O governo japonês reclama que a alta do iene é "extremadamente especulativa" (Tang Chhin Sothy/AFP)
Da Redação
Publicado em 17 de março de 2011 às 13h30.
Tóquio - O governo japonês acusou os especuladores de apostar na alta do iene, que alcançou recordes históricos frente ao dólar em detrimento das empresas exportadoras japonesas, já duramente atingidas pelas consequências do terremoto e tsunami.
A moeda japonesa alcançou seu máximo histórico frente ao dólar desde a Segunda Guerra Mundial, sob o influxo da demanda em massa de ienes na noite de quarta-feira, em Nova York, e na manhã desta quinta nos mercados asiáticos.
Esta força da moeda japonesa pode parecer paradoxal em um país que sai às duras penas da recessão, devastado por um terremoto e tsunami, à sombra da ameaça nuclear.
Mas os operadores do mercado parecem apostar numa repatriação em massa dos fundos por parte das seguradoras japonesas para poder fazer frente aos enormes prêmios que deverão pagar aos atingidos pelos desastres.
O vice-ministro de Política Econômica e Orçamentária, Kaoru Yosano, assegurou que tudo não passada de "rumores sem fundamento", já que as seguradoras japonesas dispõem de liquidez suficiente e não têm necessidade de se desfazer de nenhum de seus ativos em divisas estrangeiras.
Mas esses argumentos não serviram para dissuadir os operadores de proceder a compras maciças de ienes com a esperança de revendê-los mais caros, já que, se as seguradoras vendem ativos no exterior e convertem em ienes o dinheiro obtido, a moeda japonesa se valorizará ainda mais.
Yosano denunciou movimentos "extremadamente especulativos" num momento em que o governo tenta tranquilizar as preocupações dos mercados quanto à situação da terceira economia mundial.
A busca febril de ienes ocasiona grandes perdas para as empresas exportadoras do Japão, já que obtém menos ienes ao converter em moeda nacional as somas faturadas no exterior. Para manter suas margens de lucros, devem aumentar seus preços, mas isso reduz a competitividade de seus produtos.
Vários operadores consideram, em compensação, que as autoridades japonesas se verão obrigadas a intervir para frear a valorização do iene, pois não podem permitir de modo algum que a situação das empresas nacionais, atingidas pela catástrofe de 11 de março, continuem se agravando.
O ministro das Finanças, Yoshihiko Noda, se negou a fazer qualquer tipo de comentário sobre essa possibilidade.
A atividade econômica do arquipélago está semiparalisada desde o terremoto e o tsunami do 11 de março. As empresas têm dificuldades de abastecimento e os transportes públicos funcionam com muitas perturbações em Tóquio.
O governo realizou em 15 de setembro passado operações de compras de dólares para reduzir a pressão já existente sobre o iene.
Com o apoio do Banco do Japão, leiloou 2,125 trilhões de ienes (18,5 bilhões de euros), um total recorde para uma única operação. O iene caiu num primeiro momento, mas rapidamente voltou a seus níveis de antes da intervenção.