Labubu: celebridades como David Beckham e Rihanna já declararam publicamente seu apreço pelos bonecos ( VCG/VCG/Getty Images)
Redatora
Publicado em 24 de junho de 2025 às 13h09.
Se você ainda não ouviu falar das bonecas Labubu, prepare-se, pois eles são a nova febre global. As pequenas criaturas de aparência peculiar, vendidas em caixas-surpresa pela Pop Mart, conquistaram celebridades como Rihanna, que foi vista com uma Labubu rosa pendurada em sua bolsa Louis Vuitton, e David Beckham, que exibiu o que recebeu de presenta da filha Harper.
O fenômeno impulsionou as ações da Pop Mart, que acumulam alta de 170% desde o início do ano. Mas, segundo a The Economist, essa febre é apenas a ponta do iceberg. Marcas chinesas estão ganhando destaque não apenas no mercado interno, mas também internacionalmente, desafiando gigantes ocidentais em setores como moda, beleza, alimentação e tecnologia. Combinando preços competitivos, qualidade e apelo cultural, essas empresas estão redefinindo o consumo global.
O avanço acontece em um momento de crescimento econômico fraco na China, que tem pressionado a renda das famílias. Ainda assim, justamente por estarem mais sensíveis aos preços, os consumidores passaram a priorizar marcas locais, que oferecem uma boa qualidade por um preço mais em conta.
É o caso de redes como Cotti e Luckin, que oferecem cafés com qualidade semelhante aos da Starbucks, mas cobrando cerca da metade do preço. No mundo das joalherias, a Laopu Gold ganhou espaço vendendo peças sofisticadas e mais baratas que as da tradicional Tiffany. No segmento de bolsas, a Songmont investe pesado em publicidade para mostrar que seus produtos custam até metade dos equivalentes estrangeiros.
Mas não se trata só de economia. Muitas marcas locais se posicionam como premium. A rede de chás Chagee, que abriu capital em Nova York em abril, vende lattes por preços similares aos da Starbucks na China. No mercado de carros elétricos, marcas como NIO e Li Auto vêm ganhando espaço no segmento de entrada do luxo, com modelos entre 200 mil e 400 mil yuans, faixa antes dominada pelas montadoras estrangeiras.
A força das marcas chinesas também reflete uma mudança cultural, como mostra a The Economist. Se antes produtos importados eram sinônimo de qualidade e desejo, agora os consumidores priorizam itens que refletem sua identidade. A joalheria Laopu, por exemplo, aposta em design com forte inspiração chinesa, e viu suas ações subirem mais de 2.000% desde sua estreia na bolsa de Hong Kong há pouco mais de um ano.
O fenômeno se repete na beleza. A Mao Geping, marca de maquiagem que leva o nome de seu fundador, levantou US$ 300 milhões no seu IPO no fim de 2024 e já acumula valorização de 250%. Ela se tornou a primeira marca chinesa a entrar na lista das dez mais vendidas no segmento de maquiagem premium no país, antes dominado por gigantes como L’Oréal e Estée Lauder.
Diferente das multinacionais, que concentram esforços nas grandes cidades como Pequim e Xangai, muitas marcas chinesas cresceram a partir de cidades menores. A Chagee abriu sua primeira loja em Kunming, no sudoeste da China, e mantém boa parte das unidades fora dos centros mais ricos. A Mixue, rede de bebidas geladas, começou como uma barraca de raspadinhas em uma província pobre. A estratégia se reflete também no setor hoteleiro: a H World aposta em expansão nas chamadas cidades de terceiro e quarto escalão, onde o consumo continua aquecido.
Os números mostram que essa aposta dá resultado. Segundo dados da Bain, as vendas de bens de consumo cresceram 5,5% em 2024 nas cidades com menos de 1 milhão de habitantes, enquanto recuaram 4,6% nos grandes centros.
Diante desse cenário, marcas estrangeiras tentam reagir. A italiana Lavazza, por exemplo, lançou um café com ovo salgado, típico da culinária chinesa, mas com pouco apelo. Outras, como Starbucks e Häagen-Dazs, estão buscando investidores locais para tentar se reposicionar.
Só que o avanço não para na China. A Pop Mart já conta com mais de 20 lojas nos Estados Unidos. A Mixue se espalhou pelo Sudeste Asiático. E a Chagee deve fechar o ano com mais de 1.300 unidades fora da China, um salto impressionante para quem quase não tinha presença internacional quatro anos atrás.
Se durante décadas as tendências chegavam à China vindas do Ocidente, agora o caminho parece ser o contrário. E, ao que tudo indica, essa é uma mudança sem volta.