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Lupatech apela a empréstimos de curto prazo para suprir o caixa

Empresa quer levantar até R$ 700 milhões com a venda de ações a sócios como forma de se financiar

O rendimento dos títulos da Lupatech disparou para o maior patamar em registro de 28% em 25 de novembro (Germano Lüders/EXAME)

O rendimento dos títulos da Lupatech disparou para o maior patamar em registro de 28% em 25 de novembro (Germano Lüders/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 27 de fevereiro de 2012 às 10h59.

Rio de Janeiro - A Lupatech (LUPA3), prestadora de serviços ao setor de petróleo que enfrenta dificuldades de caixa, está se voltando à opção de empréstimos de três meses e tenta levantar até R$ 700 milhões com a venda de ações a sócios como forma de se financiar.

Enquanto os títulos perpétuos da Lupatech denominados em dólar dispararam desde novembro com especulações de que a companhia vai conseguir evitar um calote, a taxa de 12,65 por cento dos papéis é 181 pontos-base mais alta que as da companhia aérea Gol Linhas Aéreas Inteligentes SA, que teve de cancelar uma captação externa em fevereiro.

Lupatech, que fez 17 aquisições entre 2007 e 2010 em antecipação aos novos negócios que poderiam surgir com a maior descoberta de petróleo das Américas em mais de três décadas, tenta sanar suas finanças depois que a queda nos lucros reduziu a confiança dos investidores. A companhia obteve R$ 88,2 milhões em financiamentos com taxa de 16 pontos percentuais desde 5 de janeiro.

A empresa disse em 17 de fevereiro que completará a venda de ações até meados de março. “Com o histórico problemático da Lupatech, vai ser extremamente caro” para eles emitir dívida no mercado externo, disse Jansen Moura, analista de dívida corporativa da BCP Securities, em entrevista por telefone de São Paulo. “Companhias mais fortes” não conseguiram levantar recursos no mercado externo com os investidores reduzindo o interesse pelos títulos de dívida de maior risco do Brasil, disse ele.

A Gol, segunda maior companhia aérea do País por valor de mercado, foi a terceira emissora brasileira a cancelar planos de captação no exterior este mês. O Grupo Farias, de açúcar e álcool, suspendeu o plano de emitir títulos denominados em dólares em 9 de fevereiro.

Taxa recorde

Após a tentativa frustrada do Grupo Farias, o frigorífico Rodopa Exportação de Alimentos & Logística Ltda., empresa de capital fechado, resolveu esperar até o segundo semestre para estrear no mercado externo de bônus, disse o presidente da companhia, Sérgio Longo, disse em entrevista em 14 de fevereiro.

O rendimento dos títulos da Lupatech disparou para o maior patamar em registro de 28 por cento em 25 de novembro. A alta foi em reação às vendas abaixo do esperado para a Petróleo Brasileiro SA, que derrubaram a posição de caixa da Lupatech para R$ 31 milhões no fim do terceiro trimestre, obrigando a empresa a procurar fontes externas de financiamento para cobrir custos. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social disse naquele dia que estava buscando “alternativas de mercado” para fortalecer as finanças da Lupatech, o que desencadeou uma valorização dos títulos.

Venda de ações

Em 29 de dezembro, BNDES e Petros, o fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, concordaram em comprar um total de R$ 300 milhões na venda de ações da Lupatech. Petros e BNDES são respectivamente segundo e terceiro maiores acionistas da empresa. A GP Investimentos Ltd. está comprando outros R$ 50 milhões, e o restante será oferecido a investidores que já têm participação na companhia.

A Lupatech não quis comentar o desempenho dos títulos, em e-mail enviado em resposta a perguntas da reportagem. Em comunicado enviado por e-mail, a assessoria de imprensa do BNDES disse que o banco não faz comentários sobre empresas de capital aberto.

A assessoria de imprensa da Petrobras também não quis fazer comentários sobre a Lupatech, de acordo com e-mail enviado em resposta a perguntas da reportagem.


Para Filippe Goossens, analista da Moody’s Investors Service, os acionistas minoritários da Lupatech vão definir se a empresa conseguirá captar o suficiente.

“Realmente depende dos acionistas minoritários”, disse Goossens em entrevista por telefone de São Paulo. “Se eles só conseguirem R$ 350 milhões, não será o bastante para dar tranquilidade suficiente.”

Rebaixamentos

Em 19 de outubro, a Moody’s cortou a nota de crédito da Lupatech em um nível para Caa2, três níveis acima da inadimplência. A nota Caa2, que implica 29 por cento de chance de calote dentro de um ano, é nove níveis abaixo da classificação da dívida do governo brasileiro. Na escala da Standard & Poor’s, a empresa tem nota dois níveis melhor, em B-, com perspectiva negativa.

Auro Rozenbaum, analista de renda variável do Bradesco SA, disse que a Lupatech vai continuar pagando dívidas, já que se encaixa nos esforços do governo para aumentar a participação das empresas nacionais no setor petrolífero. O País pretende mais que dobrar a produção petrolífera na próxima década desenvolvendo os poços da camada pré-sal.

“O governo definitivamente está envolvido no fomento à indústria local”, disse Rosenbaum em entrevista por telefone. “Uma concordata da Lupatech seria muito constrangedora neste momento.”

San Antonio

A Lupatech fechou um acordo para comprar a San Antonio Brasil, que atua na prefuração de poços de petróleo, como condição para a participação do BNDES, da Petros e da GP Investimentos na oferta de ações. A empresa vai vender as ações a R$ 4,00 cada, um desconto em relação ao fechamento de R$ 6,39 na última sessão.

A empresa vai se concentrar na exploração após sua aposta em produção não deu resultados. A produção da Petrobras cresceu no ano passado no ritmo mais fraco desde 2007 devido a atrasos em entregas de equipamentos e ao foco em investimentos da estatal na exploração.

“A recapitalização é um ponto crítico”, disse Goossens, da Moody’s. “Se não ocorrer, eles terão que bolar algo rapidamente. O fluxo de caixa não é suficiente para cumprir as necessidades de pagamento da dívida.”

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