Nenhum dos candidatos a presidência deve diminuir os gastos públicos, acreditam analistas (Wilson Dias/AGÊNCIA BRASIL)
Da Redação
Publicado em 29 de outubro de 2010 às 10h01.
Nova York - Para o mercado de renda fixa, o sucessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai ter dificuldades em manter a inflação na meta.
A taxa implícita de inflação, medida pela diferença entre os rendimentos dos títulos prefixados do Tesouro Nacional com prazo de dois anos e aqueles atrelados à inflação, subiu para 648 pontos-base, 6,48 pontos porcentuais, nível mais alto desde novembro de 2008.
Em 28 de junho, a diferença era de 541 pontos- base. Essa mesma taxa implícita de inflação é de 388 pontos no México, segunda maior economia da América Latina.
Enquanto países como Estados Unidos e Japão estão adotando medidas para evitar a deflação causada pela desaceleração econômica, no Brasil a aposta é de que os preços ao consumidor devem subir mais do que a meta de 4,5 por cento, a menos que as autoridades limitem gastos públicos ou subam os juros. Dilma Rousseff, que lidera as pesquisas de intenção de voto para o segundo turno da eleição presidencial no domingo, disse em entrevista à televisão em agosto que reduzir gastos é um “crime”.
“O mercado não acredita muito que o próximo governo vá agir no lado fiscal para conter o gasto público”, disse Marcelo Schmitt, gestor de fundos de renda fixa da SulAmérica Investimentos em São Paulo, que comprou títulos atrelados à inflação três meses atrás. “O mercado está esperando mais pressão inflacionária por períodos mais longos, se estendendo ao longo de 2011.”
O rendimento da Nota do Tesouro Nacional série B, que oferece proteção contra inflação, com cupom de 6 por cento e vencimento em agosto de 2012 caiu 41 pontos-base este mês para 5,52 por cento, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Já o rendimento da Letra do Tesouro Nacional prefixada em 10 por cento com vencimento em janeiro de 2013 baixou 4 pontos-base para 11,97 por cento.
Desemprego, salários
Economistas projetam crescimento de 7,55 por cento este ano, o maior em duas décadas, de acordo com a pesquisa do Banco Central com cerca de 100 instituições financeiras publicada esta semana. O desemprego caiu em setembro para uma mínima histórica e o salário médio ajustado pela inflação subiu 6,2 por cento nos últimos 12 meses para R$ 1.499, segundo informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística na semana passada.
A inflação acumulada em 12 meses vai se acelerar para 5,3 por cento até dezembro, em relação aos 5 por cento até a primeira quinzena de outubro e 4,3 por cento do final de 2009, de acordo com a pesquisa do Banco Central com o mercado. A projeção mediana uma semana antes era de 5,2 por cento.
O Comitê de Política Monetária liderado pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, manteve a Selic em 10,75 por cento pela segunda reunião seguida em 20 de outubro, após elevar o juro básico da economia em 200 pontos-base no início do ano.
A autoridade monetária afirmou na ata do encontro divulgada ontem que “prevalece o entendimento” de que a inflação vai convergir em direção ao centro da meta de 4,5 por cento. Segundo o Copom, essa previsão “está condicionada à materialização das trajetórias com as quais o comitê trabalha para variáveis fiscais e creditícias, entre outras”.
Gastos em alta
Investidores agora temem que as autoridades não estejam fazendo o suficiente, disse Nick Chamie, que comanda a área de mercados emergentes da RBC Capital Markets em Toronto.
“A maioria acha que o Banco Central deveria estar apertando a política monetária e não está fazendo isso, e essa é a preocupação da maior parte das pessoas, de que Meirelles não quer desagradar seus novos chefes”, disse Chamie numa entrevista por telefone. “Estamos começando a ver uma alta do prêmio de inflação localmente.”
O governo Lula aumentou os gastos públicos em 18,2 por cento em julho em relação a um ano antes, o que ajudou a elevar o déficit nominal para o equivalente a 3,4 por cento do Produto Interno Bruto. Em outubro de 2008, o déficit era equivalente a 1,3 por cento do PIB.
Num comunicado por e-mail, o Banco Central se recusou a fazer comentários para esta reportagem.