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Incerteza sobre Previdência faz real ser "vice" mundial em perda de valor

Moeda brasileira só não teve desempenho pior que o peso da Argentina, país que passa por forte recessão desde o início do ano passado

Incertezas em torno da reforma da Previdência fizeram o real ser a segunda moeda que mais perdeu valor em todo o mundo (Andrew Harrer/Bloomberg)

Incertezas em torno da reforma da Previdência fizeram o real ser a segunda moeda que mais perdeu valor em todo o mundo (Andrew Harrer/Bloomberg)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 1 de abril de 2019 às 11h59.

Última atualização em 1 de abril de 2019 às 12h00.

Brasília - As incertezas em torno do andamento da reforma da Previdência no Congresso Nacional fizeram o real ser a segunda moeda que mais perdeu valor em todo o mundo, em março. A divisa brasileira só não teve desempenho pior que o peso da Argentina, país que passa por forte recessão desde o início do ano passado.

Em um total de 47 moedas negociadas globalmente, o real teve o segundo pior desempenho ante o dólar americano em março no mercado spot (à vista) internacional. Dados do Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) mostram que o dólar subiu 4,84% ante o real em março, considerando cotações da última sexta-feira, 29.

O porcentual de valorização da moeda americana ante a brasileira ficou acima do verificado na comparação com outras divisas de países da América Latina, com exceção da Argentina. O dólar americano subiu 10,62% ante o peso.

O avanço quase generalizado do dólar em março está ligado ao aumento da percepção de que a recuperação da economia global perdeu ritmo. O problema de crescimento é algo que atinge os Estados Unidos, mas também outros países.

"O Fed (Federal Reserve, o banco central americano) vem reduzindo sistematicamente sua projeção de alta de juros e isso deveria ajudar a derrubar o dólar", diz José Faria Júnior, diretor da consultoria Wagner Investimentos. "Mas os outros países também estão com problemas de crescimento e, por isso, continuarão no processo de manutenção de suas taxas de juros", afirma.

Estresse

No caso do Brasil, o movimento de alta do dólar foi intensificado pelo cenário político. Os desencontros entre o presidente Jair Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), acenderam o sinal de alerta do mercado financeiro. A avaliação geral foi a de que, sem um entendimento entre os dois, aumentaram os riscos de a reforma da Previdência não passar ou, pelo menos, não ter uma tramitação tão rápida.

"A briga do Congresso sobre a Previdência foi feia", diz o economista Alexandre Cabral, professor do Ibmec-SP. Segundo ele, ela trouxe impulso adicional de alta para o dólar ante o real. "O mercado de câmbio vai ser muito volátil, até a aprovação da reforma."

O auge do estresse em março ocorreu na quarta-feira, quando o dólar atingiu R$ 3,99. Cotações assim haviam sido vistas apenas antes da eleição presidencial do ano passado.

Em meio à pressão, o Banco Central entrou nos negócios na quinta-feira e ofertou US$ 1 bilhão por meio de leilão de linha - uma operação que corresponde à venda de dólares ao mercado com compromisso de recompra no futuro. A atuação ajudou a reduzir a pressão.

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