O Mercado Livre anunciou uma nova política para seus vendedores brasileiros que pode transformar a dinâmica dos marketplaces no Brasil. A partir de amanhã, 23 de outubro, a plataforma passará a monitorar os preços dos produtos vendidos pelos vendedores não apenas em seu próprio marketplace, mas também em concorrentes como Amazon e Shopee. A informação foi confirmada à EXAME.

Isso significa que, caso o Meli detecte que um vendedor está oferecendo um produto a preços mais baixos em outro marketplace, ele será notificado e terá um prazo de três dias para alinhar os preços na plataforma do Mercado Livre. Se o vendedor não cumprir essa exigência, poderá ter a visibilidade de seu produto reduzida na plataforma e perder o acesso a ferramentas promocionais e publicitárias.

A medida é uma clara tentativa da companhia de garantir que os consumidores encontrem as melhores ofertas diretamente em seu site, aproveitando sua posição dominante no mercado de e-commerce latino-americano.

Para analistas do Itaú BBA, o movimento é uma resposta agressiva, mas inteligente, às recentes ofensivas da Amazon e Shopee no mercado brasileiro. “Desta vez, o Meli está utilizando uma de suas armas mais fortes: a relevância da plataforma e o bloqueio dos vendedores”, afirmam em relatório publicado nesta quarta-feira, 22.

A ocasião em que essa carta foi usada pela gigante do e-commerce também foi elogiada pelos analistas. Afinal, poucos vendedores arriscariam perder a visibilidade de seu item na plataforma do Mercado Livre durante o aumento do tráfego na Black Friday e nas festas de fim de ano.

Possíveis riscos no radar dos investidores

Alguns investidores levantaram preocupações sobre se a política de monitoramento de preços poderia desencadear discussões antitruste. Isso ocorre principalmente porque o Meli representa cerca de 40% do varejo online no Brasil, embora sua participação total no mercado de varejo seja ainda modesta, de 5% a 6%.

Para os analistas do BBA, o Meli não está, de fato, impedindo os vendedores de operar em outras plataformas, mas simplesmente criando um sistema de priorização e classificação de ofertas em sua própria plataforma. Embora ainda seja uma dinâmica importante a ser monitorada, muitos consideram que essa estratégia é, em essência, uma forma de garantir a competitividade de sua própria plataforma, sem infringir as normas de concorrência.

A crescente guerra de preços no e-commerce pressiona as margens de muitas empresas do setor. E o Mercado Livre, mais do que qualquer um, sabe que a competição acirrada, especialmente por parte de gigantes como Amazon e Shopee, raramente é benéfica para a rentabilidade.

Nesse cenário, o crescimento do GMV (volume bruto de mercadorias) será crucial para avaliar se os investimentos estão resultando em uma maior participação de mercado.

Para o terceiro trimestre de 2025, as expectativas do mercado apontam para um crescimento do GMV brasileiro de aproximadamente 32% a 33% em relação ao ano anterior. Caso o Meli consiga superar essas expectativas, mantendo um Ebit acima de US$ 700 milhões, espera-se que o preço de suas ações reaja positivamente, afirma o BBA.

Veja a seguir a íntegra do posicionamento do Mercado Livre:

O Mercado Livre tem mantido investimentos contínuos e recordes em logística, para oferecer o envio mais rápido do país; em marketing, para atrair e conquistar mais clientes; e em tecnologia, para proporcionar melhorias contínuas na usabilidade dos seus serviços.

Neste contexto, a empresa está introduzindo um conjunto de iniciativas estratégicas para otimizar a competitividade de seu marketplace e impulsionar as vendas dos parceiros que mantêm um alto desempenho, reputação elevada e boas práticas, sempre tendo o consumidor como foco central.

A plataforma passará a gerenciar a visibilidade de produtos com baixa competitividade: anúncios com preços competitivos terão melhor visibilidade, enquanto os itens com preços mais altos perderão visibilidade, acesso a campanhas promocionais e investimentos em publicidade.

É importante ressaltar que, se um item tiver sua visibilidade reduzida, o vendedor tem a opção de reverter o processo por meio de ajustes no anúncio. Essa ação é opcional e não implica em exclusividade ou restrições comerciais em outros canais de venda.