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Magazine Luiza e Via Varejo: o que esperar da ação com o fim do auxílio?

Redução da renda de milhões de brasileiros e medidas de restrições em lojas por causa da segunda onda de covid devem afetar as vendas no curto prazo

Depois de uma alta expressiva em 2020, as ações do Magazine Luiza devem ser impactadas pela queda do consumo neste ano, em parte em razão do fim do auxílio emergencial (Magazine Luiza/Divulgação)

Depois de uma alta expressiva em 2020, as ações do Magazine Luiza devem ser impactadas pela queda do consumo neste ano, em parte em razão do fim do auxílio emergencial (Magazine Luiza/Divulgação)

BA

Bianca Alvarenga

Publicado em 15 de janeiro de 2021 às 20h14.

Última atualização em 18 de janeiro de 2021 às 08h15.

A distribuição histórica de renda promovida pelo auxílio emergencial ajudou a manter o nível de consumo no Brasil em 2020. Foram mais de 280 bilhões de reais pagos a cerca de 68 milhões de brasileiros ao longo do ano, criando um efeito em cascata sobre os ramos do varejo. Junto com as medidas de distanciamento social, que aceleraram a digitalização dos hábitos de consumo, o auxílio ajudou a dar um gás para as ações de algumas empresas do varejo que estavam mais bem preparadas, como Magazine Luiza (MGLU3), Via Varejo (VVAR3) e B2W (BTOW3). As ações do Magalu, por exemplo, subiram 110% em 2020.

Mas a última parcela do benefício deverá ser creditada no fim de janeiro, o que deixará dezenas de milhões de pessoas sem uma fonte definida de renda já no mês que vem, com um potencial efeito dominó -- desta vez, negativo -- sobre a atividade econômica e o consumo.

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O quadro deve impactar empresas que dependem do consumo das famílias para crescer. No ano passado, a distribuição do auxílio emergencial impediu a queda das vendas do comércio. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o varejo registrou avanço de 1,3% entre janeiro e novembro de 2020 (dado mais recente).

Agora, sem o auxílio emergencial e com uma nova onda de casos de covid-19 atingindo as principais cidades do país e levando a novas restrições de funcionamento, lojistas devem começar a sentir novamente nos próximos meses os efeitos mais agudos da crise.

A perspectiva de curto prazo não é favorável para as empresas de varejo listadas na bolsa, em linha com um desempenho visto desde o início de novembro: as ações do Magazine Luiza (-13%), da Via Varejo (-28%) e da B2W (-15%) estão amargando quedas desde picos em outubro ou novembro. Na maior parte do ano passado, essas empresas foram líderes do crescimento na bolsa, em razão do avanço das vendas digitais durante o período de isolamento social.

"Os números de operadoras de vendas, como a Cielo, fazem uma leitura à frente dos dados oficiais. Por essa métrica já dá para ver um enfraquecimento do varejo. O mercado não está sendo pego de surpresa, porque de certa forma esse cenário já foi calculado nos últimos meses e está refletido no valuation das empresas, principalmente nas que dependem mais das vendas físicas", diz Bruno Lima, analista de ações da EXAME Research.

Desde o início de 2021, as ações do Magazine Luiza caíram 4,4%. A Via Varejo amargou uma queda ainda maior, de quase 10%. Nem mesmo a divulgação de uma prévia operacional positiva, a alta de 20% nas vendas para o Natal, conseguiu trazer os investidores às compras dos papéis da Via Varejo neste ano. A prévia saiu no dia 4 de janeiro, e as ações encerraram a primeira semana do ano em queda de 3,9%, na contramão da alta de 5% do Ibovespa.

A única que cresceu nesta primeira quinzena do ano foi a B2W, com alta de 8,1%. Apesar de ter ganhado mais que as outras, as ações da dona da Americanas.com e do Submarino continuam 35% abaixo do pico de 2020.

O fim do auxílio afeta outro fator muito importante para o consumo: o emprego. Com o fim da ajuda do governo, muitos brasileiros voltarão a buscar um trabalho, o que deve ampliar os dados de desocupação já nos próximos meses. A queda de renda somada aos efeitos da segunda onda da pandemia do coronavírus devem deprimir o consumo no primeiro semestre de 2021.

"São complicações de curto prazo para o desempenho das varejistas, mas ainda acho que transformação que vimos durante a pandemia é forte. O consumo digital cresceu e as grandes empresas ganharam mercado, em razão do fechamento de concorrentes menores", diz Henrique Esteter, analista de ações da Guide Investimentos.

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Ele afirma que a bolsa está vendo uma migração de recursos entre setores. O varejo, antes grande beneficiado pela crise, está sendo trocado por empresas de commodities, que devem surfar na onda da recuperação econômica global. Conforme o risco doméstico diminui, é possível que o horizonte para o consumo fique mais favorável -- mas só no médio prazo.

Essa também é a visão do banco Goldman Sachs. Em relatório distribuído a clientes na semana passada, analistas do banco apontaram para uma queda nas vendas do varejo no primeiro semestre, acentuada pelo crescimento de casos de covid-19 antes da ampla distribuição da vacina.

"Conforme as campanhas de vacinação alcancem uma proporção maior da população, a confiança e o mercado de trabalho vão se recuperar", prevê a equipe do Goldman. Embora vejam um segundo semestre mais produtivo, os analistas pontuam, no entanto, que levará tempo até que o comércio como um todo se recupere.

Quando isso acontecer, os setores de alimentação e de comércio digital devem sair à frente na retomada. O banco americano espera, por exemplo, uma valorização de até 33% nas ações do Carrefour (CRFB3) no final do ano. Já os papéis da B2W (BTOW3), cujas operações são concentradas no comércio online, podem subir 29%.

Por outro lado, empresas de bens não-essenciais, como vestuário e calçados, devem perder valor até o final do ano. A projeção do Goldman é de um downside de 11% nas ações da Arezzo (ARZZ3) e de 12% nos papéis da Cia Hering (HGTX3).

Auxílio prorrogado?

Um novo programa de distribuição de renda não está totalmente descartado, principalmente se as autoridades precisarem recorrer a novas medidas de fechamento do comércio. Não há, no entanto, nenhuma programação do governo para que isso aconteça, e a situação do orçamento federal não é favorável a uma nova rodada do auxílio.

"O governo vai começar a discutir a agenda fiscal e de reformas depois da eleição da Câmara, marcada para fevereiro", lembra Lima, da EXAME Research. Até lá, o grau de incerteza continuará alto, o que tende a penalizar os ativos da bolsa de valores.

Na visão de Lima, se o governo conseguir emplacar a liderança da Câmara e encaminhar uma agenda de contenção dos gastos federais, é possível que a gestão atual ganhe um voto de confiança do mercado financeiro, mesmo com todos os efeitos negativos da pandemia no curto prazo. A capacidade de montar uma boa estratégia de vacinação também estará à prova, como observam os analistas do Goldman.

De qualquer forma, é possível que as ações das varejistas, assim como o próprio Ibovespa, passem por mais um período de fortes oscilações antes de definir um rumo pós-pandêmico.

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