Mercados

Mercado de dívida fechado no exterior estimula emissões locais

Essas operações chegam num momento no qual a disparada dos custos de captação no exterior impede as empresas de emitir títulos no mercado internacional

Banco do Brasil SA, Banco BTG Pactual SA e Banco Bradesco SA preveem que as emissões domésticas vão continuar aumentando (Valter Campanato/ABr)

Banco do Brasil SA, Banco BTG Pactual SA e Banco Bradesco SA preveem que as emissões domésticas vão continuar aumentando (Valter Campanato/ABr)

DR

Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2011 às 19h59.

São Paulo/Rio de Janeiro - A Transmissora Aliança de Energia Elétrica SA está contribuindo para aumentar a lista das ofertas de dívida no mercado interno. Essas operações vêm em um momento no qual a disparada dos custos de captação no exterior impede as empresas de emitir títulos no mercado internacional.

A Taesa optou pelo mercado local após seu plano de vender bônus denominados em reais no exterior ter sido atrapalhado pela piora da crise de dívida na Europa, disseram pessoas familiarizadas com a operação. Banco do Brasil SA, Banco BTG Pactual SA e Banco Bradesco SA preveem que as emissões domésticas vão continuar aumentando, após terem dado um salto de 8 por cento nos primeiros nove meses de 2011 para R$ 64,4 bilhões, de acordo com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais, a Anbima.

Enquanto a onda de vendas no mercado mundial elevou o rendimento médio dos títulos corporativos brasileiros em dólar para 6,9 por cento na semana passada, o maior nível em dois anos, o Banco Central reduziu o juro básico em agosto para sustentar o crescimento.

“A volatilidade nos mercados internacionais dificulta a colocação de títulos pelas empresas e os mercados internos oferecem grandes oportunidades nessas horas”, disse Leandro Miranda, diretor-gerente e chefe de renda fixa do Bradesco, em uma entrevista por telefone em São Paulo. “Em um mercado volátil, muitas companhias preferem vender dívida de curto prazo para não precisar pagar juros mais altos por um período longo.”

Seca no mercado externo

As empresas brasileiras emitiram US$ 29,4 bilhões em títulos nos mercados internacionais este ano, 5,5 por cento a menos do que no mesmo período do ano passado, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A última captação externa aconteceu em 8 de setembro, quando a Brasil Telecom SA vendeu R$ 1,1 bilhão em papéis indexados ao real.

O Comitê de Política Monetária baixou a Selic em meio ponto percentual para 12 por cento em 31 de agosto, juntando-se à Turquia como o segundo país do Grupo dos 20 a cortar juros em resposta à desaceleração global. O Copom deve fazer uma nova redução de 0,5 ponto percentual nos juros na próxima reunião, em 18 e 19 de outubro, segundo projetam os mercados de juros futuros.

O Certificado de Depósito Interbancário, que é referência para as taxas de emissões de dívida corporativa no País, era de 11,88 por cento em 7 de outubro. O rendimento médio dos títulos em dólar vendidos por empresas brasileiras deu um salto de 0,72 ponto percentual desde 31 de agosto, para 6,73 por cento, de acordo com o JPMorgan Chase & Co.


A Taesa está emitindo R$ 1,4 bilhão em notas promissórias com vencimento em 360 dias para ajudar a financiar a compra dos ativos da espanhola Abengoa SA no Brasil por R$ 1,1 bilhão, segundo informou a empresa.

Crise de 2008

A CTX Participações SA, uma empresa baseada no Rio de Janeiro que detém empresas de telemarketing e call center, é a maior emissora nos mercados locais de dívida, após vender R$ 2,3 bilhões de títulos de taxas flutuantes com prazo de dois anos, segundo os dados da Bloomberg.

A CPFL Energia SA fez as duas outras maiores ofertas neste ano, emitindo R$ 1,5 bilhão por meio da Rio Grande Energia SA e outro R$ 1,3 bilhão em seu próprio nome.

O mercado doméstico oferece às empresas brasileiras uma alternativa de financiamento que não estava disponível em 2008, quando a crise financeira global travou o mercado de crédito, disse Allan Toledo, vice-presidente de atacado do Banco do Brasil. As emissões no mercado local totalizaram R$ 67 bilhões em 2008, diz a Anbima.

No final do ano passado, o governo brasileiro anunciou um pacote de medidas que incluem benefícios fiscais para investidores em títulos de longo prazo e participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social para ajudar a desenvolver o mercado secundário de renda fixa.

O Banco do Brasil, maior do país em ativos, é o líder no ranking de originação de renda fixa neste ano até agosto, com um total de R$ 12,2 bilhões em transações realizadas, segundo a Anbima. O Bradesco é o segundo colocado. O BTG, comandado pelo bilionário André Esteves, é o segundo colocado no ranking de distribuição.

Cautela de investidores

“A liquidez ainda é forte nos mercados locais brasileiros e há muita concorrência entre os bancos, uma situação diferente de quando os mercados internacionais se fecharam em 2008”, disse Toledo em entrevista no escritório do Banco do Brasil em São Paulo. “A maioria das empresas brasileiras está bem capitalizada, não há alavancagem em derivativos.”

Com a crise internacional agora os investidores ficaram com menos apetite pelas empresas de maior risco de crédito, com ratings abaixo de AA na escala local, disse Daniel Vaz, responsável pela área de mercado de capitais do BTG Pactual, em uma entrevista por telefone de São Paulo no dia 3 de outubro. “Há mais cautela por parte dos investidores, mas os mercados de renda fixa locais são os últimos a serem afetados por qualquer tipo de contágio ou aversão ao risco”, disse ele.

Acompanhe tudo sobre:BancosEmpresasFinançasInvestimentos de empresasMercado financeiroTítulos públicos

Mais de Mercados

BTG vê "ventos favoráveis" e volta recomendar compra da Klabin; ações sobem

Ibovespa opera em queda e dólar bate R$ 5,81 após cancelamento de reunião sobre pacote fiscal

Donald Trump Jr. aposta na economia conservadora com novo fundo de investimento

Unilever desiste de vender divisão de sorvetes para fundos e aposta em spin-off