Investidores começam a semana de olho em novas recomendações para a carteira diante de fatos como a eleição de Biden e a proximidade de uma vacina para a covid-19 (Cris Faga/NurPhoto/Getty Images)
Bloomberg
Publicado em 9 de fevereiro de 2022 às 11h54.
Última atualização em 9 de fevereiro de 2022 às 12h07.
Por Anchalee Worrachate, Bloomberg
O investimento conhecido como carry trade voltou com tudo na América Latina, onde os bancos centrais se destacam pela agressividade na luta contra a inflação.
O salto nos juros em toda a região — inclusive no Brasil, Chile e México — contrasta com o que ocorre nos EUA e na Europa, onde as autoridades ainda mantêm as referências para o custo dos empréstimos perto de zero, embora estejam perto de elevar as taxas básicas de juro. A atual desconexão proporciona ganhos generosos para a tática de tomar empréstimo nos EUA e na Europa e aplicar o dinheiro em países onde os rendimentos dos títulos de dívida são significativamente maiores.
O carry trade entre EUA e Brasil — ou seja, a estratégia de contrair empréstimo em dólar para comprar reais — gerou retorno aproximado de 8% no mês passado, quando a moeda brasileira foi a de melhor desempenho entre todas as divisas de países emergentes, segundo dados compilados pela Bloomberg. Um índice mais amplo que acompanha operações de carry trade na América Latina teve retorno de 4% em janeiro, embalado por ganhos cambiais no Peru, Chile e Colômbia.
Outro índice, que inclui investimentos na África do Sul e na Rússia, também acumula ganhos neste ano.
Andreas Koenig, responsável global pela área de câmbio da Amundi, a maior gestora de ativos da Europa, acha que o carry trade continuará compensando por causa da recuperação do crescimento econômico global após a pandemia e da baixa volatilidade do mercado cambial.
“Várias moedas de mercados emergentes podem ter ótimo desempenho nesse contexto”, disse o profissional da Amundi em Londres. “Quando se trata de carry trade, é preciso olhar para países com diferenciais de juros atraentes. Meus candidatos favoritos são Brasil, Rússia, México, África do Sul, Chile e Colômbia.”
O Goldman Sachs Group também aposta no carry trade e recomenda a compra de pesos chilenos e mexicanos com empréstimos financiados em euros e dólares australianos.
No entanto, a tática implica riscos significativos porque deixa os investidores expostos a potenciais reversões nos mercados de câmbio.
Essa possibilidade parece particularmente visível agora: os rendimentos dos títulos de dívida da Europa e dos EUA estão subindo enquanto o Federal Reserve retira estímulos implementados para apoiar a economia americana durante a pandemia e o Banco Central Europeu se prepara para apertar a política monetária. A alta dos rendimentos pode tirar dinheiro dos mercados emergentes, o que pode depreciar suas moedas e colocar em perigo os ganhos obtidos no carry trade.
O que pode compensar isso é o fato de os bancos centrais de países emergentes estarem à frente do Fed e do BCE, que ainda não elevaram juros. Na América Latina, palco de dolorosos episódios de hiperinflação, os bancos centrais estão agindo agressivamente desde o ano passado e aumentando os juros, o que prejudicou o crescimento econômico e empurrou o México e o Brasil para a recessão.
Paralelamente, juros maiores fortaleceram as moedas de muitas nações latino-americanas. As autoridades podem comemorar isso — e impedir que suas moedas se depreciem — porque moedas mais valorizadas ajudam a conter a inflação ao limitar o avanço dos preços dos produtos importados.