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Indústria e bancos: os setores dos EUA que devem se beneficiar com Trump, segundo a Avenue

Vitória do republicano é sinal positivo para bolsa americana e para Brasil “não é o fim do mundo”, diz William Castro Alves, sócio da corretora

Eleições dos EUA: protecionismo de Trump deve favorecer empresas de setores mais regulados

Eleições dos EUA: protecionismo de Trump deve favorecer empresas de setores mais regulados

Rebecca Crepaldi
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 6 de novembro de 2024 às 13h12.

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Apesar da disputa acirrada, a vitória de Donald Trump não pegou o mercado de surpresa. Há semanas os investidores já precificavam a eleição do republicano e se posicionavam no chamado ‘Trump Trade’, estratégia para se beneficiar dos efeitos inflacionários que o mercado prevê com o político. E hoje, foi possível ver na prática: as bolsas de Nova York disparam, com o Dow Jones subindo mais de 3%.

Entre os setores que devem se beneficiar com Trump, Willian Castro, gestor e sócio da Avenue, aponta bancos, indústria e até saúde. Segundo o especialista, o desejo de um maior protecionismo do republicano, com menos impostos, além de menos intervenção do Estado na economia, favorecem setores mais regulados - fato que sua opositora, a democrata Kamala Harris, defendia ao contrário.

Em contrapartida, os países emergentes podem sofrer em um primeiro momento. “Essa ideia de ‘Make America great again’ do Trump, é para os americanos, não para o mundo. Porque o intuito é fomentar a economia e indústria americana em detrimento, eventualmente - e essa é a primeira interpretação do mercado - de países emergentes.”

E os efeitos também puderam ser sentidos por aqui, com o Ibovespa recuando mais de 1% na abertura, o dólar turismo chegando a R$ 6,08 na máxima do dia e o dólar comercial subindo 0,6% ligeiramente a R$ 5,781 por volta das 10h30. Entretanto, o pessimismo dos primeiros momentos já passou e o dólar comercial, inclusive, passou a cair.

“O Trump já foi presidente e não foi o fim do mundo para o Brasil. O que eu tenho falado muito é, o que vai determinar o dólar, é mais a questão local do Brasil”, afirma Castro.

Confira a entrevista completa.

EXAME: Quais foram as principais reações do mercado com a vitória do Trump?

Willian Castro: Os juros futuros, especialmente os mais longos, já vinham subindo, por conta da interpretação de que o Trump representa um certo risco para a questão fiscal americana, à medida que ele quer cortar impostos, porque tende a elevar o déficit americano.

É verdade também que ele defende corte de gastos, especialmente de alguns benefícios, mas ele não falou isso em campanha. Até porque não é algo que seja eleitoral, ninguém se elege falando “Se você me eleger, eu vou cortar seu benefício”. Então em um primeiro momento, os juros sobem, porque tem essa percepção que corte de imposto diminui a arrecadação e piora o fiscal.

Ele também fala muito sobre imposição de tarifas. Isso, para diversos produtos de cadeia, principalmente os chineses, encarece e tende a elevar a inflação. E os preços não precisam nem subir. Antes disso tem a expectativa inflacionária. Os agentes, já imaginando que vai ter inflação, elevam os preços de seus produtos.

Juros altos favorecem o dólar. O que podemos esperar para o real?

Se os juros abrem, os yields americanos ficam mais interessantes, e aquele diferencial de juros com países emergentes diminui, porque os juros americanos ficam mais altos, visto o retorno que um investidor pode ter com os títulos americanos.

Junto a isso, essas medidas de protecionismo podem afetar um ou outro país. Nas moedas que estão mais sofrendo, está o peso mexicano. Seja pela imposição de tarifas, seja pela forte integração de cadeia de suprimentos entre México e EUA. A moeda chinesa poderia sofrer, dado que a imposição de tarifa seria muito ruim para a China, mas lá o câmbio é controlado.

O real acaba entrando na esteira de moedas emergentes que sofrem. Essa ideia de “Make America great again”, é para os americanos, não para o mundo. Porque a ideia é fomentar a economia e indústria americana em detrimento, eventualmente - e essa é a primeira interpretação do mercado - de países emergentes.

Podemos ver um movimento de retirada de dinheiro do Brasil?

Sou sempre reticente em acreditar que esses movimentos de curto prazo necessariamente vão ditar os próximos meses ou até o rumo dos próximos quatro anos. O mercado é muito rápido em antecipar isso e acaba exagerando. O Trump já foi presidente e não foi o fim do mundo para o Brasil.

O que eu tenho falado muito é que o que vai determinar o dólar é mais a questão local do Brasil. Se você voltar para o começo de 2024, o dólar descola do real a partir de 15 abril, quando o governo promulgou a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). A partir dali o dólar começou a saltar. Na sequência, teve várias outras declarações do presidente Lula que não ajudaram e o dólar bateu R$ 5,6 sem Trump na época.

Essa reação de curto prazo, é normal. Mas o que vai determinar o câmbio tem muito mais a ver com o Brasil. Poderíamos ver o dólar caindo se tivesse um ajuste fiscal, se esse pacote de corte de gastos fosse relevante, fidedigno, e o mercado passasse acreditar que o governo tem um compromisso fiscal.

Quais setores podem se beneficiar mais nos Estados Unidos, pensando em bolsa?

No geral, as bolsas americanas já vinham performando bem, na esteira do Trump Trade, justamente por essa percepção de menos intervenção na economia, defendida pelos republicanos e por Trump muito mais.

Ele até fala que para cada nova regra que as agências reguladoras criam, outras duas deveriam ser tiradas. Então menos impostos e menos regulação acaba sendo melhor para o ambiente de negócio.

Setorialmente, os bancos devem performar bem, porque é um setor essencialmente regulado. O oposto, a Kamala, teve um papel forte na regulação bancária em 2018 na Califórnia. Na época, ela bateu muito nos bancos. Então a percepção é que com Trump será o inverso.

Bitcoin também deve ir bem. Trump mudou sua percepção de cripto. Nos anos passados, tivemos um caça às bruxas no setor de cripto, fraudes, empresas fechando, e agora pode-se criar um ambiente mais favorável.

O setor industrial, obviamente, é beneficiado com a mesma ideia de “Make America great again”. O setor de saúde também, que tem muita regulação. Mas aqui tem uma interpretação dúbia que há quem possa ser prejudicado Mas, por outro lado, pode ter outras empresas que podem se beneficiar com menos regulação. A Kamala falava em controlar preço de medicamento, o que não é o norte de campanha do Trump.

Para big techs, a Kamala também tinha uma questão de controle de informação e fiscalização em cima desse monopólio. Já o Trump não fala isso. Por outro lado, vimos algumas empresas de tech fazendo doações bastante relevantes para Kamala. Então vamos ver até que ponto ele pode pesar a mão. Agora, já vemos Tesla subindo 13%, muito por conta do apoio do Elon Musk.

E sobre empresas brasileiras, elas podem ser prejudicadas?

Em relação às tarifas para emergentes, que poderiam ser ruins, eu falo: Os EUA são muito importantes para o Brasil, mas o Brasil é pouco importante para os EUA.

O lado bom é que o Brasil não está na lista de prioridades de “combate” do Trump. Os produtos brasileiros não são o principal foco de ataque de qualquer tarifa.

O inimigo comum é a China, com a transferência de tecnologia, chips, a dependência com China no geral traz essa ideia de tirar produção dela e levar para outros lugares. Outros países, como Taiwan, Israel, Rússia, tudo isso está, ao meu ver, muito à frente do Brasil.

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