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Inflação liga alerta, mas alta de juros pode depender mais de risco fiscal

Com temores sobre condução dos gastos governamentais, juros futuros chegam a subir 30% em dois meses

Roberto Campos Neto: presidente do Banco Central (Andre Coelho/Bloomberg)

Roberto Campos Neto: presidente do Banco Central (Andre Coelho/Bloomberg)

GG

Guilherme Guilherme

Publicado em 9 de outubro de 2020 às 16h51.

Última atualização em 9 de outubro de 2020 às 17h32.

O mercado financeiro voltou a ser surpreendido por dados de inflação nesta sexta-feira, 9. Divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de setembro ficou em 0,64% ante a expectativa de 0,51% Esta foi a maior alta da inflação para um mês de setembro deste de 2003 e a quarta vez consecutiva que o índice mensal ficou acima do esperado.

Mas ainda que o controle da inflação seja uma das principais funções do Banco Central, o mercado acredita que o aumento dos preços deve ter menos efeito sobre a possibilidade de elevação da taxa de juro do que o risco fiscal.

“Essa inflação é pontual, basicamente puxada por alimentos. O real desvalorizado estimula a exportação. Então muito desses produtos são mandados para fora do país, enquanto a demanda interna é impulsionada pelo auxílio emergencial”, afirma Bruno Musa, sócio da Aqcua Investimentos.

Com a diminuição do auxílio emergencial para 300 reais a partir de outubro, Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova Futura, acredita que existe a possibilidade de a pressão inflacionária reduzir nos últimos meses do ano. “Vamos ver como a economia reage ao auxílio de 300 reais. Isso deve ter um poderoso efeito de redução de demanda. Acho que vale a pena esperar. Até por isso o Banco Central está mais cauteloso. Não adianta subir a taxa de juro e daqui a pouco ter um efeito contracionista”, diz.

Em sua última ata do Comitê de Política Monetária (Copom), o próprio Banco Central sinalizou que a inflação não é o maior dos problemas e, ainda em meados de setembro, sinalizou que ela poderia se elevar no curto prazo.

Por outro lado, o risco fiscal, com o aumento dos gastos do governo para atenuar os efeitos da pandemia, receberam atenção especial. “Políticas fiscais de resposta à pandemia que piorem a trajetória fiscal do país de forma prolongada, ou frustrações em relação à continuidade das reformas, podem elevar os prêmios de risco”, informa a ata.

Recentemente, tentativas do governo em implementar programa sociais e atritos entre Executivo e Legislativo elevaram a percepção de risco fiscal no mercado, levando a elevação da taxa de juro futura de prazo mais longo. Desde o último corte da Selic, no início de agosto, os juros futuros com vencimento em janeiro de 2023 subiram 30%, de 3,62% para 4,7%. Já a expectativa de juros para julho de 2025 foi de 5,55 para quase 7%, enquanto as taxas com vencimento em janeiro de 2030 passaram de 7% para mais de 8%.

“Esse risco fiscal já está fazendo pressão sobre os juros longos, com forte aceleração nos últimos meses. O déficit público tem crescido muito. Esse choque [da pandemia] causou uma enorme queda das receitas governamentais e aumentou os gastos. Agora o governo precisa estabilizar o déficit lá na frente e para isso as reformas serão cruciais”, pontua Silveira.

“A elevação da curva de juros longa é o espelho do receio que o mercado tem frente à necessidade de o governo rolar a dívida. Você só empresta dinheiro se consegue ver que há condições de ser pago. Quanto maior a dúvida, maior é o prêmio de risco exigido”, explica Musa.

Com a possível deterioração da situação fiscal do governo, uma possível alta da taxa Selic poderia acarretar uma série de impactos no mercado financeiro. O primeiro impacto seria o aumento da rentabilidade dos títulos públicos atrelados à Selic. Consequentemente, os maiores retornos da renda fixa tenderiam a reduzir a demanda por renda variável e, assim, derrubar os preços das ações.

Em teoria, os maiores retornos dos títulos do governo poderiam aumentar sua busca por investidores internacionais, e assim valorizar o real. Mas, caso o motivo da alta de juros fosse a piora da questão fiscal brasileira, Silveira vê a possibilidade de o efeito ser o oposto. “Em um primeiro momento haveria a desvalorização do real, pois os agentes externos entenderiam o aumento da taxa de juro como aumento do risco.”

Mas, enquanto os efeitos de uma alta da Selic ficam só na teoria, na prática, a abertura das curvas longas já produzem efeitos sobre títulos públicos prefixados. Isso porque, devido à marcação a mercado, eles desvalorizam conforme os investidores apostam que os juros vão ser maiores no futuro.

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