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JP Morgan diz que pacote fiscal 'não recuperou credibilidade' e projeta Selic a 14,25%

Segundo analistas do banco, Banco Central teria que elevar juros básicos em 1 ponto já em dezembro para conter pressão inflacionária

JP Morgan: 'Se os riscos fiscais se materializarem, e se a execução orçamentária do governo começar a ser comprometida, a depreciação da moeda pode ser ainda mais acentuada, forçando o Banco Central a adotar medidas mais radicais' (Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

JP Morgan: 'Se os riscos fiscais se materializarem, e se a execução orçamentária do governo começar a ser comprometida, a depreciação da moeda pode ser ainda mais acentuada, forçando o Banco Central a adotar medidas mais radicais' (Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 28 de novembro de 2024 às 17h07.

Com uma política fiscal ainda nebulosa após o pacote do governo e os riscos globais pesando sobre o mercado, o Banco Central terá de adotar uma postura cada vez mais agressiva para manter a inflação sob controle, avalia o time do JP Morgan. "O anúncio do pacote fiscal não conseguiu recuperar a credibilidade sobre a política econômica", escreveu o time em relatório distribuído nesta quinta-feira. 

Na visão do banco, o BC deverá optar pela elevação de 1 ponto percentual a taxa básica de juros (hoje em 11,25%), já na na próxima reunião. A estimativa do time é de que a Selic ao fim de 2025 não fique mais em 13%, mas, sim, a 14,25%. 

O banco de investimento revisou suas expectativas em resposta ao aumento das pressões inflacionárias, originadas tanto pela recente desvalorização do real quanto pela deterioração das expectativas de inflação no mercado.

A expectativa é de que o BC não só ajuste a taxa para 14,25% em breve, como também continue com a estratégia de aumentos graduais, com mais elevações de 100 pontos base previstas para fevereiro e outras duas de 0,5 ponto percentual ao longo de 2025.

No relatório, o JP Morgan destacou que a recente desvalorização da moeda brasileira adicionou aproximadamente 0,3 ponto percentual à projeção do BC para o segundo trimestre de 2026, agravando ainda mais o cenário inflacionário. As expectativas de inflação, que já estavam desalinhadas, passaram a apresentar uma alta significativa, com os breakevens (índices do mercado de títulos que refletem as expectativas de inflação futura) subindo em torno de 0,30 ponto percentual recentemente. Como resultado, o banco central se vê agora diante da necessidade de um ajuste mais agressivo para tentar controlar a inflação.

"Ao optar por um ajuste mais gradual, o risco é permitir que a inflação ultrapasse o limite superior da meta não apenas ao longo de 2025, mas também no início de 2026", afirmam os economistas do JP Morgan. A política monetária, portanto, precisaria ser mais decisiva para conter uma pressão inflacionária que já começa a se refletir na deterioração da confiança dos agentes econômicos.

Riscos fiscais e o cenário internacional

Os analistas apontam que o cenário fiscal continua sendo um fator crítico nesse processo. Embora o governo tenha avançado com um pacote de medidas fiscais que visam a reduzir o déficit público, a execução orçamentária continua sendo um ponto de atenção. Em especial, o risco de uma aceleração das medidas de estímulo fiscal, como o aumento do salário mínimo, pode agravar ainda mais a situação, ampliando a demanda em uma economia que já está aquecida.

Além disso, as tensões comerciais globais, particularmente com a China, também têm o potencial de intensificar a volatilidade cambial, um fator que pode aprofundar as pressões inflacionárias. O JP Morgan estima que, caso as tarifas sobre as importações chinesas sejam elevadas para 60%, como sugerem algumas projeções, a moeda chinesa deve se depreciar, o que pode gerar novos efeitos sobre a taxa de câmbio brasileira.

"Se os riscos fiscais se materializarem, e se a execução orçamentária do governo começar a ser comprometida, a depreciação da moeda pode ser ainda mais acentuada, forçando o Banco Central a adotar medidas mais radicais", afirmam os analistas.

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