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Maioria dos bancos dos EUA não se protegeu contra ciclo de alta nos juros, diz estudo

Falta de hedge desempenhou papel importante no colapso do Silicon Valley Bank (SVB) no mês passado

SBV tinha pouca cobertura para sua carteira e falta de hedge foi um dos fatores que levaram à falência (Sheldon Cooper/SOPA Images/LightRocket/Getty Images)

SBV tinha pouca cobertura para sua carteira e falta de hedge foi um dos fatores que levaram à falência (Sheldon Cooper/SOPA Images/LightRocket/Getty Images)

Publicado em 18 de abril de 2023 às 16h50.

Última atualização em 18 de abril de 2023 às 16h56.

Poucos bancos dos Estados Unidos se protegeram contra o aumento das taxas de juros durante a campanha de aperto monetário do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) no ano passado. É o que diz um artigo de quatro pesquisadores de universidades americanas.

Os autores do estudo são os professores Erica Jiang, da Marshall School of Business da University of Southern California, Gregor Matvos, da Kellogg School of Management da Northwestern University, Tomasz Piskorski, da Columbia Business School, e Amit Seru, da Stanford Graduate School of Business.  Eles apontam que os títulos sem cobertura (hedge) estão mais disseminados que os investidores imaginam.

O artigo entitulado "Hedge limitado e apostas em ressurreição pelos bancos dos EUA durante o aperto monetário de 2022?", afirma que centenas de bancos americanos não estão com suas carteiras protegidas. Vale lembrar que a questão desempenhou um papel importante no colapso do Silicon Valley Bank (SVB) no mês passado

Em todo o setor bancário, apenas cerca de 6% dos ativos bancários estavam protegidos por hedges de swaps de taxas de juros, diz o estudo. O SVB, por exemplo, havia coberto cerca de 12% de sua carteira de títulos no final de 2021, mas apenas 0,4% no final de 2022.

Mesmo com as taxas continuando a subir ao longo de 2022, cerca de um quarto dos bancos de capital aberto reduziram seu hedge de proteção no ano passado, de acordo com os autores. O artigo, no entanto, não listou instituições individuais, apenas apresentou uma análise de dados agregados.

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O que aconteceu com o Silicon Valley Bank (SVB)?

O Silicon Valley Bank (SVB) era um banco de médio porte especializado no financiamento de startups. A falência do banco foi decretada no dia 10 de março e deu início a um período de turbulência, com os investidores temendo uma reedição da crise financeira de 2008. As autoridades se apressaram a prestar socorro e dizer que a crise não era sistêmica – ou seja, que não se espalharia para outros bancos. 

Antes de quebrar, o Silicon Valley Bank era o 16º maior banco americano, com mais de US$ 200 bilhões em ativos, US$ 175 bilhões em depósitos e 40 anos de história em financiamento de startups, em especial de tecnologia. A semente que culminou na falência do SVB ganhou força entre 2020 e 2022, quando as startups passaram por um boom de financiamento em meio a taxas de juros baixíssimas, no patamar entre 0% e 0,25%. 

Com mais dinheiro entrando nas empresas, mais capital foi depositado no SVB. E com o dinheiro dos depósitos, o banco do vale do Silício comprou títulos do governo e títulos privados de hipotecas. Entra aí uma falha de alocação: o SVB concentrou 78% das compras em títulos de longo prazo, cujo preço é inversamente proporcional à taxa de juros.

Os juros dispararam e o valor da carteira despencou, junto com o preço dos títulos. Inicialmente, era possível fingir que as perdas não estavam lá, já que as normas de contabilidade americanas não exigem que elas sejam contabilizadas – ao menos não até o vencimento ou venda dos títulos. A estratégia de concentração de risco talvez conseguisse passar sem represálias se as startups não estivessem sacando seus depósitos de olhos na elevação de taxas do Fed – tanto porque precisavam de dinheiro como para aplicar em operações mais rentáveis com os juros mais altos.

Quando o dinheiro começou a sair dos cofres do SVB, o banco foi obrigado a vender parte dos títulos de longo prazo e a reconhecer US$ 1,8 bilhão em perdas na carteira. Para cobrir o buraco, propôs uma captação de US$ 2,2 bilhões em uma oferta de ações, que foi mal recebida no mercado. O estopim do pânico foi atribuído ao fundo de Peter Thiel, um dos investidores mais respeitados do Vale do Silício, que aconselhou as startups a sacar recursos do SVB. A notícia se espalhou como pólvora na restrita comunidade de venture capital, e culminou na maior corrida bancária da história dos Estados Unidos e na falência do Silicon Valley Bank. Entenda a história completa aqui.

*Com Estadão Conteúdo

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