Jerome Powell, presidente do Fed: banco central americano (Yasin Ozturk/Anadolu Agency /Getty Images)
Repórter
Publicado em 13 de junho de 2024 às 12h13.
Última atualização em 13 de junho de 2024 às 13h50.
Dados abaixo do esperado para inflação americana impulsionaram as apostas de juros mais baixos nos Estados Unidos, levando as bolsas de Nova York a renovarem os níveis recordes nesta semana. O Índice de Preço ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês), divulgado na quarta-feira, 12, recuou de 3,4% para 3,3% em maio e seu núcleo, de 3,6% para 3,4%. O consenso era de que o CPI ficasse em 3,4% e seu núcleo em 3,5%.
Os números mais fracos fizeram investidores precificarem uma maior probabilidade de dois cortes de juros ainda neste ano, em setembro e em dezembro. A probabilidade é medida pelo monitor do CME Group, com base na negociação de contratos futuros. A direção foi justamente oposta à tomada na semana passada, quando o mercado chegou a precificar apenas um corte, com dados do mercado de trabalho voltando a surpreender para cima.
Mas além dos números de emprego, que seguem indicando uma atividade firme nos Estados Unidos, a aposta de dois cortes de juros contraria a perspectiva do próprio Federal Reserve (Fed) apresentada na decisão de juros de quarta-feira, 12. Em relatório trimestral, a projeção mediana dos diretores do Fed passou a prever apenas um corte de juro de 0,25 ponto percentual neste ano e taxas mais altas no longo prazo. Até março, o Fed previa três cortes.
Nessa queda de braço, o Fed dá o braço a torcer e faz dois cortes de juros neste ano ou mantém o plano de voo. Esse segundo cenário, caso confirmado, representaria um risco para ativos do mundo inteiro, uma vez que levaria a reprecificação da curva de juros americanos.
Um velho mantra de Wall Street recomenda não ir contra o Fed e a experiência recente sugere o mesmo. No auge do otimismo do início do ano, investidores chegaram a precificar sete cortes de juros para este ano, enquanto o Fed falava em três. O mercado, que teve que rever a aposta, agora vê dois cortes como o mais provável, enquanto o Fed fala em apenas um.
A aposta de corte em setembro é sustentada por grandes players do mercado. Um deles é o banco suíço Julius Baer, com US$ 480 bilhões sob administração. David Kohl, economista-chefe do banco, afirma em nota que a inflação de maio aumentou a confiança de corte de juros em setembro. O segundo corte, diz o economista, deve ficar para dezembro, para quando se espera uma maior fraqueza do mercado de trabalho.
No comunicado de ontem, o Fed reconheceu pela primeira vez ver "progressos modestos" nos últimos meses em direção à meta de inflação de 2%, mas indicou que ainda não está confiante o suficiente para iniciar o ciclo de cortes.
Nesta quinta-feira, 13, investidores precificam uma probabilidade de 67% de corte em setembro e de 68% de pelo menos dois cortes de juros neste ano. Essa probabilidade de dois cortes, há um mês, era precificada perto de 53%.
Mas para a Gavekal Research, precisarão uma série de números de inflação benignos antes deo Fed recuperar a confiança de que a inflação está em direção à meta de 2% de uma forma duradoura. "Isto significa que mesmo que a inflação continue benigna, a janela para cortes nas taxas deste ano é muito menor do que era em março", avalia Will Denyer, economista de Estados Unidos da Gavekal Research. Por isso, afirma, "não há divergências entre a nova projeção do Fed e a inflação de maio".
Quem também está com o Fed nessa é o Bank of America, com a projeção de apenas um corte de juro em 2024, em dezembro. "O próximo passo deverá ser um corte e, dado o contexto económico relativamente sólido e uma trajetória incerta da inflação, deverá ser um ciclo gradual. Além disso, Jerome Powell [presidente do Fed] mostrou-se relutante em definir o calendário dos cortes", afirma o BofA.