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Investidor da Celpa perde com aposta em socorro do governo

A recuperação judicial da empresa é um sinal de que pode não haver socorro do governo Dilma

A Celpa busca alívio de seus credores depois que suas dívidas cresceram e as tarifas de energia congeladas afetaram seus lucros (Divulgação)

A Celpa busca alívio de seus credores depois que suas dívidas cresceram e as tarifas de energia congeladas afetaram seus lucros (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 1 de março de 2012 às 09h28.

Nova York - O pedido de recuperação judicial da Centrais Elétricas do Para SA é um sinal para investidores do mercado de crédito de que não podem contar com o governo da presidente Dilma Rousseff para socorrer todas as empresas com participação estatal.

Os títulos da Celpa denominados em dólar com vencimento em 2016 chegaram a cair de 104,25 por cento do valor de face para 50 por cento, de acordo com o Trace, sistema de informação de preços de títulos da Autoridade Reguladora da Indústria Financeira. A queda veio depois que a companhia surpreendeu o mercado com o anúncio em 28 de fevereiro que entraria com pedido de recuperação judicial, o que representa um calote nos pagamentos. Os bônus perpétuos vendidos pela Rede Energia SA, controladora da Celpa, caíram para a mínima histórica de 57,63 por cento do valor de face.

Investidores que apostaram que a Celpa pudesse ser socorrida pela estatal Centrais Elétricas Brasileiras SA estão acumulando perdas há três meses depois que o governo ofereceu amparo à Lupatech SA, ajudando a evitar o calote da empresa de serviços ao setor de petróleo. A Celpa, maior distribuidora de energia da região amazônica, busca alívio de seus credores depois que suas dívidas cresceram e as tarifas de energia congeladas afetaram seus lucros.

“Você não deve comprar um título somente porque acredita em um potencial apoio do governo”, disse Alexandre Muller, chefe de pesquisa de crédito corporativo do Banco BTG Pactual SA em São Paulo, em entrevista por telefone. “Celpa e Lupatech são o tipo de caso em que lida-se com empresas ruins em setores diferentes, mas há muitos compradores por conta de potencial implícito de apoio do governo.”

‘Percepção de patrocínio’

Os US$ 250 milhões em bônus da Celpa com vencimento em 2016 deram retorno de 4,25 por cento entre a oferta dos papéis em maio até 27 de fevereiro, em parte devido a especulações de que o governo apoiaria a empresa. Ainda em setembro, o Barclays Plc colocou os bônus em sua lista de favoritos na América Latina. Em novembro, o banco britânico disse em relatório que a Celpa se beneficiava de uma “percepção de patrocínio” por empresas estatais. Juan Cruz, analista do Barclays que escreveu o relatório de recomendação da Celpa, não quis fazer comentários para esta reportagem.

Os títulos da Rede Energia yield 1.477 pontos-base, ou 14,77 pontos percentuais, a mais do que os títulos do governo brasileiro com vencimento em 2041, de acordo com dados compilados pela Bloomberg e pelo Trace.

A Rede Energia controla direta ou indiretamente cerca de 66 por cento da Celpa, enquanto a Eletrobras detém o restante, de acordo com dados da Bloomberg. A Rede Energia é controlada por Jorge Queiroz de Moraes Jr., que preside o Conselho de Administração. Um braço do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço e a BNDES Participações SA também são acionistas da Rede Energia.

‘Investidor precisará ajustar’

A assessoria de imprensa da Eletrobras disse que a companhia não faria comentários até uma decisão da Rede Energia sobre a Celpa, de acordo com comunicado enviado por e-mail. Reportagem da Reuters publicada em 28 de fevereiro disse que a estatal sediada no Rio de Janeiro poderia socorrer a Rede Energia. O Palácio do Planalto e o BNDES se recusaram a fazer comentários para esta reportagem.


A assessoria de imprensa externa que atende a Celpa e a Rede Energia também não fez comentários.

“Ainda pode haver apoio do governo, mas existe uma diferença entre apoio operacional e apoio financeiro do governo”, disse Bevan Rosenbloom, analista de dívida corporativa do Citigroup Inc., em entrevista por telefone de Nova York. “A Eletrobras pode assumir controle de tudo. No entanto, isso ainda significa que deve haver uma renegociação e o investidor precisará ajustar o valor de face da dívida às realidades operacionais.”

Recuperação da Lupatech

Os bônus perpétuos da Lupatech avançaram 80 pontos após atingirem o menor patamar em registro de 36,5 por cento do valor de face em 23 de novembro, após o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social ter avisado que estava buscando “alternativas de mercado” para fortalecer as finanças da empresa. BNDES e Petros, o fundo de pensão dos funcionários da Petróleo Brasileiro SA, são respectivamente segundo e terceiro maiores acionistas da Lupatech. Em 29 de dezembro, BNDES e Petros aceitaram comprar um total de R$ 300 milhões em ações da Lupatech.

A assessoria de imprensa da Lupatech não quis fazer comentários.

‘Complicadas’

Marco Aurelio de Sá, diretor da Crédit Agricole Securities, disse que a decisão do governo de não apoiar a Celpa dificilmente levará investidores a vender títulos de empresas brasileiras percebidas como beneficiárias de apoio implícito do setor público.

“Não acho que essa história vá necessariamente afetar outros créditos”, disse Sá em entrevista por telefone de Miami. A Celpa e a Rede Energia “sempre foram complicadas”, disse ele.

A Rede Energia disse em dezembro que estava buscando um “parceiro estratégico” para comprar uma participação minoritária ou controladora na Celpa para diminuir a dívida.

A dívida da Celpa aumentou para R$ 1,96 bilhão no terceiro trimestre de 2011, comparado a R$ 1,57 bilhão um ano antes. Enquanto isso, a soma de caixa e equivalentes desabou de R$ 680,4 milhões para R$ 259,1 milhões no período.

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