Mercados

Investidores se apegam a lado bom do rebaixamento de rating

A agência reduziu a nota soberana brasileira, e essa foi talvez a primeira boa notícia que investidores que focam no Brasil escutaram nos últimos tempos


	Sede da Moody's: depois do corte, as perdas do real no dia recuaram, os contratos futuros do índice Ibovespa deram um salto e os títulos de dívida local avançaram
 (REUTERS/Brendan McDermid)

Sede da Moody's: depois do corte, as perdas do real no dia recuaram, os contratos futuros do índice Ibovespa deram um salto e os títulos de dívida local avançaram (REUTERS/Brendan McDermid)

DR

Da Redação

Publicado em 12 de agosto de 2015 às 16h52.

A agência de classificação de risco Moody’s Investors Service reduziu a nota soberana do Brasil para a beira do grau especulativo na última terça-feira - e essa foi talvez a primeira boa notícia que investidores que focam no país escutaram nos últimos tempos.

A decisão da agência de atribuir uma perspectiva estável à nota do Brasil, que agora tem o nível mais baixo do chamado grau de investimento, foi bem recebida por traders, que vinham prevendo, em sua maioria, que o corte viria acompanhado de perspectiva negativa.

Depois do anúncio, as perdas do real no dia recuaram, os contratos futuros do índice Ibovespa deram um salto e os títulos de dívida local avançaram.

Os ativos brasileiros tiveram fortes perdas nas últimas semanas devido à forte especulação de que o país estava se aproximando da classificação de grau especulativo após o governo ter reduzido a meta fiscal em meio à pior recessão do país em 25 anos e a uma crescente crise política.

Embora a Moody’s ter afirmado que os níveis de dívida continuarão subindo para cerca de 70 por cento do produto interno bruto até o fim do mandato da presidente Dilma Rousseff, uma taxa de câmbio flutuante e a grande quantidade de reservas que o país têm indicam que o corte na nota para abaixo do grau de investimento não é iminente.

“O balanço externo é do Brasil gerenciável e a maior parte do déficit é equilibrada pelo investimento estrangeiro direto”, disse Mauro Leos, analista da Moody’s para dívidas soberanas do Brasil, de Nova York.

“Para cada dólar que o Brasil tem de pagar, há quatro dólares em reservas. No caso da Turquia, por exemplo, o país tem 90 centavos para cada dólar em dívida. É uma grande diferença”.

A Moody’s atualmente classifica o Brasil em linha com a Turquia e a Índia e no mesmo nível da Standard Poor’s, que rebaixou o país em março de 2014 e reduziu sua perspectiva para negativa no mês passado.

A Fitch Ratings classifica o país um degrau acima, em BBB, também com uma perspectiva negativa.

Conseguindo tempo

A perspectiva estável da Moody’s indica que o Brasil terminará o ano com seu status de grau de investimento preservado, segundo Pablo Spyer, diretor da unidade Brasil da Mirae Asset Financial Group, em São Paulo.

“O Brasil conseguiu ganhar algum tempo”, disse Spyer. “A reação é positiva e não poderia ser diferente”.

O corte da Moody’s foi o segundo rebaixamento do Brasil em menos de 18 meses e o segundo a ocorrer sob a supervisão de Dilma.

Sua equipe econômica, liderada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, prometeu reverter o déficit primário do ano passado cortando despesas e elevando os impostos.

A economia do Brasil, que caminha para sua pior retração em 25 anos, complicou seus esforços.

O real teve o pior desempenho entre as principais moedas neste ano, tendo desvalorizado 24 por cento em relação do dólar desde o fim de dezembro.

Tendências fiscais

“O desempenho econômico mais fraco que o esperado, a tendência ascendente relacionada a despesas do governo e a falta de consenso político em relação às reformas fiscais impedirão que as autoridades atinjam um superávit primário alto o suficiente para conter e reverter a tendência crescente da dívida deste ano e do próximo”, disse a Moody’s em um comunicado, na terça-feira.

A maior economia da América Latina está prestes a encolher 1,5 por cento neste ano, o que a coloca a caminho de sua recessão mais profunda desde 1990, segundo a média das estimativas de 31 economistas compiladas pela Bloomberg. Mesmo com o crescimento estagnado, a inflação acima da meta continua acelerando, corroendo os salários e empurrando o índice de aprovação de Dilma a baixas recordes.

Em uma pesquisa realizada nos dias 4 e 5 de agosto pelo Datafolha, 66 por cento dos consultados disseram que o Congresso deveria abrir um processo de impeachment.

A taxa de aprovação de Dilma atingiu a mínima recorde de 8 por cento na pesquisa e 71 por cento dos consultados disseram que sua presidência tem sido ruim ou terrível.

A Moody’s estima que a economia do Brasil começará a crescer no segundo semestre de 2016, disse Leos.

Mas por enquanto os investidores estão já parecem satisfeitos o suficiente com o fato de que o país provavelmente não terá sua nota reduzida para o grau especulativo tão cedo.

“A Moody’s está, no momento, dando o benefício da dúvida”, disse Zeina Latif, economista-chefe da corretora XP Investimentos em São Paulo.

Acompanhe tudo sobre:América LatinaDados de Brasileconomia-brasileiraInvestimentos de empresasMoody's

Mais de Mercados

Ibovespa sobe puxado por Petrobras após anúncio de dividendos

Escândalo de suborno nos EUA custa R$ 116 bilhões ao conglomerado Adani

Dividendos bilionários da Petrobras, pacote fiscal e cenário externo: assuntos que movem o mercado

Ação da Netflix tem potencial de subir até 13% com eventos ao vivo, diz BofA