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Publicado em 15 de julho de 2025 às 08h32.
Os juros dos títulos públicos de 10 anos do Japão subiram para o maior nível desde a crise financeira de 2008, em meio a sinais de crise política e promessas populistas que aumentam o risco fiscal do país.
Segundo uma reportagem do Financial Times, a taxa dos papéis de uma década chegou a 1,59% nesta terça-feira, 15, antes de recuar ligeiramente para 1,58%, puxada por pesquisas que indicaram perdas significativas do Partido Liberal Democrata (PLD) nas eleições parlamentares para a câmara alta, marcadas para o próximo domingo.
Já a taxa dos títulos de 30 anos alcançou 3,21%, máxima histórica, antes de recuar para 3,17%. “O mercado vendeu títulos diante da expectativa de que o PLD vai perder a maioria na câmara alta”, disse Wei Li, chefe de investimentos multiativos do BNP Paribas na China, ao FT.
Em maio, o estrategista Albert Edwards, conhecido pelo pessimismo em suas previsões financeiras, alertou que um "Armagedom" dos mercados financeiros globais poderia estar próximo, considerando a alta dos juros japoneses.
“Os investidores continuam muito preocupados com os riscos à disciplina fiscal do Japão, em um ambiente de oferta e demanda estruturalmente frouxos”, de acordo com Koichi Sugisaki, estrategista de juros do Morgan Stanleyi.
Mark Dowding, diretor de investimentos em renda fixa da RBC BlueBay Asset Management, relatou à reportagem que a inclinação da curva de juros dos títulos japoneses decorre, em grande parte, da emissão excessiva de dívida a longo prazo. “Emitir muitos títulos que o mercado não quer é um erro de política econômica”, afirmou.
Alguns investidores temem ainda que, caso o PLD precise se aliar a partidos menores para garantir uma governança, as exigências por políticas mais populistas pressionem ainda mais as contas públicas, país com a maior dívida pública relativa entre as economias desenvolvidas.
Ainda segundo o jornal, o partido perdeu seu controle absoluto da câmara baixa do Parlamento japonês em outubro do ano passado, resultando na dependência de alianças com partidos menores.
Agora, a possibilidade de perder também a maioria na câmara alta amplia o risco de cenários que deem mais poder a partidos populistas, além da queda do primeiro-ministro Shigeru Ishiba ou até a convocação de eleições gerais antecipadas, segundo analistas ouvidos pelo FT.
Por outro lado, alguns especialistas destacam que a situação fiscal japonesa melhorou nos últimos anos, impulsionada pelo aumento da arrecadação com a inflação. “Os indicadores fiscais do Japão estão na melhor forma em décadas”, disse Stefan Angrick, chefe de economia japonesa da Moody’s Analytics, ao Financial Times.
A pesquisa mais recente da emissora NHK indicou que 24% dos eleitores apoiam o LDP, enquanto 7,8% estão com o principal partido de oposição, o Partido Democrático Constitucional. O restante se distribui entre partidos menores, incluindo 5,9% para o Sanseito, grupo de viés abertamente xenofóbico, que tem atraído parte do eleitorado já tradicionalmente ligado ao governo.