de outubro de 2021 às 18h47.

O drible no teto de gastos anunciado pelo governo para conseguir elevar o valor do Auxílio Brasil, antigo Bolsa Família, de R$ 200 para R$ 400 deixou uma certeza entre os analistas: o cenário econômico brasileiro vai ficar ainda pior.

Desde ontem há um movimento generalizado de instituições financeiras revisando suas projeções para a taxa de juros. Se antes o consenso era de que na próxima reunião do Comitê de Política Monetária do BC, na semana que vem, haveria uma alta de 1 ponto porcentual na Selic (para 7,25% ao ano), a aposta agora é de alta de 1,25 a 1,5 ponto.

Para o ano que vem, algumas instituições já estimam os juros na casa dos 10% para conter a inflação. O Credit Suisse, por exemplo, fala em uma taxa de 10,5%, enquanto a XP projeta a Selic em 11%. E juro maior significa uma trava no crescimento econômico – que já tinha previsões pífias, em torno de 1%, para 2022.

Para o Credit Suisse, a perspectiva é de que o Banco Central anuncie elevações de 125 pontos-base na taxa básica de juros em suas próximas duas reuniões. No ano seguinte, o Copom deve implementar mais uma alta de 100 pontos-base em fevereiro e outra de 75 pontos-base em março, levando a Selic para 10,5% ao ano ainda no primeiro trimestre de 2022.

"A política fiscal mais ativa exigirá uma política monetária mais apertada, tornando a cenário econômico mais desafiador, com juros mais altos, crescimento mais fraco do PIB, dívida bruta mais elevada e inflação mais alta. Além disso, o país poderia sofrer rebaixamento em seu rating de dívida soberana, já que o teto de gastos foi destacado pelas agências de classificação de risco como um âncora fiscal importante", afirmam os analistas do Credit Suisse, em relatório.

Toda essa turbulência foi provocada pelo ataque ao teto de gastos, a regra que limita o crescimento das despesas do governo à inflação do ano anterior. Era o que "atrapalhava" os planos do presidente Jair Bolsonaro de dobrar o valor do Auxílio Brasil no ano que vem, arma considerada fundamental na sua tentativa de reeleição. Para resolver o impasse, o caminho encontrado pelo governo para conseguir recursos foi mudar a regra e furar o teto em vez de cortar despesas com subsídios ou emendas parlamentares, por exemplo.

Fez um acordo no Congresso para modificar a forma como o teto é calculado. E, com isso, abrir um espaço de R$ 83,6 bilhões no Orçamento. Para economistas e analistas, esse movimento, se aprovado, enterra a última barreira que existia em relação aos gastos desenfreados do governo, principalmente levando-se em conta que 2022 é ano eleitoral.

A reação foi forte. Na semana, o Ibovespa caiu 7,28%, o pior desempenho desde março do ano passado. Ontem, o principal índice da bolsa fechou aos 106,2 mil pontos, queda de 1,34%. O dólar, por sua vez, subiu 3,12% na semana e fechou em R$ 5,6273.

*Com a redação

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