Imagem de satélite publicada pelo Planet Labs Inc mostra o navio porta-contêiner MV Ever Given bloqueando o tráfego no Canal de Suez (AFP/AFP)
Marcelo Sakate
Publicado em 29 de março de 2021 às 06h10.
Última atualização em 29 de março de 2021 às 06h42.
Seria apenas inusitado se não fosse trágico para a economia: o navio de carga encalhado desde terça-feira, 23, no Canal de Suez, uma das principais rotas globais do comércio, já se transformou em um incidente de proporções milionárias.
A rota marítima que corta encurta o caminho da África ao conectar destinos asiáticos à Europa tem peso relevante para o comércio global: 10% do total no critério de toneladas transportadas e 9% do comércio marítimo de petróleo.
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Por enquanto, especialistas afirmam que é cedo para calcular prejuízos permanentes decorrentes do bloqueio, diante da expectativa de que a situação possa ser solucionada dentro de alguns dias. A remoção parcial do navio nesta manhã de segunda-feira, 29, alimentou esperanças de que o problema possa ser solucionado em breve.
Os custos de frete marítimo começam a subir diante da expectativa de redução da disponibilidade de navios que estão à espera da liberação do Canal de Suez, mas não há casos concretos de escassez de produtos. Havia cerca de 300 embarcações à espera neste sábado, 27.
Para um dos principais estrategistas do JPMorgan, Marko Kolanovic, é momento de já pensar em como se proteger e até em como tirar proveito da situação nos mercados.
"Embora nós acreditamos que a situação será resolvida em breve, existem alguns riscos do navio (...) o canal pode ficar bloqueado por um período mais prolongado, o que pode resultar em disrupções significativas no comércio global, fretes marítimos disparando, aumento das commodities de energia e uma alta na inflação", escreveu Kolanovic em nota a clientes.
No mesmo documento, o estrategista quantitativo do banco americano diz que esses riscos podem ser defendidos por meio de hedge com a compra de contratos futuros de petróleo e de ações relacionadas, como as de empresas de energia, de transportadoras marítimas etc.
Um ETF (Exchange Traded Funds, os fundos de índice) que acompanha os custos de fretes à granel seco dispararam 16% em dois dias, na quarta e na quinta, diante da avaliação de que haverá pressão sobre os preços de transporte. O ETF em questão é o Breakwave Dry Bulk Shipping (BDRY), que, no acumulado do ano, já teve acréstimo de 139%.