Mercado começa a acreditar que não há um plano de ajuste fiscal para o governo Dilma (Marcello Casal Jr./AGÊNCIA BRASIL)
Da Redação
Publicado em 9 de novembro de 2010 às 07h54.
Nova York - Oito dias depois da vitória de Dilma Rousseff nas eleições, o mercado de juros futuros duvida da capacidade da presidente eleita de conter a inflação.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro com vencimento em 2015 está subindo mais do que a taxa do contrato para 2011. Com isso, a diferença entre os dois aumentou para 123 pontos-base, a maior em cinco meses. Essa diferença sinaliza que o Banco Central terá que elevar o juro básico nos próximos anos para controlar a inflação. Desde 29 de outubro, último dia de negócios antes do segundo turno, a diferença aumentou 24 pontos- base, ou 0,24 ponto percentual.
Existe um receio crescente de que Dilma não vai conter os gastos públicos para ajudar o Banco Central a manter a inflação na meta. A presidente eleita disse em 3 de novembro que pretende aumentar o salário mínimo mais do que o planejado. A declaração veio três dias depois de afirmar em seu discurso de vitória que a população não tolera mais governos que gastam em níveis “insustentáveis”.
“O que tem ficado claro é que não existe nenhum plano de ajuste fiscal”, disse Marina Santos, economista da Squanto Investimentos em São Paulo. “Sem o ajuste fiscal, a inflação vai aumentar e parece que o novo governo terá uma tolerância com inflação mais alta. Um dia ela diz uma coisa, no seguinte, outra. Investidores estão exigindo um prêmio maior por causa da incerteza.”
A taxa dos contratos de DI para 2015 aumentou 12 pontos- base para 11,88 por cento ontem depois de uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo afirmando que Dilma pode substituir Henrique Meirelles na presidência do Banco Central e pressionar por um corte no juro básico na primeira reunião de política monetária em 2011.
“O Banco Central se pronuncia apenas por meio dos seus documentos oficiais e não faz análises extemporâneas de conjutura”, disse ontem o BC em nota enviada por e-mail.
Mínimo e dívida
A presidente eleita “manterá os fundamentos da atual política econômica e não tomará qualquer medida que cause intranquilidade ao mercado”, disse a assessoria de imprensa da equipe de transição em nota enviada ontem por e-mail.
Dilma disse a repórteres em 3 de novembro que o salário mínimo poderia subir dos atuais R$ 510 para mais de R$ 700 até 2014. A proposta atual do governo para 2011 é de um aumento de 5,5 por cento para R$ 538,15.
Ela também disse que planeja reduzir a dívida pública líquida de 41 por cento para 38 por cento do Produto Interno Bruto em quatro anos. Numa entrevista à revista Veja em junho, Dilma disse que pretendia diminuir a dívida líquida para 28 por cento do PIB como parte dos esforços para dar ao BC espaço para baixar os juros.
Juros
O BC elevou o juro básico em abril da mínima histórica de 8,75 por cento para 10,75 por cento para impedir um superaquecimento da economia. Investidores internacionais em busca de alternativas para os retornos próximo a zeros nos Estados Unidos, Japão e Europa inundaram o mercado brasileiro de renda fixa. Esse movimento levou o real ao maior nível em dois anos e o déficit em transações correntes para o recorde anual de US$ 47 bilhões.
O gasto do governo aumentou 27 por cento nos primeiros nove meses do ano, contribuindo para levar a inflação para acima da meta de 4,5 por cento. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo provavelmente avançou de 4,7 por cento para 5,1 por cento nos 12 meses até outubro, segundo a estimativa mediana de 25 economistas sondados pela Bloomberg. O relatório será divulgado hoje às 9h00.
“Não acho realista pensar que a nova presidente fará qualquer mudança radical nos programas fiscais”, disse Paulo Vieira da Cunha, ex-diretor do Banco Central e sócio da Tandem Global Partners LLC em Nova York. “É possível que ela tenha cuidado para não gastar rapidamente. Se fizer isso, ela vai ajudar a conter alguma pressão inflacionária, mas na verdade não muito.”