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Lições de longo prazo segundo dois dos principais investidores brasileiros

Roberto Vinhaes e Mauricio Bittencourt participaram do evento BRASA Talks

Uma das principais dificuldades do investimento a longo prazo é manter a disciplina, dizem os especialistas (Jonathan Kitchen/Getty Images)

Uma das principais dificuldades do investimento a longo prazo é manter a disciplina, dizem os especialistas (Jonathan Kitchen/Getty Images)

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Beatriz Quesada

Publicado em 25 de novembro de 2020 às 07h00.

Última atualização em 25 de novembro de 2020 às 11h20.

O investimento a longo prazo praticamente não existia no Brasil quando Roberto Vinhaes fundou a gestora Investidor Profissional, em 1988. “As decisões de investimento eram tomadas com base em leitura de jornais e na opinião de alguém com quem você conversou no almoço. Não tinha uma base analítica”, comentou Mauricio Bittencourt, sócio fundador da Velt Partners e ex-funcionário da IP Capital Partners (IPCP), onde começou carreira. Bittencourt e Vinhaes participaram nesta terça-feira, 24, do BRASA Talks, evento online de economia, investimentos e mercado financeiro promovido pela BRASA, associação de estudantes brasileiros no exterior.

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No painel “Ações para o Longo-Prazo”, os dois gestores trouxeram lições embasadas em 30 anos de atuação no mercado financeiro focados em investimento em valor. A teoria do “value investing” foi desenvolvida pelo economista Benjamin Graham e tem como um de seus principais propagadores Warren Buffett, tido como maior investidor de todos os tempos. Os seguidores dessa corrente escolhem comprar ações de empresas que estejam sendo negociadas no mercado a um preço abaixo de seu verdadeiro valor.

No Brasil, a IPCP é pioneira tanto na adoção da estratégia quanto do próprio mercado de assets independentes. Isso porque, no final da década de 80, toda a indústria brasileira de fundos estava nas mãos de grandes bancos. “A gestora começou baseada no princípio de olhar para o exterior e tentar replicar o modelo de assets. Por aqui não existia gestor regulamentado, não existia nada”, relembra o fundador. Em sua tentativa de analisar o mercado americano, Vinhaes trocou correspondências com o próprio Buffett, que chegou a enviar alguns relatórios antigos para o Brasil a pedido do colega. 

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(BTG Pactual Digital/Divulgação)

Após três décadas na área, Vinhaes comenta que uma das principais dificuldades da estratégia é manter a disciplina. “Toma tempo provar que uma determinada tese de investimento é boa. É mais fácil provar uma ideia errada que uma certa”, afirmou. O investidor de longo prazo, então, deve manter o foco no futuro e ignorar as tentações de curto prazo. Bittencourt acrescenta, no entanto, que o horizonte mais curto também tem seu valor. “Existem informações importantes a serem lidas no cenário atual. Separando o que é ruído do que é sinal para o amanhã é uma arte”, completa.

Crescimento versus valor

Nos últimos anos, os adeptos do value investing foram confrontados com a ascensão rápida de empresas de tecnologia que desafiaram os dogmas estabelecidos pela estratégia. O movimento deu origem à filosofia do growth investing, que busca precificar o potencial de valorização da companhia. Para Bittencourt, as duas vertentes são, na verdade, a mesma. “Tudo que nós fazemos é orientado a valor, isso não muda. A alteração está na avaliação do valor, que pode perder parte da relação com as métricas de curto prazo”, afirma.

Vinhaes é mais taxativo e afirma que esse tipo de investimento não se encaixa com seu estilo. “Eu investi no Jeff Bezos [fundador da Amazon] porque acreditei nele enquanto empreendedor, então meu foco continua sendo em pessoas”, completa. Investir em tecnologia, claro, faz parte da rotina de qualquer gestor. Mas, quando se trata a empresas do universo “tech”, muito focadas em crescimento exponencial, Vinhaes diz prefere terceirizar a escolha para um colega especializado que tome essa decisão de investimento por ele.

Confira a agenda das conversas nos próximos dias:

Dia 25/11, às 16h30: O economista André Lara Resende faz uma reflexão sobre a história da política monetária no Brasil ao mesmo tempo que insere novas abordagens sobre o tema como a Teoria Monetária Moderna (MMT). A ideia é complementar a visão fiscalista e as consequências de longo prazo no crescimento estrutural do país.

Dia 26/11, às 18h: O economista Gustavo Franco discute o futuro do dinheiro em um painel para debater o déficit fiscal brasileiro e crescimento mediante investimento em gastos públicos. Franco discutirá a importância da manutenção do teto de gastos, o atual momento da baixa taxa de juros e alavanca para retomada de crescimento após a pandemia.

Dia 27/11, às 16h: Ilan Goldfajn e José Carlos Carvalho falam sobre economia internacional e o reflexo no Brasil. Os economistas vão abordar as principais oportunidades perante as economias desenvolvidas e quais mudanças estruturais precisam ser implementadas que o Brasil possa atingir seu potencial de crescimento.

Dia 27/11, às 18h: O investidor André Jakurski fará um panorama completo sobre o que está ocorrendo no mundo e afetando a alocação de portfólio. A discussão envolverá uma análise de eventos políticos, econômicos e sociais que devem influenciar preços e avaliações de ativos nos próximos anos.

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