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Mais carne no pasto. E menos lucro para o pecuarista

Apesar do aumento do peso do boi, a rentabilidade não melhorou para os pecuaristas

Criação de gado (Gardel Bertrand/AFP Photo/AFP)

Criação de gado (Gardel Bertrand/AFP Photo/AFP)

São Paulo - A produtividade da pecuária brasileira vem avançando de forma consistente nos últimos anos. Segundo os dados da última pesquisa trimestral de abate de bovinos, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o peso médio dos animais abatidos nos últimos dez anos foi de 17,95 arrobas, o equivalente a 269 quilos. Isso significa uma arroba a mais por animal abatido, em relação à última década, segundo análise da Scot Consultoria, especializada em pecuária.

Apesar desse aumento, a rentabilidade não melhorou para os pecuaristas. O preço da arroba do boi gordo caiu 8% nos últimos doze meses e fechou hoje em 139,8 reais, de acordo com o indicador Esalq/BM&FBovespa

A conta não está fechando porque houve um aumento de investimento em genética animal e alimentação dos bovinos, o que elevou o peso da boiada e reduziu o tempo de abate do animal de 42 meses para 30 meses. Com isso, o rebanho precisa ser reposto mais rapidamente. E é aí que o pecuarista é surpreendido com o aumento do custo de reposição dos animais.

“A gente conseguiu aumentar o peso dos bovinos que são abatidos no Brasil, mas, em contrapartida, o preço do bezerro e do boi magro subiu muito”, diz Alcides Torres, engenheiro agrônomo e pesquisador na Scot Consultoria. “É como se fosse uma concessionária de carros que, depois de vender o automóvel, precisa repor o estoque da loja e descobre que o veículo ficou mais caro do que era antes.”

Outro fator agravante é que, com as novas leis do Código Florestal, é proibido abrir novas fronteiras agrícolas. Para pecuária, significa criar gado em regiões de terras já abertas, que costumam ser mais caras. “Isso acaba interferindo no preço final do bezerro e afetando toda a cadeia de produção”, diz Torres.

A solução, no entanto, passa a ser aumentar ainda mais a produtividade no pasto para fazer frente aos custos altos. Hoje, no Brasil, o peso da carne equivale a 54% do peso final do animal (o restante é destinado para outros 50 tipos de indústria). Esse desempenho é parecido com o dos australianos. “Nos Estados Unidos, onde o boi vive confinado, a carne equivale a 60% do peso total”, diz Torres.

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