A mediana das previsões dos analistas projeta o Ibovespa a 61.500 pontos na metade de 2012 e a 70.000 pontos no final do ano que vem (Germano Lüders/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 15 de dezembro de 2011 às 14h45.
O principal índice das ações brasileiras esta' pronto para se recuperar em 2012 após um ano de fraco desempenho, mas o desempenho do mercado depende do desenrolar da crise da dívida soberana na Europa, mostrou uma pesquisa da Reuters nesta quinta-feira.
Com o Banco Central reduzindo os juros para estimular a economia - o Comitê de Política Monetária (Copom) cortou a Selic em 0,50 ponto percentual na quarta -, analistas dizem que as ações parecem baratas após caírem 18 por cento este ano.
No entanto, com a ameaça da crise da zona do euro à economia global, analistas afirmam que o Ibovespa corre o risco de perder até 10.000 pontos nos próximos trimestres. A mediana das previsões dos analistas consultados pela Reuters projeta o Ibovespa a 61.500 pontos na metade de 2012 e a 70.000 pontos no final do ano que vem. O número é 23 por cento maior do que o fechamento de quarta a 56.874 pontos.
As previsões para o final de 2012, colhidas de 22 analistas, estrategistas e gestores de fundos ao longo da semana passada, variaram entre 50.000 e 80.000 pontos. Em setembro, uma pesquisa da Reuters previu Ibovespa a 62.000 mil pontos no final de 2011. Após cair abaixo de 60 mil em julho, o Ibovespa não conseguiu mais sustentar esse nível.
"Se houver uma ruptura da zona do euro, você veria um colapso dos mercados", disse Kathryn Rooney Vera, estrategista da Bulltick Capital Markets. Para ela, os mercados não estão nem de perto precificando esse risco.
"A região como um todo cairia em recessão de forma maciça." As bolsas globais dispararam na quarta-feira após os principais bancos centrais anunciarem medidas coordenadas para evitar um colapso do crédito no sistema financeiro europeu. Em 23 de novembro, uma pesquisa da Reuters mostrou que a zona do euro não deve sobreviver com a configuração atual à crise da dívida soberana.
Varejistas X Siderúrgicas
Outras das principais economias do mundo estão fracas, ou vulneráveis. Os Estados Unidos, maior economia do mundo, tem lutado contra um desemprego persistente e um mercado imobiliário deprimido, enquanto que a China, maior parceiro comercial do Brasil, é vulnerável a uma redução da demanda por exportações da Europa.
O mercado brasileiro depende muito do capital estrangeiro, e uma economia global fraca poderia manter o fluxo de investidores relativamente longe do país. Além disso, um crescimento mais lento do mundo prejudicaria a demanda pelas exportações brasileiras, incluindo soja, minério de ferro, açúcar e outros produtos.
As siderúrgicas são especialmente vulneráveis a uma desaceleração global. As ações de empresas como Usiminas , Gerdau e CSN já têm tido uma performance muito abaixo do Ibovespa neste ano. O mercado doméstico do Brasil pode permanecer robusto, no entanto, com o desemprego ainda próximo a níveis recordes de baixa e com o salário mínimo em expansão.
Analistas ouvidos pelo Banco Central para o relatório Focus preveem crescimento de 3,1 por cento da economia este ano e de 3,46 por cento no ano que vem - abaixo dos 7,5 por cento de 2010, mas ainda muito melhor do que se espera pelo mundo, dos Estados Unidos à Europa.
Esse crescimento, combinado com a queda do preço das ações neste ano, pode tornar as empresas brasileiras um investimento atrativo. E a moeda brasileira, o real , já perdeu mais de 18 por cento desde atingir máximas em julho, o que torna as ações brasileiras ainda mais baratas aos olhos dos estrangeiros.
"Os fundamentos econômicos do Brasil ainda são muito sólidos", disse Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco. "Muitas empresas ainda estão abaixo do valor justo, e as ações devem se tornar um investimento mais atrativo com a queda dos juros", acrescentou.
Na quarta-feira, o Banco Central reduziu a taxa de juros a 11 por cento. Uma pesquisa da Reuters mostrou que o mercado espera novos cortes da Selic no ano que vem, com 11 de 29 analistas prevendo juro a 9,5 por cento no fim do ano. Juros menores tendem a beneficiar empresas que dependem dos consumidores domésticos, como as varejistas Lojas Americanas e Lojas Renner , que tiveram desempenho abaixo do mercado brasileiro neste ano.
"O fator decisivo para o Ibovespa será a crise da dívida na Europa", disse Luciano Rostagno, do WestLB em São Paulo. Até que isso se resolva, "o mercado brasileiro continuará volátil, limitando a perspectiva de altas", acrescentou.