Interior do prédio da Bovespa, a bolsa brasileira: Intervenção governamental e fraco crescimento brasileiro pesam (Divulgação/Facebook/BM&FBovespa)
Da Redação
Publicado em 5 de novembro de 2012 às 13h41.
São Paulo - A Bovespa teve saída líquida de recursos externos pelo segundo mês seguido em outubro, com analistas avaliando que a crescente intervenção do governo brasileiro na economia reduzia o apetite de investidores estrangeiros pela bolsa doméstica.
Em outubro, o saldo externo ficou negativo em 1,23 bilhão de reais, segundo os últimos dados disponíveis no site da BM&FBovespa. No mês passado, o principal índice acionário brasileiro acumulou queda de 3,6 por cento.
Dos dez meses de 2012, em sete a bolsa paulista reportou houve saída líquida de recursos de estrangeiros.
"Houve certa piora na percepção dos estrangeiros com relação ao Brasil e, por enquanto, não vejo um movimento de retorno desses investidores", disse o economista Rodrigo Melo, da Mauá Sekular.
"A questão do intervencionismo governamental não foi apagada da memória das pessoas e ainda existe a percepção de que há risco de novas medidas nos próximos meses", acrescentou.
Alvos de pressão do governo, os setores bancário e elétrico têm tido suas ações penalizadas por investidores nos últimos meses. Temores sobre possíveis novas medidas também respingavam em outros setores, como o da empresa de meio de pagamentos Cielo .
"Pelo menos no curto prazo as medidas (do governo) geram perda de rentabilidade para as empresas e trazem insegurança institucional", afirmou o economista Gustavo Mendonça, da Saga Capital. "Acho bem difícil um retorno de investidores estrangeiros no curto prazo." O fraco crescimento econômico brasileiro neste ano também ajuda a explicar a saída de investidores estrangeiros. Segundo o boletim Focus do Banco Central, divulgada nesta segunda-feira, analistas veem que a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano deve ser de apenas 1,54 por cento.
"A economia aqui não decolou como esperado e isso aumentou a incerteza sobre se existe ou não um ciclo sustentável de crescimento no Brasil", disse Mendonça.
No front externo, a persistente desaceleração da economia global, somada às indefinições na Europa, eleição presidencial e risco fiscal nos Estados Unidos e transição política na China, deixavam investidores mais cautelosos.
"Essa saída de estrangeiros tem muito a ver também com o que aconteceu nesses meses em termos de aversão a risco", disse o sócio da Órama Investimentos Álvaro Bandeira.
No acumulado do ano até outubro, o saldo de recursos externos estava negativo em 2,43 bilhões de reais.
O valor, no entanto, era distorcido pela forte saída de estrangeiros da bolsa paulista em 24 de setembro, quando foi realizada a oferta para compra das ações da Redecard pelo Itaú Unibanco.