Eleições: as medidas defendidas por Temer têm agradado aos investidores e trazido certa tranquilidade no mercado financeiro (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Reuters
Publicado em 24 de abril de 2017 às 16h03.
São Paulo - O mercado financeiro está precificando a vitória de um candidato defensor da agenda econômica reformista elaborada pelo governo Michel Temer na eleição presidencial do ano que vem, e os investidores podem estar indo no caminho correto, segundo Samuel Pessôa, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).
"O que está no preço do mercado é que a agenda de reformas vai continuar e que haverá um candidato defensor dessa agenda vitorioso em 2018", afirmou Pessôa em entrevista à Reuters.
Formado em física e doutor em economia pela Universidade de São Paulo (USP), Pessôa tem sido uma das principais vozes no debate econômico nos últimos anos.
Na campanha presidencial de 2014, foi um dos apoiadores e colaboradores da candidatura do senador tucano Aécio Neves (MG).
As várias medidas econômicas defendidas por Temer, como a já aprovada proposta que limita o crescimento do gasto público e as reformas da Previdência, tributária e trabalhista, têm agradado aos investidores e trazido certa tranquilidade no mercado financeiro, embora a recuperação mais consistente da economia brasileira seja dúvida.
Para Pessôa, o candidato presidencial "precificado" pelo mercado deve vir do PSDB, partido que apóia o governo Temer e tem ajudado a garantir algumas vitórias importantes no Congresso Nacional, como o teto dos gastos.
E os nomes que hoje estão em evidência são o do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e do seu pupilo, prefeito da capital paulista, João Doria.
"A dúvida é saber se haverá um candidato do PMDB. Meu chute é que não. O PMDB é um partido com vocação para ser coadjuvante", afirmou ele.
"Hoje, eu acho que um tucano seria um candidato forte, assim como a Marina", acrescentou, referindo-se a Marina Silva, da Rede, que poderia tentar novamente concorrer ao Palácio do Planalto com uma agenda também mais pró-mercado.
Da esquerda, Pessôa destacou alguns nomes como prováveis na eleição do ano que vem: o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou do ex-governador Ciro Gomes (PSB). E mesmo com a Lava Jato a todo vapor, Pessôa mantém seu cenário porque a operação "iguala o jogo".
Se o cenário traçado pelo mercado não se confirmar, a avaliação dele é que os ativos brasileiros devem sofrer nova rodada de deterioração como ocorreu no final da gestão da ex-presidente Dilma Rousseff, em meados de 2016.
Desde que Temer assumiu o país apoiado numa agenda reformista, o dólar recuou do patamar de 4 reais para abaixo de 3,15 reais agora e a Bovespa subiu da faixa de 50 mil pontos para perto de 65 mil pontos.
"Se de repente alguma dessas coisas der muito errado, o risco-País sobe, vamos ter câmbio próximo de 4 reais, a inflação começa a aumentar e o BC vai ser forçado a interromper o ciclo de queda de juros", afirmou.
No cenário traçado por Pessôa, a popularidade do governo Temer deve avançar conforme o crescimento da economia brasileira for melhorando.
Hoje, a aprovação é bastante baixa, com avaliação ruim/péssimo do governo em 55 por cento em março, ante 46 por cento em dezembro, segundo a última pesquisa CNI/Ibope.
A desaprovação à maneira de governar de Temer chegou a 73 por cento dos entrevistados.
Para este ano, Pessôa estima expansão de até 1 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), depois que o IBGE fez revisões na metodologia de cálculo das pesquisas de serviços e comércio. A previsão inicial era de alta de 0,4 por cento.
Para 2018, as contas do Ibre mostram crescimento de 2,5 por cento do PIB. "Mas há uma chance grande de o crescimento ser maior do que isso", disse.
Para ele, a gestão Temer tem chances de ser lembrada no futuro como reformista. Mesmo após o governo ter cedido em diversos e importantes pontos na reforma da Previdência, considerada essencial para colocar as contas públicas em ordem, Pessôa ainda vê méritos na proposta.
"Se a reforma da Previdência não for aprovada, não é responsabilidade do governo. É do Legislativo que não se sensibilizou para a situação trágica na qual o País está."
Na semana passada e depois de cinco meses de negociação, o governo aceitou alterar sete pontos do projeto enviado inicialmente, alguns considerados essenciais, como o tempo de contribuição e a idade mínima para mulheres, que reduzem em pelo menos 20 por cento a economia planejada para os próximos 10 anos.