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Jamaica vai receber US$ 150 milhões de 'bond de catástrofe' após furacão Melissa

'Cat bond' foi emitido em 2024 e é alternativa a seguradoras na cobertura de desastres ligados ao aquecimento global

Jamaica: destruição após passagem do Furacão Melissa (Ricardo MAKYN / AFP/Getty Images)

Jamaica: destruição após passagem do Furacão Melissa (Ricardo MAKYN / AFP/Getty Images)

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 2 de novembro de 2025 às 06h00.

Títulos de catástrofe, instrumentos de dívida que transferem o risco de desastres naturais de seguradoras para investidores, podem ser acionados para socorrer a Jamaica, atingida em 28 de outubro pelo furacão Melissa, a pior tempestade já registrada na ilha do Caribe. O país deve receber US$ 150 milhões de um bond emitido em 2024, organizado pelo Banco Mundial, segundo o The Economist.

A última vez que um título climático foi pago integralmente ocorreu em 2022, com o furacão Ian. Vários bonds sofreram perda total do principal, segundo a Artemis, provedora de dados especializada em títulos vinculados a seguros.

Segundo o The Economist, o aumento de desastres ligado ao aquecimento global e a redução dos gastos com ajuda por muitos países ricos, levaram países vulneráveis a buscar alternativas ao mercado de seguros. Nesse contexto, os títulos de catástrofe têm se tornado cada vez mais populares entre os investidores.

Um recorde de US$ 17 bilhões desses instrumentos foi emitido durante o primeiro semestre de 2025, segundo a resseguradora suíça Swiss Re.

Retorno atraente

Com maior risco, os cat bonds, como são conhecidos, oferecem rendimentos superiores aos títulos convencionais. Até agora neste ano, o índice de cat bonds da Swiss Re registrou retorno acima de 10%, contra apenas 7% do índice de Treasuries americanas da Bloomberg. Esse desempenho recente se manteve mesmo diante dos incêndios em Los Angeles, uma das catástrofes mais caras da história, com estimativas de danos superiores a US$ 200 bilhões.

Segundo pesquisas do FMI, países propensos a furacões tendem a crescer mais lentamente e a acumular mais dívidas. Tempestades repetidas elevam a dívida pública, já que os governos enfrentam o custo da reconstrução, a perda de receita do turismo e o pagamento das próprias dívidas. Os credores sabem que regiões vulneráveis a tempestades apresentam risco maior.

Preparar-se com antecedência — por meio de buffers fiscais ou do “conjunto de instrumentos em múltiplas camadas” da Jamaica, que inclui linhas de crédito, seguros e cat bonds — ajuda a reduzir os danos. O país fez ambos: conseguiu reduzir sua dívida de mais de 140% do PIB em 2013 para 62% em 2024, após um programa do FMI.

Gatilho

Os cat bonds só pagam quando um limite específico é atingido. No caso da Jamaica, a “pressão atmosférica central” precisava cair abaixo de um determinado nível em pelo menos uma grid box da grade de 19 camadas sobre a ilha. Mesmo enquanto a tempestade ainda passava, era possível acompanhar se o gatilho tinha sido acionado.

O pagamento deste bond representa uma mudança em relação a 2024, quando um cat bond anterior, com regras mais rígidas, não foi acionado mesmo depois do furacão Beryl atingir uma das grid boxes. Na época, ministros do Caribe e ativistas ambientais pediram revisão dos termos, enquanto investidores alertaram que mexer no contrato só aumentaria os custos na próxima vez.

Desta vez, pelo menos, os termos do bond funcionaram como planejado.

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