Investidores preferem os títulos da australiana BHP porque a companhia está em um país com menos intervenção governamental (Robert Cianflone/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 19 de maio de 2011 às 14h44.
Rio de Janeiro - Os custos de captação da Vale SA estão no maior nível em oito meses em comparação aos da concorrente BHP Billiton Ltd. A alta reflete receios de que o governo pressione a Vale a fazer investimentos em negócios menos lucrativos.
Os títulos em dólar da mineradora brasileira com vencimento em 2020 rendiam na semana passada 126 pontos-base a mais do que papéis da BHP com vencimento similar, a maior diferença desde que a Vale fez a emissão dos títulos em setembro, segundo dados compilados pela Bloomberg. Essa diferença aumentou 29 pontos- base, ou 0,29 ponto percentual, desde o início do ano.
Investidores estão exigindo um prêmio maior para deter títulos da Vale depois que a decisão de destituir o diretor- presidente da mineradora, Roger Agnelli, mostrou que o governo está exercendo uma influência maior na administração da empresa.
A presidente Dilma Rousseff disse na semana passada que o Brasil precisa exportar mais produtos de valor agregado em vez de matérias-primas. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu durante seu governo que a Vale aumentasse os investimentos em siderurgia. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse a senadores este mês que participou de reuniões para discutir a saída de Agnelli.
“As indicações são de que definitivamente o governo do Brasil vai interferir mais”, disse Roy Yackuli, analista de crédito para América Latina do Bank of America Corp., em entrevista por telefone de Nova York. Investidores estão preferindo os títulos da australiana BHP porque a companhia sediada em Melbourne está em um país “onde se presume haver menos interferência do governo”.
Acionistas da Vale
O rendimento nos títulos da Vale subiu 78 pontos-base para 4,66 por cento desde 4 de novembro, comparado a uma alta de 41 pontos para o papel da BHP com mesmo prazo. A taxa média em títulos emitidos por empresas brasileiras avançou 23 pontos no mesmo período, de acordo com o JPMorgan Chase & Co.
Os títulos da Vale rendem 93 pontos-base a mais do que papéis similares do governo brasileiro, o maior prêmio desde 7 de dezembro, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Os acionistas controladores da Vale nomearam, no mês passado, o ex-dirigente da unidade de níquel da companhia, Murilo Ferreira, para substituir Agnelli, depois de meses de especulações de que Dilma pressionaria pela mudança. Ferreira assume a presidência executiva da Vale em 22 de maio.
“Acompanhei o processo de perto e falei com acionistas”, disse Mantega em audiência no Senado em Brasília em 3 de maio. “O governo tem uma participação e tem que ser levado em consideração”.
O governo brasileiro criticou a direção da Vale ao longo dos últimos dois anos por não investir mais na produção local de aço para gerar empregos e aumentar o superávit da balança comercial.
Risco político
A assessoria de imprensa da Vale disse que a empresa não comenta movimentos de mercado.
Os investidores “nem sempre sabem se a Vale está operando para maximizar o benefício aos acionistas e detentores de seus títulos ou executando uma orientação política”, disse Ernie Lalonde, vice-presidente sênior para mineração da agência de classificação de risco DBRS Ltd., de Toronto, em entrevista por telefone. “É um elemento subjacente da empresa e, sob a perspectiva da nota de crédito, aumenta o risco político”.
Fundos de pensão
Os três maiores fundos de pensão do País -- Previ, Funcef e Petros -- estão entre os fundos de aposentadoria de empresas estatais que juntos detêm 49 por cento na holding que controla a Vale, conhecida como Valepar. A BNDESPar, subsidiária do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, detém 11,5 por cento da Valepar e uma fatia de 6,7 por cento de ações com direito a voto na companhia.
Entre os outros grandes acionistas da Valepar estão a Bradespar SA, holding do Banco Bradesco SA, e a Mitsui & Co. São necessários 75 por cento dos votos da Valepar para trocar a presidência.
O governo também detém 12 chamadas golden shares na Vale, conferindo-lhe poder de veto em decisões como, por exemplo, a localização da sede. As golden shares resultaram da privatização da Vale, em 1997. A companhia foi fundada pelo presidente Getulio Vargas em 1942 para abastecer a Cia. Siderúrgica Nacional SA, dentro do esforço para industrializar o País.