Estatal deve aumentar investimentos em abastecimento em cerca de 105% (.)
Da Redação
Publicado em 23 de março de 2010 às 09h16.
Apesar de reportar um lucro acima do esperado pelos analistas, a Petrobras não empolgou os investidores com seus resultados, divulgados na última sexta-feira (19/03). Nesta segunda-feira (22/03), as ações da companhia "andaram de lado", como diz o jargão do mercado, e fecharam o pregão em alta de 0,07% (PETR3 ações ordinárias) e 0,03% (PETR4 ações preferenciais).
Entretanto, para os analistas, a culpa para o atual o mau humor do mercado com relação aos papéis da estatal não pode ser atribuída aos resultados. "Os números ficaram dentro do esperado e foram bons", diz Erick Scott, analista da corretora SLW. Para ele, algo que pode ter desagradado os investidores é a maneira como a Petrobras quer distribuir os 88 bilhões de reais que pretende investir em 2010.
Segundo informações divulgadas pela empresa, do total previsto, 33,9 bilhões de reais devem ser aplicados no desenvolvimento da rede de abastecimento da empresa. O montante representa um aumento de mais de 100% em relação aos 16,5 bilhões de reais investidos em 2009. "O mercado prefere ver investimentos direcionados para a exploração e produção de petróleo", diz Scott. Neste setor a Petrobras deve investir 36,7 bilhões de reais, cerca de 20% a mais do que em 2009 (30,8 bilhões).
Andrés Kikuchi, analista da corretora Link Investimentos, destaca em relatório outra questão que deve preocupar os investidores. A Petrobras incrementou o orçamento de capital previsto para 2010. O valor aprovado inicialmente, em agosto de 2009, era de 79,5 bilhões de reais, mas o montante foi atualizado para os atuais 88,5 bilhões.
Para o analista, o novo valor deve aumentar a necessidade de novos financiamentos na Petrobras, uma vez que os investimentos previstos superam a capacidade de geração de caixa operacional da companhia. Além disso, o conselho de administração autorizou a continuidade da revisão do plano de negócios para os anos 2010 a 2014, com o valor de referência entre 200 e 220 bilhões de dólares. Isso equivale a um aumento de pelo menos 14,7% sobre o montante do plano de 2009 a 2013 (174,4 bilhões de dólares).
"O mercado ainda faz contas para checar o grau de alavancagem, a dívida líquida e o Ebitda da Petrobras. Por enquanto, a situação está dentro do esperado para uma empresa com grau de investimento", diz Erick Scott, da SLW.
O consenso entre os analistas é que o balanço, apesar de satisfatório, não deve ter impacto significativo no desempenho dos papéis. "Destacamos a melhora das margens operacionais (da Petrobras), porém não acreditamos que este resultado possa influenciar o comportamento das ações", diz o analista Victor de Figueiredo, da corretora Planner.
Além da questão do endividamento, os analistas concordam que os papéis ainda terão comportamento volátil enquanto as questões ligadas à capitalização da Petrobras para explorar o petróleo na camada pré-sal não forem resolvidas. O plano, que atualmente tramita no Senado, aguarda aprovação e poucos detalhes sobre ele foram divulgados. Até lá, os papéis devem mostrar um comportamento tímido, como aconteceu até agora.