Inflação dos EUA: impacto das tarifas podem ser sentido em partes nos dados de junho do CPI (Brendan Mcdermid/Reuters)
Repórter de finanças
Publicado em 15 de julho de 2025 às 15h37.
Última atualização em 15 de julho de 2025 às 16h27.
Os dados de inflação dos Estados Unidos, medidos pelo Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês), indicam sinais iniciais do impacto das tarifas impostas por Donald Trump em abril — especialmente no comportamento dos preços de bens — e podem levar o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) a adotar uma postura mais cautelosa nas próximas decisões de política monetária, segundo Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.
“O qualitativo ligeiramente pior mantém a postura cautelosa do banco central americano”, afirma Sung. Na visão do economista, parte desses efeitos já começa a aparecer nos dados de junho, e a tendência é de que o impacto se intensifique nos próximos trimestres. "Os impactos dessa política comercial [de Trump] devem ser sentidos com mais força nos próximos meses."
Para André Valério, economista sênior do Inter, no entanto, os efeitos diretos das tarifas ainda não são plenamente observáveis nos preços ao consumidor. “Nota-se uma reinflação de bens que pode ser o início de um repasse tarifário”, afirma. Ele destaca que, embora o dado traga elementos novos, o cenário ainda é uma continuidade do que já vinha sendo visto. “É um pouco mais do mesmo, porém dificulta a decisão do Fed e praticamente elimina a possibilidade de um corte na próxima reunião do dia 30.”
O CPI subiu 0,3% em junho frente a maio, quando havia avançado 0,1%, em linha com as expectativas. No acumulado de 12 meses, passou de 2,4% para 2,7%. Já o núcleo da inflação, que exclui alimentos e energia, subiu 0,2% no mês (ante 0,1% em maio) e foi de 2,8% para 2,9% na base anual — ainda acima da meta de 2% do Fed.
Tarifas de Trump poderiam derrubar ações da Embraer (EMBR3) em 30%, diz JPMorganUm dos pontos que mais chamaram a atenção foi o avanço da inflação de bens duráveis, que voltou a subir após deflação em maio, com altas de 0,1% na comparação mensal e 0,6% na anual. O aumento foi puxado, principalmente, por categorias como utensílios domésticos, bens de consumo discricionário e vestuário — segmentos com alta presença de itens importados. Em contrapartida, veículos e autopeças continuam em deflação, o que pode refletir a formação de estoques antes da entrada em vigor das tarifas.
Além disso, o índice de moradia teve alta de 0,2% e foi o principal responsável pela elevação geral no mês. Os preços dos aluguéis, medidos pelo OER, subiram 0,3%, mantendo estabilidade na variação anual. Também se destacaram as médias móveis de três meses, ajustadas sazonalmente e anualizadas, que voltaram a acelerar tanto no índice cheio quanto no núcleo da inflação. O chamado “supercore” — indicador-chave para o Fed — avançou 0,21% no mês e retornou ao patamar de 3% em 12 meses.
Diante desse cenário, Sung avalia que o Fed terá menos espaço para cortar juros no curto prazo. “Acreditamos que a inflação pesará mais no balanço de riscos do que a desaceleração da atividade econômica. Passado o choque das tarifas, esperamos o primeiro corte na taxa de juros no final de 2025.”
Valério também projeta que os juros devem se manter inalterados na reunião deste mês.
Para ele, a retomada do ciclo de cortes continua tendo o desfecho mais provável para o encontro de setembro, desde que não haja sinais de repasse inflacionário das tarifas recém-implementadas ou uma deterioração expressiva no mercado de trabalho nas próximas duas divulgações.
Nesse contexto, caso o mercado de trabalho apresente sinais mais evidentes de enfraquecimento — como desaceleração na geração de empregos, aumento do desemprego ou queda nos salários reais —, o Fed poderá ter maior margem para acelerar o ritmo de cortes nos juros ao longo do ano.