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Lula x Bolsonaro: quais ações mais se beneficiam da vitória de cada candidato

Eleições entram no foco de investidores às vésperas do segundo turno; brasileiros vão às urnas neste domingo, 30

Lula x Bolsonaro: resultado por ter efeitos particulares na bolsa (Lula: Ricardo Stuckert / Bolsonaro: Renato Pizzutto/Band/Divulgação)

Lula x Bolsonaro: resultado por ter efeitos particulares na bolsa (Lula: Ricardo Stuckert / Bolsonaro: Renato Pizzutto/Band/Divulgação)

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Guilherme Guilherme

Publicado em 27 de outubro de 2022 às 12h58.

Última atualização em 27 de outubro de 2022 às 14h25.

As expectativas de que as eleições tivessem pouco impacto no mercado brasileiro se tornaram algo do passado, com o acirramento da disputa presidencial no segundo turno entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL). Incertezas de quem sairá vencedor têm alimentado as especulações e provocado um intenso sobe e desce na bolsa nos últimos dias.

É nesse cenário que investidores chegam para as últimas horas de pregão antes de ser decidido quem comandará o Brasil pelos próximos quatro anos. O resultado, independentemente de quem vença, poderá ser essencial para puxar o preço das ações para cima ou para baixo. Veja quais setores mais se beneficiam com a vitória de um ou outro candidato.

Ibovespa

Embora a tese de que, para a bolsa, "tanto faz" o vecendor tenha predominado no início eleições, esse discurso tem ficado de lado. Sinalizações de que Lula será mais ao centro em seu eventual governo e até mesmo apoio de grandes nomes da economia brasileira à sua candidatura chegaram a impulsionar a bolsa durante a corrida eleitoral.

Mas nenhum rali foi tão intenso quanto o que sucedeu o resultado do primeiro turno, em que Bolsonaro se mostrou mais forte que o indicado pelas pesquisas, bem como seus aliados nas disputas pela Câmara e Senado. Em apenas um pregão, o Ibovespa saltou mais de 5%, registrando sua maior alta desde abril de 2020, quando o mercado vivia dias de altíssima volatilidade pelo início da pandemia da covid-19.

"O mercado está atento a como será o arcabouço fiscal desenhado após as eleições. Com Bolsonaro, deve haver maior rapidez na criação de uma solução, que tende a ser mais pró-mercado", afirmou Luiz Souza, especialista em renda variável da SVN Investimentos.

Na semana passada, quando pesquisas de intenção de voto apontaram avanço de Bolsonaro, o Ibovespa acumulou 7% de alta. Ainda que grandes investidores tenham suas preferencias particulares para o pleito deste domingo, 30, o consenso é de que, ao menos no curto prazo, a bolsa se beneficiaria mais com a reeleição do candidato do PL. Mas os efeitos da vitória de um ou outro candidato devem ser diferentes, dependendo do setor.

Estatais

Tendo o governo como acionista controlador, as estatais são, de longe, as mais impactadas pelas eleições presidenciais. "O que se imagina é que as estatais teriam muito mais valor em um governo Bolsonaro. Isso por conta do viés menos estatizante e de privatização, que levaria a uma valorização brutal. Foi o que vimos nos dias em que o Bolsonaro cresceu nas pesquisas", disse Francisco Levy, estrategista-chefe da Empiricus Investimentos

A apenas uma semana do pleito final, a Petrobras (PETR4) chegou a bater seu maior valor de mercado da história, com o avanço de Bolsonaro nas pesquisas. Mas a valorização foi revertida nos pregões seguintes, com estabilização de Lula na liderança. Outra estatal federal, o Banco do Brasil (BBAS3), seguiu a mesma toada nos últimos dias.

"Mesmo com o histórico de intervenções do governo Bolsonaro nas estatais, ainda vejo como mais fácil elas se manterem no caminho da lucratividade com ele", disse Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.

Em relatório sobre a Petrobras, o BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da Exame) afirmou que há um risco binário de investir na empresa associado às eleições. "Assim, recomendamos cautela redobrada. Neste ponto, o potencial de alta e baixa são significativos", disseram os analistas.

Educação

Promessas de Lula de retomar o Fies, caso eleito, chegaram a impulsionar ações do setor de educação durante o período de campanha. A visão do mercado é de que o aumento de subsídios para o ingresso no ensino superior privado se traduziria em mais receita para conglomerados de educação.

Durante os tempos áureos do programa, estudantes que dependiam do Fies chegaram a representar mais de 40% da base total de alunos da Ser, Yduqs e Ânima, segundo levantamento do BTG Pactual.

Na bolsa, ações do setor têm andado quase que em direção contrária às das estatais. Nesta semana, tendo no radar a estabilização de Lula na liderança das pesquisas, ações da Ser (SEER3), Yduqs (YDUQ3) chegam a acumular mais de 10% de alta

"Empresas que atendem o Fies devem ser mais beneficiadas por uma vitória de Lula e praticamente todas as listadas têm esse componente na receita. Mas ainda há dúvidas sobre novas regras, como se haverá Fies EaD", disse Cruz, da RB.

Contrução 

Uma possível vitória de Lula ainda deve impulsionar ações de incorporadoras, especialmente as de baixa renda, segundo analistas. A expectativa deriva de promessas de impulsionar o programa Minha Casa Minha Vida (atualmente chamado de Casa Verde e Amarela), caso eleito. Plano & Plano (PLPL3), Direcional (DIRR3) e MRV (MRVE3) são algumas com áreas dedicadas à moradia popular.

"Com a volta do Minha Casa Minha Vida poderia haver mais benefícios para a população dentro do programa, impactando diretamente as empresas que trabalham com esse segmento", disse Victor Bueno, analista de small caps da Nord Research.

Varejo

A perspectiva de que Lula seja menos austero em sua política fiscal também deve beneficiar ações do varejo, segundo Levy. "Poderia ser um estímulo adicional no curto prazo pela maior propensão de Lula aos estímulos fiscais", afirmou.

A percepção é semelhante à de Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos. "O mercado esta projetando alguns cenários e ações de consumo de massa seriam favorecidas por um governo Lula. Em teoria, deve haver mais crédito e políticas sociais mais fortes", disse.

Souza, da SVN, ainda adiciona aos beneficiados por um governo Lula o setor de shoppings voltados para renda mais baixa. "Deve haver aumento de programas de assistência social e distribuição de renda, o que favorece a classe mais baixa. Entre os shoppings, a Aliansce Sonae  (ALSO3) está entre as que têm exposição a esse público."

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