Jamie Dimon tem um plano ambicioso antes de deixar o comando do maior banco dos Estados Unidos: transformar o JPMorgan Chase na primeira instituição financeira com valor de mercado de US$ 1 trilhão.
“Estamos só começando”, disse o executivo em entrevista à The Economist. Atualmente, o banco está avaliado em cerca de US$ 730 bilhões — mais que qualquer concorrente — e é responsável por 30% da capitalização de mercado de todo o setor bancário americano.
Dimon, que completará 70 anos em março, lidera o JPMorgan desde 2006 e ainda não definiu uma data para sua saída. “Sairei em alguns anos, mas não agora”, afirmou. Ele promete continuar como presidente do conselho da instituição, mesmo após a troca no comando executivo.
Uma máquina de eficiência
Sob sua liderança, o banco dobrou de tamanho e se tornou referência em eficiência no setor financeiro. O índice de eficiência do JPMorgan caiu para 51%, o mais baixo entre os grandes bancos americanos, o que significa que a instituição consegue gerar mais receita com menos custo.
O índice mede a eficiência dos bancos americanos ao comparar despesas operacionais sem juros com as receitas líquidas. Inclui custos como salários e aluguel, e receitas como juros e comissões. Quanto menor o índice, maior a eficiência, indicando que o banco gera mais receita com menos gastos. Investidores e reguladores valorizam esse desempenho por sinalizar maior lucratividade, resiliência e potencial de crescimento sustentável.
A instituição também aumentou fortemente sua presença geográfica: em 2021, tornou-se o primeiro banco com agências em todos os 48 estados contíguos dos EUA. A base de depósitos chegou a US$ 2,5 trilhões — uma das maiores armas competitivas da empresa.
Nos últimos dois anos, o banco pagou US$ 190 bilhões em juros sobre esses depósitos e faturou US$ 374 bilhões com empréstimos.
Para Dimon, eficiência e ambição caminham juntas. “Olhe para atletas como Serena Williams, Tom Brady ou Stephen Curry. Veja como eles treinam. Companhias, às vezes, esquecem o básico”, afirmou, ao criticar a burocracia que costuma afetar grandes empresas.
Quem assume o trono?
A sucessão de Dimon é uma das questões mais comentadas em Wall Street há mais de uma década.
Quatro executivos são considerados os favoritos internos: Mary Erdoes (gestão de fortunas), Marianne Lake (varejo), Douglas Petno e Troy Rohrbaugh (co-líderes do banco de investimentos).
“É preciso ter ética de trabalho, humildade, coragem, espírito de equipe e a habilidade de perguntar o tempo todo: ‘como posso fazer melhor?’”, disse Dimon sobre o perfil ideal de seu sucessor.
Concorrência agora vem da tecnologia
O maior desafio competitivo do JPMorgan não vem mais de outros bancos tradicionais.
“Queremos ser melhores do que as casas de trading não bancárias”, explicou Rohrbaugh, ao citar gigantes como Citadel e Jane Street. Já em pagamentos, fintechs como Stripe entraram na disputa. Para não perder espaço, o JPMorgan vai investir US$ 18 bilhões em tecnologia só neste ano — 40% a mais do que o Bank of America.
Não à toa, o analista Mike Mayo, do Wells Fargo, comparou o JPMorgan à Nvidia do setor financeiro. Ele acredita que o banco será o primeiro a atingir o valor de US$ 1 trilhão. “É o Goliath dos Goliaths”, disse ele à The Economist.
Expansão geográfica e aprendizados pós-crise
Depois da crise do Silicon Valley Bank, em 2023, o JPMorgan reforçou sua presença em áreas de inovação, contratando John China, ex-presidente da SVB Capital, para liderar a estratégia junto a startups e fundos de capital de risco. “Aprendemos que não estávamos fazendo o bastante para cobrir o Vale do Silício”, reconheceu Dimon.
Além disso, o banco decidiu expandir seu escritório em San Francisco em 30%, enquanto outras instituições recuam na região.
Críticas ao tamanho e peso político
O crescimento do JPMorgan também gera desconfiança em Washington. Em 2023, após a compra dos ativos do First Republic, o banco foi criticado por congressistas da esquerda e da direita. A senadora Elizabeth Warren e o vice-presidente J.D. Vance protestaram contra a operação.
Dimon rebateu: “As pessoas que criticam não entendem por que é importante termos um banco grande que opere em 100 países”.
O legado de Dimon
Mesmo diante da especulação sobre sua saída, Dimon segue firme. “Não apostaria contra eu continuar mais alguns anos”, disse à revista britânica. Desde que assumiu, muitos possíveis sucessores vieram e foram. Alguns, como Bill Winters, da Standard Chartered, podem até se aposentar antes de Dimon.
“Quando você assume um cargo de liderança, não há mais quem aprove suas decisões. É sua responsabilidade. Isso muda tudo", disse. “Pesada é a cabeça que usa a coroa.”