Câmbio: alta do real foi motivada por expectativas, até agora; após o impeachment, investimentos podem ser destravados no país (Thinkstock/Ingram Publishing)
Da Redação
Publicado em 22 de agosto de 2016 às 14h02.
A conclusão do impeachment, que entra nesta semana em sua reta final, pode destravar o fluxo de capitais para o Brasil, que continua negativo apesar de o real liderar a alta este ano entre as moedas emergentes.
Essa é a expectativa de analistas de mercado, que não descartam o câmbio buscar R$ 3,00 ou menos no cenário mais otimista.
Por ora, a queda do dólar, de quase 20% desde janeiro, se explica mais pelas expectativas positivas do que por uma melhora efetiva de fundamentos.
“O real vem se apreciando mais do que outras moedas. É curioso que isso esteja ocorrendo sem fluxo”, diz Luis Afonso Fernandes Lima, economista da Mapfre Investimentos que também preside a Sobeet, Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica.
“Diante do fluxo previsto para setembro e outubro, há potencial de apreciação do real no curto prazo.” O dólar pode ir a R$ 3,00 ou abaixo no curto prazo, diz Lima.
“No médio prazo, não faz sentido, pois pode afetar o balanço de pagamentos. O país precisa de um câmbio que favoreça as exportações”.
Para o economista, enquanto as intervenções do BC no câmbio devem mirar a volatilidade, e não o preço do dólar, a aprovação das reformas e a normalização dos juros americanos podem fazer a diferença para o mercado.
Apesar de a maioria dos analistas considerar remotas as chances de Dilma sobreviver à votação do impeachment, só após o afastamento definitivo o governo Temer terá força para avançar nas reformas fiscais, fundamentais para consolidar o otimismo dos investidores.
A queda do dólar vista até agora, assim, seria resultado de apostas de que estas reformas passarão, mas o grosso dos investimentos só viria para o país quando esse otimismo começar a se concretizar.
Logo após o impeachment, no curtíssimo prazo, devemos ver um aumento do fluxo de investimentos para o Brasil, diz Rogerio Storelli, gestor da GGR Investimentos. Depois, começa a articulação das votações de medidas fiscais, e o clima vai depender do andamento das reformas.
A alta liquidez no mercado externo, com juros negativos em países desenvolvidos, ajuda a embalar as apostas numa retomada do fluxo e na queda do dólar após o impeachment.
No entanto, essa janela dos juros externos baixos vai depender de como o Federal Reserve vai retomar a alta dos juros, o que se espera para o final do ano.
A princípio, o mais provável é uma alta discreta do juro americano, que pode não reverter o fortalecimento do real, diz Olavo Souza, operador da Mirae Asset Wealth Management no Brasil.
O fortalecimento do real reflete a expectativa do mercado de que o governo Temer vá se consolidar, aliada a um cenário de juros baixos no exterior, diz Alfredo Barbutti, economista da BGC Liquidez.
“Os bancos estão tomando dinheiro lá fora muito barato. As pessoas no mercado consideram que o dólar poderá cair abaixo de R$ 3,00 e o BC vai ter de elevar a oferta de swaps reversos”.
Com a queda do dólar, o BC deve continuar atuando no mercado com leilões de swaps até zerar o estoque deste instrumento, diz Lima, da Mapfre.
Mantido o ritmo atual dos leilões de 10.000 contratos, reduzido na semana em relação ao volume anterior de 15.000, o estoque atual de swaps com o BC, hoje em US$ 43,6 bilhões, deve terminar até o final do ano.
Embora o impeachment seja visto como divisor de águas, as eleições municipais de outubro também podem ajudar a adiar o início de reformas como a da Previdência, um tema politicamente sensível.
Nathan Blanche, sócio-diretor da Tendências Consultoria, adverte que, ao mesmo tempo em que o ajuste fiscal pós-impeachment poderia dar sustentação ao real, se o investidor sentir que as reformas não vão sair a pressão de alta do dólar voltará com força.
“A apreciação do real este ano foi baseada em expectativas. Se não houver ajuste fiscal, o dólar volta rapidamente para R$ 4,00”.