Xi Jinping, em visita à França
Repórter
Publicado em 10 de maio de 2024 às 17h04.
Última atualização em 10 de maio de 2024 às 17h47.
O presidente da China, Xi Jinping, passou a semana em viagem oficial à Europa, com visitas a França, Hungria e Sérvia. Para a Gavekal Research, uma das maiores casas de análises de investimentos do mundo, a incursão chinesa evidencia as divergências internas sobre a relação do continente com a potência asiática.
"Com a Europa sujeita às pressões externas opostas tanto dos Estados Unidos, sua garantia de segurança, como da China, um mercado-chave, a política europeia em relação à China iria sempre apresentar algumas contradições. Mas a abordagem invertida demonstrada nas últimas semanas também reflete a própria dinâmica interna e conflituosa da Europa", diz em relatório Yamnei Xie, analista geopolítica da Gavekal Reserach.
A analista ressalta que a União Europeia vem adotando uma postura mais contrária à China, alegando que o apoio à Rússia estaria minando a segurança do continente e que sua política econômica estaria ameaçando a indústria europeia. "Mas os Estados-membros têm outras ideias. A coligação tripartite da Alemanha chegou ao poder em 2021 prometendo ser dura com a China. Desde então, Scholz regressou a uma posição de prioridade comercial, apoiando as multinacionais alemãs, que argumentam que o crescimento e a prosperidade da Alemanha dependem, em grande medida, do acesso da indústria alemã ao mercado da China."
Emmanuel Macron, diz Xie, também argumenta que os Estados Unidos não são um aliado favorável e que o protecionismo americano é tão prejudicial quanto o chinês. "Já o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, é firmemente pró-Pequim, perseguindo avidamente investimentos chineses e até convidando a polícia chinesa a operar na Hungria."
A União Europeia nomeará neste ano uma nova comissão. Mas, com expectativa de que a atual presidente Ursula von der Leyen se mantenha no cargo, Xie não espera que o bloco altere sua política em relação à China.
"O resultado provável serão tarifas ou a exclusão das empresas chinesas dos contratos públicos, sendo a Alemanha incapaz de reunir a “maioria qualificada” – 55% dos Estados-membros representando 65% da população da UE – necessária para bloquear as restrições. Até a Hungria poderá apoiar discretamente as barreiras comerciais, o que incentivará empresas chinesas a transferirem a produção para a Europa. Historicamente, a Hungria tem estado entre os seus destinos favorito", diz Xie.
A analista ainda pontua que, mesmo se houver mudança na Comissão, a União Europeia deverá seguir alinhada com Washington. "Para evitar que um 'choque da China' se espalhe pela Europa, Bruxelas provavelmente irá se juntar aos Estados Unidos na construção de novas barreiras protecionistas."