Kinea: gestora reduziu exposição ao ouro, citando aumento da volatilidade gerada por fluxos especulativos de pessoa física e o diferencial elevado de juros no Brasil. (rafastockbr/Freepik)
Repórter de Mercados
Publicado em 3 de novembro de 2025 às 09h32.
O ouro voltou ao centro da narrativa de mercado — mas não como símbolo de estabilidade, e sim de incerteza. Após manter posição comprada no metal desde 2022, a Kinea Investimentos decidiu reduzir a exposição, citando aumento da volatilidade gerada por fluxos especulativos de pessoa física e o diferencial elevado de juros no Brasil em relação a outros mercados emergentes.
“O movimento de valorização recente revela o cansaço de um sistema fiscal e monetário global que já não inspira a mesma confiança”, escreveu a gestora em carta mensal. A recente valorização do metal foi impulsionada por três fatores: cortes de juros nos Estados Unidos, déficits fiscais crescentes e entrada de investidores individuais no mercado.
“Optamos por reduzir nosso posicionamento em virtude de fortes influxos de pessoa física, que aumentaram substancialmente a volatilidade do metal no curto prazo”, escreveu a Kinea. A avaliação é que o aumento da especulação enfraqueceu a atratividade do ativo no horizonte de curto prazo.
No Brasil, a gestora manteve a estratégia que vem sustentando ao longo de 2025: posição comprada no real e aplicada na curva de juros, ancorada no diferencial positivo de taxas em relação a outros emergentes.
“O PIB deve rodar perto de zero no segundo semestre, e os indicadores de atividade estão no menor nível desde a pandemia”, diz a carta. A expectativa da Kinea é que o Banco Central inicie um ciclo de cortes apenas no início de 2026, o que mantém a atratividade relativa dos ativos locais no curto prazo.
Além disso, a inflação de longo prazo vem sendo revisada para baixo no boletim Focus, o que reforça a posição aplicada da gestora.
Na renda variável, a gestora reduziu a exposição ao Brasil e migrou posições para ações de tecnologia nos Estados Unidos, com foco em inteligência artificial. A avaliação é que o setor segue como motor do crescimento global, tanto pela via do investimento direto — como datacenters e semicondutores — quanto pelo chamado “efeito riqueza” sobre o consumo.
A economia americana vive uma espécie de cenário ideal: crescimento com queda de juros e lucros em alta, o que favorece ativos de risco.
Mesmo assim, a Kinea montou proteções via posições tomadas nos juros americanos, com o objetivo de balancear o portfólio — em especial nas alocações em emergentes como Brasil, México e África do Sul.