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Marfrig vira barganha na renda fixa com juro de 15%

Para o Citigroup e a BCP Securities, os papéis viraram uma barganha depois que a oferta da empresa para renegociar sua dívida local

A queda dos papéis da Marfrig é injustificável, pois a companhia deve se beneficiar de alongamento dos prazos, disse Jansen Moura, analista de dívida corporativa da BCP (Cláudio Rossi/EXAME.com)

A queda dos papéis da Marfrig é injustificável, pois a companhia deve se beneficiar de alongamento dos prazos, disse Jansen Moura, analista de dívida corporativa da BCP (Cláudio Rossi/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 28 de maio de 2012 às 08h51.

Nova York - A Marfrig Alimentos SA lidera as perdas entre títulos de dívida corporativa brasileira. Para o Citigroup Inc. e a BCP Securities, isso significa que os papéis viraram uma barganha, depois que a oferta da empresa para renegociar sua dívida local ajuda a liberar caixa.

O rendimento da dívida em dólar do frigorífico com vencimento em 2018 deu um salto de 120 pontos-base em 25 de maio, para 15,01 por cento, segundo dados compilados pela Bloomberg. A disparada veio depois que o jornal Valor Econômico informou que a empresa está em negociações para rolar um pagamento ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. O custo de captação para empresas com nota de crédito similar, caiu um ponto-base, ou 0,01 ponto percentual, para 7,94 por cento, segundo indices do Bank of America Corp.

A queda dos papéis da Marfrig é injustificável, pois a companhia deve se beneficiar de alongamento dos prazos e da manutenção do apoio do BNDES, disse Jansen Moura, analista de dívida corporativa da BCP. A Lupatech SA, maior fornecedora brasileira de equipamentos e serviços para exploração de petróleo, adiou em abril o pagamento de R$ 320 milhões ao BNDES relativos a debêntures.

“É uma forma de a empresa melhorar seu fluxo de caixa”, disse Moura em uma entrevista por telefone do Rio de Janeiro. “Parece algo razoável a fazer, dado que o BNDES é acionista e criou esse precedente positivo no passado.”

Os títulos da empresa rendem 1.222 pontos-base, ou 12,22 pontos percentuais, a mais do que dívida do governo brasileiro de prazo similar, comparado a uma diferença de 882 pontos há um mês, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A Marfrig tem classificação de risco B1 na escala da Moody’s Investors Service, quatro níveis abaixo do grau de investimento, e nota equivalente B+ na escala da Standard & Poor’s.

Rolagem de pagamento

A Marfrig tenta adiar até 2015 um pagamento de até R$ 270 milhões que vence em julho, de acordo com o Valor Econômico, que não revelou a fonte da informação. Quando questionado se a empresa havia negociado com o BNDES, Ricardo Florence, diretor de relação com investidores da Marfrig, disse em uma teleconferência em 15 de maio que a empresa estava tentando renegociar pagamentos de juros sobre debêntures conversíveis, quando foi perguntado se havia conversas com o BNDES.

Em 25 de maio, a assessoria de imprensa da Marfrig se recusou a fazer comentários para esta reportagem.

O BNDES disse em e-mail enviado em resposta a perguntas da reportagem que os termos do empréstimo não mudaram.

A queda dos títulos da Marfrig é uma “oportunidade de compra”, porque a empresa vai se beneficiar da depreciação do real, disse Eric Ollom, estrategista de dívida do Citigroup. A moeda brasileira perdeu 6,1 por cento em relação ao dólar este ano, com o dólar fechando a R$ 1,9874 em 25 de maio.


“A taxa de câmbio a R$ 2 é positiva para as exportações”, disse Ollom em entrevista por telefone de Nova York. “O ciclo de carne bovina está em território positivo, então os frigoríficos brasileiros devem ter um ótimo ano. O mercado de aves deve melhorar. Esses fatores são favoráveis para o crédito, e devem ajudá-los a estancar o escoamento de caixa.”

O Independência SA, que já foi o quarto maior exportador brasileiro de carne bovina, entrou em recuperação judicial em 2009 depois que a crise econômica mundial derrubou os preços e as exportações e o mercado de crédito ficou congelado.

Aquisições da Marfrig

A Marfrig registrou aumento de 47 por cento no lucro do primeiro trimestre, em meio à queda de preços para o gado que abate e para os grãos usados para alimentar as aves, resultando em custos menores.

A Marfrig busca alongar prazos diante das dificuldades para conter a dívida após uma série de aquisições, disse Marianna Waltz, analista da Moody’s Investors Service.

A companhia fez 20 aquisições nos últimos cinco anos, no esforço de diversificação para além da carne bovina em direção a aves e alimentos processados. A empresa gastou US$ 2 bilhões em 2010 para comprar a Seara Alimentos da Cargill Inc. e uma fornecedora da McDonald’s Corp. chamada Keystone Foods, quadruplicando sua dívida em dois anos.

“Novos desafios ligados às aquisições que a empresa fez nos últimos anos, desafios em termos da integração dessas aquisições, e despesas maiores ligadas às aquisições causaram deterioração nas métricas de crédito da companhia”, disse Marianna em entrevista por telefone de São Paulo. “Ainda não vimos melhora nas métricas de crédito da empresa que dessem sustentação a uma mudança em nossa perspectiva.”

A Marfrig, que tenta se desfazer de ativos para conter o aumento da dívida, completou no mês passado a venda das unidades de distribuição nos EUA e na Europa para a Martin-Bower Co., do estado americano de Illionois, por US$ 400 milhões.

“Gosto das marcas que a Marfrig desenvolveu. Será uma recuperação gradual”, disse Moura. “Pouco a pouco eles vão reduzir o endividamento e, ao longo do tempo, isso vai ajudar.”

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